Caso Ana Caroline: Ato na Cinelândia pede Justiça após assassinato brutal de jovem lésbica
A morte de Ana Caroline Sousa Campêlo, de 21 anos, na cidade de Maranhãozinho (MA), está sendo tratada como um caso de lesbofobia
Após a morte brutal da jovem Ana Caroline Sousa Campêlo, de 21 anos, que aconteceu no dia 10 de dezembro, nove dias se passaram e o caso segue sem ao menos um suspeito. A jovem teve os olhos, a pele do rosto, as orelhas e o couro cabeludo arrancados, caracterizando assim como um crime de ódio, por seus requintes de crueldade. O crime está sendo tratado publicamente como um caso de lesbofobia - um ato de discriminação e ódio contra mulheres lésbicas.
Ana Caroline tinha acabado de se mudar para a cidade onde o crime aconteceu, em Maranhãozinho, no Maranhão, para morar com a namorada. Entretanto, no dia 10 de dezembro, um tio da jovem comunicou o desaparecimento da menina à Polícia Militar, após a família encontrar o celular e a bicicleta de Ana, que voltava do trabalho.
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Os policiais então iniciaram uma busca pelo paradeiro da jovem, com as informações de uma vizinha, que teria escutado o choro de uma mulher, na presença de um homem em uma moto. Ela afirmou ainda ter direcionado uma lanterna para a região onde ambos estavam, mas o motociclista colocou a mulher no veículo e seguiu em direção a uma estrada.
Após seguirem o trajeto indicado pela testemunha, os agentes encontraram o corpo de Ana Caroline, sem os olhos, a pele do rosto, as orelhas e o couro cabeludo.
O caso está sendo investigado. Entretanto, a principal linha da Polícia Civil, trabalha com a ideia de que possa ter sido um crime de ódio, devido aos requintes de crueldade usados pelo assassino. O crime está sendo tratado publicamente como um ato de lesbofobia, que tirou brutalmente a vida e os sonhos de Ana.
Apesar desta ser uma das principais linhas de investigação, o delegado-geral adjunto operacional do Maranhão, Lúcio Reis, afirmou que só será possível confirmar a motivação do crime, após a identificação de um suspeito.
De acordo com a Polícia Civil, equipes estão sendo mantidas próximo ao local do ataque, em Maranhãozinho, e as investigações foram intensificadas, na tentativa de identificar o suspeito de cometer o crime, e por consequência, as reais motivações para este.
Desde que o caso veio à tona, integrantes da comunidade LGBTQIA + e figuras políticas de diferentes partes do país, estão dando voz à história de Ana Caroline. Além disso, a “#JustiçaPorCarol”, ganhou força nas redes sociais.
“Morta, com a pele do rosto, os olhos, orelhas e couro cabeludo arrancados. É assim que a jovem Ana Caroline, 21 anos, lésbica, foi encontrada na cidade de Maranhãozinho (MA). Não há outro termo que descreva isso se não o lesbocídio: o assassinato de lésbicas por serem quem são.”, iniciou a deputada federal, Érika Hilton, em sua conta no X, antigo Twitter.
A deputada ainda continuou, evidenciando a realidade enfrentada por mulheres lésbicas no Brasil. “O lesbocídio é uma realidade no Brasil, tal qual o estup*o corretivo e a lesbofobia. Todos, crimes cruéis calcados no ódio às vítimas enquanto lésbicas e enquanto mulheres. A morte de Ana Caroline está sendo investigada pela Polícia Civil do Maranhão, ainda não há suspeitos, mas na quarta-feira foi realizada a oitiva de testemunhas. Enquanto isso, a família de Ana Caroline clama por justiça.”, escreveu.
Morta, com a pele do rosto, os olhos, orelhas e couro cabeludo arrancados.
— ERIKA HILTON (@ErikakHilton) December 15, 2023
É assim que a jovem Ana Caroline, 21 anos, lésbica, foi encontrada na cidade de Maranhãozinho (MA).
Não há outro termo que descreva isso se não o lesbocídio: o assassinato de lésbicas por serem quem são.… pic.twitter.com/BiW5udquLI
Em outra publicação, Érika disse ter solicitado ao Conselho Nacional de Direitos Humanos, que acompanhe as investigações da morte da jovem. “Em caso de grave violação dos direitos humanos, como os crimes de homotransfobia, equiparados pelo STF ao crime de racismo, é dever do Estado, seja o poder legislativo, o executivo ou o judiciário, se atentar para agir perante o caso.”, finalizou.
Solicitei hoje que o Conselho Nacional de Direitos Humanos acompanhe as investigações da Polícia Civil do Maranhão sobre o lesbocídio de Ana Caroline.
— ERIKA HILTON (@ErikakHilton) December 18, 2023
O acompanhamento é essencial, a crueldade evidencia o crime de ódio e devemos garantir que nossos órgãos de fiscalização e… pic.twitter.com/1oC0xnANs1
Ato na Cinelândia
Em resposta ao assassinato brutal de Ana Caroline, coletivos dos movimentos LGBTQIA+ e feminista, farão um ato na praça da Cinelândia, em frente à Câmara Municipal nesta terça-feira (19), às 18h.
No Instagram, a vereadora Mônica Tereza Benício (Psol) fez uma convocação para o ato, que tem como objetivo alcançar Justiça por Ana Caroline e sua família. “Vamos juntas gritar por #JustiçaPorCarol e exigir um futuro seguro e digno para todas as mulheres lésbicas, para que nunca mais aconteça e para que a morte de Carol Campelo não seja mais um episódio de impunidade nesse país.”, escreveu.
Para a idealizadora do projeto Documentadas (@documentadas), que registra a existência e o amor entre mulheres que amam mulheres, Fernanda Piccolo, de 26 anos, a notícia da morte de Ana teve um impacto doloroso em sua rotina. "Soube do que aconteceu com a Ana Caroline na semana passada e foi impossível não ficar muito mal, não sentir o corpo atravessado por uma violência tão brutal. Ana é de uma cidade muito pequena e quem vive nessas cidades costuma manter o pensamento de que nada chega lá ou de que o que acontece lá dificilmente chega nas cidades grandes... ainda mais quando tratamos de locais periféricos, longes das metrópoles (como é o caso de Maranhãozinho). Ela era uma mulher negra, que não performava feminilidade e nela reconheço diversas amigas, diversas pessoas que possuem o direito de viver - e de morrer de morte morrida, sabe? Trabalhar, amar, se divertir, aproveitar a vida e então, descansar. Não ser torturada.", disse.
Por esse motivo, ela decidiu comparecer à manifestação que acontece nesta terça-feira, com o desejo de que um dia, o que aconteceu com Ana Caroline não se repita com mulher nenhuma.
"O ato de hoje é primeiramente para exigir justiça pelo o que aconteceu com a Ana, precisamos encontrar quem fez isso, o crime não pode ficar impune. E, para além, agir com políticas públicas que protejam as mulheres lésbicas e bissexuais. O que aconteceu foi uma violência muito específica, não foi só homofobia, foi lesbocídio, ir ao ato é movimentar-se para que as coisas sejam diferentes.", finalizou.
Sob supervisão de Marcela Freitas