Após desocupar área, comerciantes da Feira de Petrópolis, em Niterói, falam sobre os novos desafios
Imóvel foi completamente desocupado em agosto deste ano e lojistas se espalharam por Niterói
Quem transitava pelas dependências do Terminal João Goulart e das Barcas costumava se deparar com um cenário de muito movimento: pessoas saindo da Feirinha de Petrópolis, outras entrando, enquanto um locutor com microfone convidava os pedestres a conferirem às promoções da feira. No entanto, desde julho deste ano, a situação é diferente: onde antes ficava um centro de lojas, hoje, há uma placa escrita “Sua loja preferida te aguarda ali ao lado da bilheteria das Barcas”.
A antiga Feirinha de Petrópolis foi cedida para a Prefeitura de Niterói em dezembro de 2022 e esvaziada neste ano, para dar espaço à construção de uma praça, e
os proprietários dos boxes que costumavam ficar no local precisaram se realocar para outro lugar.
Muitos desses lojistas se espalharam por Niterói, à procura de um novo local para instalarem suas lojas, e alguns deles encontraram no Araribóia Mall, centro de compras ao lado da bilheteria das Barcas, um local próximo do seu antigo endereço para se realocarem. No entanto, eles contam que o movimento não é o mesmo.
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A loja Cris Moda Íntima, que antes era localizada na Feirinha de Petrópolis, hoje fica no Araribóia Mall, antigo Pop Mol. A proprietária do local, Veronica Cristiane, de 43 anos, conta que observou uma perda significativa de clientes após a mudança de localização. “Aqui as pessoas não compram tanto, e eu queria que o público conhecesse a gente, aqui nós estamos bem esquecidos”, explicou a lojista.
Cris trabalhou doze anos na Feirinha de Petrópolis e conta que diversos vendedores do local foram prejudicados pela mudança. “A gente está tentando sobreviver, mas está difícil. Alguns quebraram, outros foram embora, vários até mudaram de cidade e abriram lojas em Alcântara, no Rio, ou em Catarina”, contou a empreendedora.
A comerciante observa uma diferença entre o público que frequenta o Arariboia Mall e o público que frequentava a feirinha. “Aqui nós temos outro público. Enquanto lá o público era mais ‘popular’, aqui é mais elitizado, e eles compram menos”, finalizou.
Uma outra loja que fez a transição da Feirinha para o shopping foi a Ápice Store. Localizada de frente para a área de desembarque das barcas, a loja teve um impacto positivo com a mudança de localidade. Julia Rocha, proprietária da Ápice Store, observou vendas mais altas desde que saiu da feirinha. “O público mudou. Acho que as pessoas que compram aqui são de classe mais alta, então o valor das compras é maior", explicou a autônoma.
Julia conta que, apesar de ter sido uma mudança positiva para ela, outros lojistas não tiveram o mesmo destino, e os comerciantes da feirinha tentaram “de tudo” para não saírem do espaço. “Os lojistas foram atrás com advogado para tentar reverter a situação, tentaram até o fim para não sair, mas não deu certo”, finalizou.
Cristiane e Julia relatam que os expositores da feirinha não foram informados de que o imóvel teria sido cedido para a Prefeitura, e eles souberam da notícia por conta de um boato que corria entre os vendedores.
No dia 26 de junho deste ano, lojistas do local fizeram um protesto contra o fechamento. Cerca de 50 trabalhadores da feirinha fecharam suas lojas e andaram em direção à Prefeitura, em busca de uma reunião com algum representante político de Niterói. Na época, eles receberam o prazo de até 15 de agosto para desocuparem o espaço.
Livia Rodrigues, proprietária da loja By Lívia Rodrigues, teve a sua loja desmontada em julho e só conseguiu reabri-la no final do mês de setembro, no dia 25. Diferente de Cris e Julia, Livia se mudou para a Galeria Nikity, na Avenida Amaral Peixoto.
A empreendedora conta que a mudança foi um desafio, e a loja ainda está se recuperando após ter passado dois meses sem funcionar. “Tivemos muitos gastos Perder a feirinha foi um impacto gigante no orçamento, não tínhamos reservas, e abrir um negócio novo sem conhecer o público, fazer com que as pessoas passem a saber que nós existimos ali sendo que não tínhamos caixa para fazer divulgação foi difícil. Temos dificuldades em tudo, mas estamos tentando”, desabafou a proprietária.
A previsão de entrega da obra na antiga Feira de Petrópolis, que será transformada em uma praça, é de 2024.
Questionada sobre o andamento atual da construção, a Prefeitura de Niterói não respondeu até a publicação desta reportagem.
Sob supervisão de Marcela Freitas