Natal e Família: A maior tradição natalina é estar com quem se ama
Independente da configuração familiar, da quantidade de pessoas e das condições financeiras, o brasileiro é um povo que gosta de se reunir, e no Natal, esse costume se torna ainda mais especial
Quando pensamos em Natal, é impossível não associar a data ao cristianismo e às suas origens religiosas. Mas assim como toda tradição, com o tempo, ela foi ganhando novos significados, novas formas de comemorar e novas configurações, e hoje, para grande parte dos brasileiros, é sinônimo de uma coisa: família.
Seja com reuniões na ceia do dia 24, almoços no dia 25, ou nos dois. Com brincadeiras de amigo oculto, troca de presentes ou nenhuma delas. Com muitos ou poucos integrantes - sejam eles parentes ou amigos que já viraram família. O Natal se tornou um símbolo. É um momento do ano em que as pessoas se juntam, trazem à tona memórias afetivas e reforçam que a magia da data.
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Segundo a professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Pós-Graduação em Memória Social da UNIRIO, Adriana Russi Tavares de Mello, no Brasil, a comemoração do Natal, que acontece no dia 25 de dezembro, é tanto feriado nacional quanto celebração religiosa cristã, em que se comemora o nascimento de Jesus, há 2.023 anos atrás. Entretanto, registros mostram que antes mesmo do nascimento de Cristo, povos antigos já celebravam o solstício de inverno (noite mais longa do ano no hemisfério norte) como momento especial das práticas agrícolas.
Em terras brasileiras, a data é instaurada muitos e muitos anos depois, e passa a ganhar força, principalmente, entre os cristãos. “Conforme estudado pela professora Marlei Sigrist, da UFMS, as manifestações culturais do Natal secularizaram-se no Brasil desde os tempos da colonização portuguesa e se tornaram uma celebração de caráter popular em que as Folias de Reis, como outros folguedos populares, se disseminaram pelo país.”, contou Adriana.
Mas se o Natal como conhecemos hoje, surge de tradições religiosas, não é assim que ele permanece. “Hoje, as celebrações do Natal ocorrem tanto nas igrejas ou templos com os rituais religiosos quanto entre as famílias que mantêm cada qual suas próprias tradições e que são lembradas e praticadas através das gerações.”
É assim que o Natal na família da analista jurídica, Roberta Maia Batista, de 40 anos, acontece desde o falecimento de sua avó. De acordo com Roberta, que é nascida e criada no bairro da Trindade, em São Gonçalo, mas há dez anos vive em Nova Friburgo, as tradições natalinas sempre foram importantes em sua família, mas foi depois da morte da matriarca, que sua mãe assumiu as responsabilidades, dando seguimento à tradição.
“A minha família sempre se reuniu no Natal, e antigamente, as reuniões aconteciam sempre do dia 24 pro dia 25 na casa da minha avó. Desde que eu me entendo por gente, desde que eu sou criança a gente faz esse encontro. E aí depois que a minha avó faleceu, a minha mãe assumiu esse compromisso, a única coisa que mudou foi a data, que passou para o dia 25. Então agora, a gente se reúne sempre no dia 25 de dezembro na casa da minha mãe que é em Trindade, São Gonçalo.”, disse.
Todo ano, a confraternização da família de Roberta reúne cerca de 30 a 35 pessoas, entre tios, pais, primos e filhos dos primos, e é organizada em um grupo no WhatsApp, que mantém sua família materna próxima o ano todo.
“Quando vai chegando próximo do Natal a gente já coloca uma lista no grupo do que cada um vai levar, como cada um vai contribuir, e geralmente funciona da seguinte forma: cada um leva o que bebe um leva um prato de salgado ou de doce, porque a gente passa o dia inteiro juntos. As pessoas costumam chegar cedo para almoçar e ficam de tarde, até de noite para o jantar. Então passamos o dia 25 todo reunidos, e não abrimos mão disso.”
Assim como acontece em muitas famílias brasileiras, a rotina do dia a dia e os caminhos que a vida toma, muitas vezes leva as pessoas a se distanciar, se mudarem para longe umas das outras, e em alguns momentos, perderem o convívio que tinham na juventude ou ou em outras etapas da vida.
Mas é por esse motivo, que o Natal se torna tão especial para as famílias. É a oportunidade que muitos têm de, pelo menos uma vez no ano, reencontrarem entes queridos a quem já não viam há meses, ou até mesmo, um ano.
Na família de Roberta, não é diferente. “Na nossa família é muito difícil reunir todo mundo. Antigamente, eu percebo que tinham mais momentos de reunião familiar, as pessoas estavam mais próximas, em todo aniversário de criança fazia uma festinha em casa, comemorava. Hoje em dia isso acabou um pouco, as pessoas comemoram muito viajando ou num restaurante, né? E a própria distância. Eu tenho parente que mora em Petrópolis, eu mesmo moro em Friburgo… há uns anos uma parte da família foi morar em Portugal… Então, a melhor parte de reunir a família é estar junto mesmo.”, disse a analista, que se mudou para Friburgo após ser aprovada em um concurso público.
Além disso, é nesse momento de união que a família traz à tona as memórias e pode refletir e lembrar com saudade, de tudo que viveram no passado..
“O Natal é um momento que a gente comemora e sente falta né? Daqueles que se foram. Eu já perdi avó, avô, alguns tios, um primo… Então é um momento que a gente se reúne e relembra muitas coisas. No ano passado, por exemplo, eu montei um mural de fotos, com todo mundo, com as crianças, fotos antigas, fotos dos meus avós, dos meus familiares que já se foram e aí foi muito emocionante. Cada um rever, relembrar.. É um momento gostoso saber que a gente continua se reunindo e lembrando de cada um deles.”, relatou.
É através dos registros que eles mantêm viva a memória dos que já se foram, e criam novos momentos especiais, que serão lembrados por mais muitos e muitos anos.
Como toda família, a de Roberta também tem suas próprias tradições, e são elas, em conjunto com a oportunidade anual de se reunirem, que tornam o Natal, uma data não só comemorativa, mas afetiva. O afeto está nos pratos, pensados e feitos com carinho; nas brincadeiras, que aproximam e divertem pessoas de todas as idades; e nos costumes, que trazem à luz a fé de cada um - para Roberta e seus familiares, todo ano eles fazem uma oração em conjunto, para se lembrarem da verdadeira origem da data.
Apesar de saberem o significado da comemoração natalina, deram a ele mais um: família.
“O que significa um Natal em família pra mim? Eu tenho certeza que assim, pra mim e pra todos os meus familiares que estão lá, é está próximo das pessoas que a gente ama e tentar manter esse compromisso. Muitas famílias quando o avô, ou a avó, que tinham o hábito de fazer essas reuniões, quando essas pessoas morrem, às vezes acabam parando de se reunir. E a nossa família conseguiu manter isso e eu espero que a gente siga conseguindo, né? Que as crianças consigam continuar valorizando esse momento de reunião, de confraternização… e que nunca acabe. Então é um momento muito especial, é um dos mais aguardados pra muitos de nós”, finalizou.
Sob supervisão de Marcela Freitas