Movimento de Mulheres em São Gonçalo celebra 35 anos de ‘lutas’ e conquistas
Evento comemorativo, que lotou o Teatro Municipal (SG), reuniu convidados ilustres e contou com apresentações musicais, coreografias e um vídeo de curta-metragem com depoimentos de antigos e atuais colaboradores
O Movimento de Mulheres em São Gonçalo (MMSG) celebrou seus 35 anos, de ‘lutas’ e conquistas, em um evento comemorativo, que lotou o Teatro Municipal (SG), na última terça-feira (26), e emocionou o público ao resgatar a história da instituição e homenagear seus principais personagens. Tendo como mestre de cerimônia, a gestora e fundadora, Marisa Chaves, a festa reuniu convidados ilustres, secretários de governos, representantes de entidades públicas e privadas, magistrados, artistas, além de atrações musicais, coreografias, dramaturgia e um vídeo documentário com depoimentos de antigos e atuais colaboradores.
Uma árvore cenográfica, ao centro do palco, representou, simbolicamente, a história e os frutos do MMSG. De acordo com Marisa, foi sob uma frondosa mangueira, no terreno do Abrigo Cristo Redentor, no Centro (SG), que a entidade iniciou sua trajetória, no final dos anos 80, ainda sob as agruras do regime militar. Com um reduzido número de pessoas, o grupo, na ocasião, tinha como uma das principais pautas: a luta por direitos e igualdade das mulheres negras.
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Durante o evento, como uma passagem no tempo, entre atrações musicais, coreografias e homenagens, um telão, instalado no fundo do palco, projetava imagens que lembravam os 35 anos da história de luta do MMSG. A celebração, que contou com apresentação teatral encenada por crianças e adolescentes atendidas pela entidade, terminou com um coquetel e o tradicional bolo de aniversário.
De mãos dadas com Oscarina Siqueira, atual diretora executiva do Movimento de Mulheres em São Gonçalo, a gestora Marisa Chaves abriu a festa falando da simbólica árvore, que representa o início da história da entidade, e ressaltou a importância das atuais e antigas companheiras na luta por um mundo mais justo, pela igualdade social, sem opressão de raça, sem violência, pautado pelo respeito às diferenças e diversidades de gênero.
Em reverência ao passado, Chaves citou como um ‘presente’ ter na plateia uma das sócio-fundadoras, Nair Porto, que, juntamente com a diretora Eliete Soares, primeira mulher atendida pelo MMSG, foram homenageadas. A gestora, no entanto, também celebrou o futuro, ao citar a sua neta, a pequena Alice, de 1 ano, a quem elegeu como sua substituta.
‘É tempo de renovar’
“Essa árvore nos faz relembrar esses 35 anos de história. Relembra o tempo que nos reuníamos carregando uma folha de presença, sem recurso algum. Foram anos de luta. Temos que reverenciar o passado, mas é uma noite para celebrar a vida. Um novo tempo. Hoje posso afirmar, que, sendo avó, acabando de ver chegar a minha neta Alice, é tempo de renovar. É tempo de termos uma geração onde não haja nenhum tipo de opressão de gênero, raça e etnia. Nem discriminação religiosa ou por aspectos geracionais ou deficiências. Estamos construindo uma nova cidade, um novo estado. Agradeço a todos que ajudaram a construir a nossa história”, discursou Marisa Chaves, momentos antes de o telão projetar um vídeo com depoimentos de colaboradores, coordenadores de projetos e autoridades, que falaram sobre a história e o trabalho do MMSG.
‘Se não puderes ser árvore, seja relva’
Oscarina Siqueira lembrou do início da trajetória no MMSG, quando ainda era presidente da associação de moradores da Fazenda Colubandê, em São Gonçalo.
“Iniciamos o movimento com muita garra e disposição. Acredito que a nossa luta não foi em vão. Costumo dizer: se não puderes ser árvore, seja relva. Deu certo. Iniciamos como relva, criamos raízes, fomos gerando o nosso tronco, os nossos galhos, as nossas folhas e agora temos os nossos frutos que são os vários projetos em São Gonçalo e em outros municípios”, ressaltou a diretora executiva.
Fundado em 16 de março de 1989, o MMSG foi criado com a missão de enfrentar todas as formas de preconceitos e discriminações de gênero, raça/etnia, orientação sexual, credo, classe social e aspectos geracionais. Trabalhar em defesa dos direitos de crianças, adolescentes, jovens, mulheres e idosas, em especial, àquelas que são vítimas de violência de gênero ou doméstica ou que estejam vivendo com HIV/AIDS.
O MMSG executa, atualmente, os projetos: Grupo Reflexivo; Núcleo de Atendimento à Crianças e ao Adolescente Vítimas de Violência (NACA); Núcleo Especial de Atendimento à Criança e Adolescente Vítimas de Violência Doméstica e/ou Sexual (NEACA); Roda de Conversas com Gestantes e Puérperas, que ajuda mulheres para transformação física e psicologias na gravidez; e Rede Vida, que atende e acolhe pessoas com HIV/Aids. O MMSG tem unidades em São Gonçalo, Itaboraí e Duque de Caxias.
‘Referência na defesa dos direitos das mulheres’
Ao subir ao palco, representando as autoridades presentes, a secretária de Estado da Mulher (SEM-RJ), Heloisa Aguiar, ressaltou o importante papel do MMSG na defesa de direitos das mulheres e no acolhimento às vítimas de violências, em São Gonçalo e no estado. Apesar de conhecer o trabalho do Movimento de Mulheres em SG, a secretaria disse ter se emocionado durante as apresentações das crianças e das mulheres atendidas pela entidade.
“É uma alegria enorme estar aqui. Um prazer participar dessa homenagem. o MMSG é uma referência na defesa dos direitos das mulheres. São Gonçalo é um município pujante na política para mulher. Já conheço a entidade, mas, olhando os rostinhos dessas crianças e mulheres, vendo a primeira mulher atendida pelo movimento, confesso que me emocionei. Parabéns à toda equipe. Colocamos o governo e nossa pasta à disposição. Vamos continuar essa parceria, pois a sociedade civil sempre executa de forma brilhante projetos em defesa da garantia de direitos. E vida longa ao Movimento de Mulheres!”, completou a secretária.
Magistrada e representantes de entidades públicas e civis enalteceram o trabalho do MMSG
A juíza da 1ª Vara Cível de São Gonçalo, Denise Appolinaria, enalteceu o trabalho do MMSG e falou dos novos desafios. “Como magistrada, admiro esta instituição pela defesa dos direitos das mulheres, crianças e adolescentes. Contudo, podemos resumir o trabalho do MMSG em três contextos: no passado, o pioneirismo; no presente, o reconhecimento; e no futuro, os desafios”, ressaltou a juíza. A parceria de sucesso com os órgãos públicos também foi citada pela subsecretária de Políticas Públicas para as Mulheres em SG, Ana Cristina da Silva. “Essa parceria entre o MMSG e os órgãos públicos é um diferencial para ampliar a rede de atendimento”, salientou.
“Como magistrada, admiro esta instituição pela defesa dos direitos das mulheres, crianças e adolescentes. Contudo, podemos resumir o trabalho do MMSG em três contextos: no passado, o pioneirismo; no presente, o reconhecimento; e no futuro, os desafios”, ressaltou a juíza
Para Kátia Vásquez, presidente da Federação Estadual das Instituições de Reabilitação do Estado do Rio de Janeiro (FEBIEX), o trabalho do MMSG, como organização social, é de excelência e profissionalismo. “Estou feliz em participar dessa celebração e, sobretudo, homenagear o MMSG, instituição que sempre se pautou pela ética e excelência profissional no atendimento às demandas de direitos de pessoas carentes e necessitadas”, disse Vásquez.
Luiz Henrique Oliveira, gerente do Programa SOS Crianças Desaparecidas (FIA), citou a luta constante da entidade pela defesa das crianças e adolescentes.
“Fico feliz em participar da celebração, uma festa de 35 anos, de uma instituição como o MMSG, que sempre está avançando, evoluindo e criando novos projetos em defesa das crianças e adolescentes”, disse Oliveira.
'Comprometimento e seriedade na elaboração dos relatórios técnicos'
Já Danielle Gimenez, gerente do Programa de Atenção à Criança e ao Adolescente Vítimas de Violência (NACA), da Fundação para Infância e Adolescência, falou do comprometimento e seriedade do MMSG na elaboração de relatórios técnicos.
“O MMSG está de parabéns, pois é uma referência, em São Gonçalo e no estado, pelo trabalho de excelência executado, tanto pelo NACA como pelo NEACA, no atendimento às crianças e adolescentes vítimas de violência. Além de profissionais capacitados, o diferencial da entidade é o comprometimento e a seriedade na elaboração dos relatórios técnicos, que, em muito contribuem para os encaminhamentos às instituições competentes e na garantia de direitos”, enfatizou Gimenez.
‘O MMSG mudou a minha vida’
Entre os depoimentos de colaboradores e funcionários, destaque para a diretora Eliete Soares, primeira mulher atendida pelo MMSG. “Cheguei ao movimento de mulheres por conta de uma violência doméstica. Fui acolhida, me fortaleci e estou até hoje ajudando outras as mulheres”, lembrou, Eliete. Com marcas de queimadura e cicatrizes por todo o corpo, após ser vítima de tentativa de feminicídio, Rosângela Sá falou de sua trajetória no MMSG, que começou ainda no leito de um Centro de Tratamento Intensivo (CTI).
“Estava desenganada, no leito, mas essas mulheres acreditaram em mim. ‘Ressuscitei’ e, hoje, apoio o movimento de mulheres e também ajudo outras vítimas. O MMSG mudou a minha vida”, discursou Rosângela.
“Estou no MMSG há 17 anos. Estava em dificuldade, vulnerável, após ser ‘abandonada’ pelo marido. Precisava de apoio para criar minhas filhas. Aqui fui acolhida. Comecei como voluntária e hoje sou funcionária. Foi uma janela e uma porta para mim. Tenho orgulho de participar dessa história”, disse Fátima dos Santos Lima, 53 anos, a ‘Fatinha’.
Um dos primeiros homens a trabalhar no MMSG, o motorista Geremias Filgueiras, 56, está, há 18 anos, levando e trazendo mulheres em suas atividades. “Fui indicado por uma pessoa, que trabalhava em uma empresa apoiadora de um dos projetos. Sou respeitado e respeito o trabalho maravilhoso dessas mulheres”, completou.
“As palavras que resumem minha história no MMSG são aprendizado e conhecimento. Aqui aprendo todos os dias”, disse a pedagoga Ana Cristina Brito, 44, que está há 29 anos na entidade.
Parcerias de sucesso e novos projetos
Durante as apresentações, Marisa Chaves agradeceu a todos os parceiros, entre entidades públicas e privadas, além de ajuda internacional como a Unesco, ‘Brazil Foundation’ e Fundação Rare Beauty, que apoiam o MMSG em seus projetos. No Brasil, o MMSG recebe apoio da Prefeitura de São Gonçalo, da Fundação para Infância e Adolescência (FIA), do Ministério da Saúde, CEDIM-RJ, Instituto Profarma, Boticário e da Petrobras, que já financiou 5 projetos, desde 2006, e atualmente, apoia o Projeto NEACA Tecendo Redes, com núcleos de atendimentos em São Gonçalo, Itaboraí e Duque de Caxias.
Em caso de ajuda, o MMSG disponibiliza seus serviços, de segunda à sexta-feira, das 9h às 17hs, nos endereços abaixo:
NEACA (SG)- Rua Rodrigues Fonseca, 201, Zé Garoto. (2606-5003/21 98464-2179)
NEACA (Itaboraí)- Rua Antônio Pinto, 277, Nova Cidade. (21 98900-4246).