Cover de Cazuza se manifesta sobre decisão judicial: 'Esse processo é muito injusto '
Em entrevista a O SÃO GONÇALO, o niteroiense Valério Damásio de Araújo contou sobre os desafios da carreira e os desdobramentos da ação judicial que o proibiu de se apresentar como Cazuza
Na última segunda-feira (29), a Justiça do Rio proibiu o niteroiense Valério Damásio de Araújo de seguir se apresentando como cover de Cazuza (1958-1990), o que ele fazia há 18 anos. A ação foi movida pela mãe de Cazuza, Lucinha Araújo, dona da Sociedade Viva Cazuza. Valério já tinha perdido em primeira instância, mas recorreu e, desde então, continuou se apresentando pelo país. Caso descumpra a decisão, terá de pagar indenização de R$ 5 mil a cada apresentação.
Em entrevista a O SÃO GONÇALO, o cantor contou sobre as motivações para ingressar na carreira artística; os desafios da profissão e os desdobramentos sobre o processo judicial que o proibiu de seguir se apresentando como cover de Cazuza.
Graduando em enfermagem, no ano de 2005, Valério, que também era dono de uma pizzaria, foi levado a um karaokê em Niterói e foi "amor a primeira música".
"Fiquei encantado com a sensação de poder cantar e receber as palmas, não demorou pra eu me viciar nessa sensação e passar a frequentar direto, até que uma banda me viu cantar e disseram que eu cantava parecido com o Cazuza. Foi quando me propuseram de montar a banda e não pensei duas vezes, já que sonhos não envelhecem e eu tinha o sonho de ser ator. Assim, pude realizá-lo indiretamente", contou.
Mesmo sem saber nenhuma letra de Cazuza, Valério passou a estudá-las e decorá-las, já que as músicas do karaokê eram todas lidas na hora.
"Outro desafio foi entender o que cada letra significava pra mim. Foi quando me tornei fã do poeta e passei a fazer o trabalho de interpretar também os trejeitos e figurinos", explicou o cantor.
Trabalho como cover
Há 18 anos como cover de Cazuza, Valério enaltece o público como maior incentivo para que ele permaneça nessa área até os dias de hoje.
"O público sempre se mostrou liberando emoções nostálgicas, voltando no tempo, matando saudade e com o tempo as novas gerações, que se tornam fãs, tem a oportunidade de ter uma ideia de como era o cazuza em vida".
Processo judicial
Com a decisão da Justiça do Rio, para se apresentar como Cazuza, o “cover” precisa de autorização da empresa que cuida da obra do falecido cantor e pagar os “royalties” pelos shows que percorre o país ou na internet. A ação foi movida pela mãe de Cazuza, Lucinha Araújo, dona da Viva Cazuza.
Caso descumpra a decisão, Valério terá que pagar indenização de R$ 5 mil a cada apresentação.
"Esse processo é muito injusto, já que faço da melhor maneira possível minhas interpretações, enaltecendo o próprio filho dela e muitas vezes ganhando muito pouco para isso. Esse processo se iniciou há 2 anos e meio, mas desde 2015 eu tinha trabalhos cancelados por conta de pedidos da mãe e era frustrante demais, eu a procurei, mandei mensagens querendo entender e não tinha respostas. Até que em 2017, em acordo extra judicial, com o advogado dela, fiz as mudanças que pediram, como mudar o nome de 'Valério Cazuza', para Valério Araújo, e aí poderia usar cover do Cazuza. Porém, em meados de 2021, me deparei com o processo", afirmou o artista.
Sobre a continuidade do seu trabalho e paixão pela música e interpretação, Valério contou como está lidando com o novo momento na carreira, tendo que promover algumas adaptações.
"Graças a Deus, ninguém é proibido de cantar músicas de outras pessoas em shows, mas eu uso meu nome 'Valério Araújo - tributo ao poeta exagerado', pois assim, não descumpro o que a lei determinou e o público consegue entender bem. Tenho um projeto chamado 'Os Imortais', onde eu reúno outros covers de grandes artistas que se foram e deixaram saudades, como Renato Russo, Raul Seixas, Rita Lee, Cássia Eller, Tim Maia, entre outros, todos fidedignos com os timbres, figurinos e trejeitos parecidos com os artistas homenageados. Também tenho algumas músicas autorais e planejo aumenta-las", contou o cantor.
Futuro profissional
"Ainda não tive que pagar nenhuma multa ou royalty pois estou sendo orientado pelo meu advogado, onde faço shows sem usar a marca Cazuza. Com a proibição de não usar a marca, me dá o trabalho por ter que avisar e verificar as divulgações que os contratantes fazem, assim, não pretendo parar de cantar as músicas dele", concluiu o artista niteroiense.
Estagiária sob supervisão de Thiago Soares