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Gripe, sinusite ou ambos? Especialistas comentam sobre aumento das doenças respiratórias

A vacinação contra a gripe segue como principal mecanismo de prevenção

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 05 de julho de 2024 - 15:09
Aumento nos atendimentos de emergência e urgêncdia para doenças respiratórias é de cerca de 50%
Aumento nos atendimentos de emergência e urgêncdia para doenças respiratórias é de cerca de 50% -

O inverno chegou e com ele o aumento do número de casos de doenças respiratórias. Basta olhar para o lado para perceber alguém tossindo, espirrando ou corizando e o cenário é ainda pior para crianças e idosos. Segundo dados divulgados pelas Secretarias Municipal de Saúde e Defesa Civil de São Gonçalo (Semsa) e de Estado de Saúde (SES-RJ), entre os meses de março a julho, o aumento nas demandas de atendimentos de urgência e emergência dos casos de doenças respiratórias, sobretudo na faixa pediátrica, é de cerca de 50%.

Segundo análise do Panorama de Síndrome Respiratória Aguda Grave e Vírus Respiratórios (Panorama SRAG), no período de 02 de junho a 05 de julho, foram notificados 978 casos com 5 óbitos de crianças com idades entre 0 e 4 anos e 77 casos, com 9 óbitos entre idosos acima de 80 anos. A análise engloba casos de SRAG por influenza, Covid e outros vírus não especificados.


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São casos gripais, sugestivos de Influenza e vírus sincicial respiratório (vírus responsável pela maioria dos casos de infecções do trato respiratório inferior em bebês), que podem evoluir para complicações bacterianas e outros agravos. Desde as últimas semanas, o vírus sincicial respiratório permanece sendo o principal agente causador de SRAG em circulação na faixa etária até 4 anos (40,84%), seguido pelo vírus Rinovírus (32,23%). Os dados constam no Painel de Indicadores Precoces, disponível no site da Secretaria de Estado de Saúde, no link https://cisshiny.saude.rj.gov.br/painel_srag/.

“Com o aumento no número total de casos registrados, seguimos em alerta. Este período do ano é muito caracterizado pelo crescimento de síndromes respiratórias. Por isso mesmo, a atenção precisa ser ainda maior. Em caso de sintomas como coriza, tosse leve, febre persistente, respiração acelerada e com dificuldade, reforçamos a necessidade de procurar uma unidade mais próxima de atendimento”, ressalta Claudia Mello, secretária de estado de Saúde do Rio de Janeiro.

A vacinação contra a gripe segue como principal mecanismo de prevenção, pois evita o agravamento de casos de síndromes respiratórias agudas graves. Por isso, deve-se vacinar – crianças e adultos – com as vacinas disponíveis contra a gripe e coronavírus, higienizar as mãos e usar máscaras em casos de sintomas respiratórios.

O imunizante contra a gripe está disponível para todos os moradores de São Gonçalo com mais de seis meses em 61 unidades de saúde de segunda a sexta, das 8h às 17h. A vacina da gripe disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) é a trivalente, que protege contra a gripe suína (H1N1), contra a gripe sazonal (H3N2) – que são duas variantes do vírus Influenza tipo A – e contra uma cepa viral da Influenza tipo B. 

Podem se vacinar: pessoas vivendo em instituições de longa permanência (Ilpis e RI) e seus trabalhadores; profissionais da saúde, pessoas privadas de liberdade, funcionários do sistema de privação de liberdade, adolescentes e jovens cumprindo medidas socioeducativas, pessoas em situação de rua, pessoas com 60 anos ou mais, imunocomprometidos, indígenas, gestantes e puérperas (até 45 dias após o parto), pessoas com deficiência permanente e com comorbidades a partir dos 12 anos.

Também há vacina para as crianças entre seis meses e 4 anos, 11 meses e 29 dias nos cinco polos sanitários e em duas clínicas. Para se vacinar, é preciso apresentar a carteira de vacinação (adulto e criança), identidade ou certidão de nascimento, cartão do SUS ou CPF. Não é necessário ter intervalo de outras vacinas para a imunização. Aos sábados, a imunização contra o coronavírus e a gripe acontece para todos nas clínicas Gonçalense do Mutondo e da Família Dr. Zerbini, no Arsenal, das 8h às 12h.

Vírus Sincicial predomina em crianças; Rinovírus entre os idosos

O Panorama SRAG analisou também os tipos de vírus que predominam nas diversas faixas etárias dos pacientes internados e as solicitações de leitos feitas por meio do Sistema Estadual de Regulação.

Desde a Semana 23 das Semanas Epidemiológicas, as crianças com idade até 4 anos seguem como a faixa etária com maior número de internações. Nessa faixa, segundo dados do Painel Viral do LACEN-RJ, os principais agentes infecciosos são o Vírus Sincicial Respiratório (40,84%), um dos causadores da bronquiolite, e o Rinovírus (32,23%). O número de solicitações de leitos para internação para SRAG nessa faixa etária apresentou pouca variação.

O percentual de internações por SRAG na faixa etária de 80 anos ou mais apresentou uma leve diminuição nas semanas epidemiológicas 23 a 25 (02/06 a 22/06). O número de solicitações de leitos para essa faixa etária permanece com pouca variação. Em relação aos principais vírus causadores de SRAG nessa faixa, houve pequeno aumento em infecções por Rinovírus (16,84%), diminuição nas causadas pelo Sincicial Respiratório (8,53%) e estabilidade nas causadas por Influenza do tipo A (8,34%).

O Panorama SRAG utiliza três sistemas como fonte de dados: o Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe), o Sistema Estadual de Regulação (SER) e o Sistema de Informação de Gerenciamento de Amostra Laboratorial (GAL), no qual são registrados os resultados dos exames feitos pelo LACEN-RJ, laboratório estadual de referência.

Professores da UFF comentam os impactos da chegada do inverno 

Gripe, vírus sincicial, COVID-19 e influenza são exemplos de algumas das doenças respiratórias agudas mais encontradas no Brasil e no mundo. Além das agudas, outras doenças respiratórias, as crônicas, também se tornam protagonistas com a chegada do inverno. Segundo o Ministério da Saúde, as mais comuns no Brasil são: rinite, asma, sinusite que, em temperaturas frias, também tendem a se fazer mais presentes, causando coriza e outros sintomas.

De acordo com uma pesquisa publicada no The Journal of Allergy and Clinical Immunology, as reduções de temperatura afetam as células do nariz. O estudo aponta que uma queda na temperatura de apenas 5ºC já mata quase 50% dos bilhões de células e vírus úteis no combate a bactérias nas narinas.

Os professores André Ricardo Araújo e Cyro Teixeira, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense (UFF) comentaram sobre os impactos das doenças respiratórias nesta chegada do inverno.

Sobre os efeitos das doenças respiratórias em crianças e em idosos, André explica que "os extremos da vida são considerados mais vulneráveis às doenças respiratórias". "As crianças, em particular, são uma população vulnerável devido ao fato de ainda não terem seu sistema imunológico completamente desenvolvido. Elas geralmente têm muito contato entre si, trocando secreções em creches, parques, chupetas e copos de bebê. Essa interação é uma parte importante do desenvolvimento imunológico, especialmente em crianças menores de quatro ou cinco anos, e mais especificamente em lactentes com menos de seis meses de idade", explica.

Por outro lado, os idosos também são vulneráveis devido à sua exposição ao longo da vida a diversos agentes patogênicos, além de apresentarem um sistema imunológico enfraquecido em comparação com adultos mais jovens. Essa vulnerabilidade os torna suscetíveis a doenças respiratórias, como observado durante a pandemia de COVID-19 e a anterior pandemia de H1N1, onde essas populações foram particularmente afetadas.

Já sobre a maior incidência de casos nas estações mais frias do ano, André esclarece que "há duas situações que contribuem para a circulação de vírus respiratórios". A biologia dos vírus, que tendem a se espalhar no outono e início do inverno, e a tendência das pessoas a permanecerem em ambientes fechados durante períodos de frio intenso, o que é mais comum em locais com climas mais frios do que no Brasil. "Essa permanência em ambientes sem circulação de ar favorece aglomerações, facilitando a transmissão de vírus por secreções respiratórias ou por contato com secreções em superfícies. Para prevenir essa circulação, recomenda-se manter os ambientes arejados, mesmo em épocas mais frias, e adotar o hábito de higienizar as mãos sempre que houver contato com ambientes desconhecidos ou secreções respiratórias", acrescenta.

E como diferenciar se é alergia ou quadro viral?

Cyro explica que "a diferenciação dos sintomas ocorre por meio de uma anamnese bem conduzida em que o médico precisa de tempo para escutar e questionar o paciente ou seu acompanhante". Informações como idade, índice de massa corporal, profissão, animais domésticos, higiene no lar, intolerância a medicamentos, histórico de tabagismo ativo ou passivo, uso de drogas, ambiente de residência ou trabalho, estilos de vida, hábitos alimentares, prática de exercícios físicos e distúrbios do sistema nervoso central são essenciais. Além disso, o exame físico dos pulmões e outros órgãos, bem como exames de imagem, são cruciais.

"A tomografia computadorizada (TC) do tórax é especialmente importante hoje em dia, pois revela achados que a radiografia de tórax não consegue detectar. Endoscopias respiratórias (como faringo-laringoscopia, rinosinusoscopia, broncoscopia, pleuroscopia, toracoscopia e mediastinoscopia), exames de sangue e provas de função pulmonar (PFP) complementam o diagnóstico. Os exames de PFP mais simples, baratos e não invasivos são a oximetria de pulso e a espirometria. A espirometria avalia a função ventilatória dos pulmões em grandes e pequenas vias aéreas, sendo especialmente útil para doenças com perfil obstrutivo da respiração, como DPOC, asma, rinossinusite, tabagismo e bronquiectasias", explica o professor.

Outra dúvida comum é sobre a diferença de doença respiratória aguda e crônica. Cyro esclarece que "doenças agudas se desenvolvem repentinamente e duram pouco tempo, geralmente apenas alguns dias ou semanas. Já condições crônicas se desenvolvem lentamente e podem piorar ao longo de um longo período de meses a anos". Doenças respiratórias agudas geralmente são causadas por infecções, intolerância ao tempo ou poluentes inalatórios. Doenças respiratórias crônicas são frequentemente causadas por comportamentos não saudáveis ​​que aumentam o risco de doenças como, por exemplo, má nutrição, atividade física inadequada e vício de drogas. Fatores sociais, emocionais, ambientais e genéticos também são importantes.

"À medida que as pessoas envelhecem a partir dos 25 anos de idade, elas são mais propensas a desenvolver uma ou mais doenças crônicas, respiratórias ou não respiratórias. De acordo com a pesquisa da National Council on Aging (2024), quase 95% dos adultos com 60 anos ou mais têm pelo menos uma doença crônica, enquanto quase 80% têm duas ou mais. As principais doenças crônicas pulmonares são DPOC, bronquiectasias, doenças ocupacionais, fibroses de diversas causas ou idiopáticas, entre outras. Quanto à a influência genética, sim, também é um fator importante em algumas doenças respiratórias, como a asma, fibrose cística e enfisema pulmonar por deficiência de alfa-1-antitripsina".

O vírus sincicial (VSR) é uma doença respiratória aguda e um vírus sazonal, mas, dependendo da região do Brasil, ele aparece em temporadas diferentes. André destaca que "o Brasil, sendo um país continental, apresenta diferentes padrões de sazonalidade devido à sua vasta extensão territorial. Habitualmente, o vírus sincicial e outros vírus respiratórios circulam de forma mais intensa no hemisfério norte durante o outono e o inverno. Consequentemente, a região norte do Brasil experimenta um aumento na circulação desses vírus próximo aos meses de novembro, dezembro e janeiro, coincidentes com o inverno do hemisfério norte. Em contraste, parte da região do nordeste, as regiões centro-oeste, sudeste e sul tendem a seguir o padrão de circulação do hemisfério sul, com maior incidência entre os meses de maio e agosto".

Para completar, em relação à prevenção, é possível adotar outros cuidados além da vacinação. André relembra que "além da vacinação, manter o hábito de higienizar as mãos com água e sabão após o contato com secreções respiratórias e em ambientes de grande aglomeração é fundamental". "Mesmo durante o inverno, é importante manter as janelas abertas para garantir a circulação de ar. Em ambientes hospitalares, profissionais de saúde podem receber recomendações específicas, incluindo o uso de máscaras de acordo com o tipo de contato e doença do paciente. Essas medidas são essenciais para prevenir a propagação de doenças em diversas situações e ambientes", conclui.

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