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Mãe de santo se diz insegura após incêndio em Centro Espírita: "Foi aterrorizante"

Zeladora e responsável pelo local, Mãe Flávia de Oxum, em entrevista a O SÃO GONÇALO nesta segunda-feira (15), mostrou como ficou a casa, que passou pela instalação de câmeras de segurança e alarmes

relogio min de leitura | Escrito por Lívia Mendonça | 15 de julho de 2024 - 22:51
Após o incêndio, foram instaladas câmeras de segurança e alarme na Casa de Umbanda
Após o incêndio, foram instaladas câmeras de segurança e alarme na Casa de Umbanda -

Após ter o seu interior incendiado, e utensílios e imagens destruídos durante a madrugada do último sábado (13), o Centro Espírita de Axé das Almas de Mãe Flávia de Oxum, Casa de Umbanda, que fica localizada no bairro Itaipuaçu, em Maricá, precisou melhorar sua segurança com a instalação de câmeras de alarmes para tentar evitar que novos casos como esse se repitam no local.

Nesta segunda-feira (15), em entrevista a O SÃO GONÇALO, a zeladora responsável pelo templo religioso, Mãe Flávia de Oxum, enfermeira de 48 anos, contou como foram as primeiras horas após o incêndio e como tem sido o processo para identificar o responsável pelo crime, que até então tem como causa mais provável a intolerância religiosa.

Mãe Flávia de Oxum falou sobre o episódio de intolerância religiosa
Mãe Flávia de Oxum falou sobre o episódio de intolerância religiosa |  Foto: Layla Mussi

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A mãe de santo estava indo para o trabalho, por volta das 6h da manhã do último sábado (13), quando teve uma "intuição" de passar pela rua do "barracão", como ela diz. Chegando ao local, Flávia viu algumas imagens na porta, mas pensou que pudesse ser algum "despacho" ali deixado.

"Quando retornei com o carro e passei mais perto, reconheci as imagens, que eram daqui mesmo. Mas estava escuro, as luzes que sempre deixo acesas estavam apagadas, e com receio de ainda ter alguém aqui dentro, liguei para o 190 e fui prontamente atendida. Quando a viatura chegou, entrei e vi tudo quebrado, queimado, e aqui dentro ainda estava com o vapor, porque o incêndio aconteceu durante a madrugada", contou a responsável pelo local.

Objetos e imagens também foram quebrados
Objetos e imagens também foram quebrados |  Foto: Divulgação

Flávia fez o registro da ocorrência na 82ª DP (Maricá), onde a investigação segue em andamento, ainda sem novas informações sobre o caso.

"Foi aterrorizante ver tudo assim. Que eu saiba, até mesmo através de informações dos agentes da 82ª DP, isso nunca tinha acontecido em Maricá, foi a primeira vez. A delegacia enviou um perito, que fez a perícia no local e também o pedido de câmeras de lojistas das proximidades, para contribuir nas investigações", afirmou.

Intolerância religiosa e insegurança

Ainda ao final da noite do último sábado (13), a Prefeitura de Maricá emitiu uma nota de repúdio contra os atos de intolerância religiosa. Segundo a nota da Prefeitura, acredita-se que o caso se trate de um episódio de intolerância religiosa, principalmente pela forma que os materiais foram encontrados no templo.

Prefeitura de Maricá se pronuncia sobre os atos de vandalismo contra centro espírita
Prefeitura de Maricá se pronuncia sobre os atos de vandalismo contra centro espírita |  Foto: Reprodução/redes sociais

Como consequência do episódio narrado, Mãe Flávia de Oxum resolveu instalar, nesta segunda-feira (15), câmeras de segurança e alarmes para que o local fique um pouco mais protegido, visando evitar novos casos de intolerância.

"Hoje mesmo instalei câmeras de segurança e alarme. Também vou precisar entrar em obra, porque atingiu a fiação, as telhas, o piso que quebrou. Mas não vou deixar a peteca cair, a gente levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima. Mas tive medo de voltar, fica muito forte essa questão de insegurança, porque aqui a noite é escuro e a maldade dos outros a gente nunca sabe, né", declarou Flávia.

No local foram instaladas câmeras de segurança e alarmes
No local foram instaladas câmeras de segurança e alarmes |  Foto: Layla Mussi

"Eu não tenho outra resposta para esse caso a não ser intolerância religiosa mesmo, porque moro em Maricá há 20 anos, tenho essa casa aqui há 10 anos e nunca ouvimos falar em nada desse tipo por aqui. Nossa casa é uma casa pequena, familiar, nunca recebemos ameaças, nem nada do tipo. Temos uma ótima relação com a vizinhança, com toda a comunidade. Estamos, inclusive, sendo surpreendidos com uma enxurrada de solidariedade nesse momento delicado", concluiu a Mãe de Santo.

Nota de repúdio 

A vereadora de Niterói, Benny Briolly, também repercutiu sobre o caso em suas redes sociais, onde publicou fotos e vídeos de como o local ficou após o ato de intolerância. Confira a nota de repúdio da vereadora:

"Na noite do dia 13 de julho, um terreiro de umbanda localizado em Maricá foi invadido, incendiado e depredado por criminosos. Durante o ataque, os agressores destruíram atabaques, que são instrumentos musicais sagrados usados nas cerimônias, e quebraram várias imagens de santos.

Esse ato de violência não é apenas um ataque físico, mas uma expressão cruel e inaceitável de racismo religioso. É uma tentativa de silenciar e intimidar o nosso povo de axé, que tem uma rica e vibrante herança espiritual. A destruição de um terreiro é um golpe profundo na cultura e na fé de todos aqueles que seguem as tradições afro-brasileiras. Em resposta a esse ataque covarde, um boletim de ocorrência foi registrado na delegacia local.

Exigimos que as autoridades tratem esse caso com a seriedade e a urgência que ele merece. A justiça deve ser feita para que os responsáveis sejam identificados e punidos de acordo com a lei.

A comunidade de axé permanece unida e resiliente, e continuaremos a lutar pela liberdade de culto e pela proteção dos nossos espaços sagrados. Juntos, resistiremos a todas as formas de opressão e trabalharemos para construir um mundo onde todas as religiões sejam respeitadas e valorizadas", disse a nota da Vereadora Benny Briolly.

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