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Mestres do trabalho manual: de geração para geração, a paixão pelo ofício mantém vivas as profissões de ourives e relojoeiro

No segundo capítulo da série, OSG conta a história de Jairzinho, que aos 14 anos aprendeu com o pai as profissões que hoje ensina para seus filhos

relogio min de leitura | Escrito por Lívia Mendonça | 04 de setembro de 2024 - 08:00
A herança da profissão, passada de geração para geração, é o que mantém vivos ofícios tão antigos
A herança da profissão, passada de geração para geração, é o que mantém vivos ofícios tão antigos -

Após contar a história que envolve todo o processo do trabalho artesanal de Julia Loyola, o segundo capítulo da série de O SÃO GONÇALO, "Mestres do trabalho manual", traz a trajetória do relojoeiro e ourives gonçalense Jairzinho de Souza. Através dos ensinamentos herdados de seu pai, ele trabalha há mais de 40 anos no ramo pelo qual tem paixão, buscando também transmitir às novas gerações da família o prazer de se sentir realizado em um ofício que faz parte da história da sociedade.

O Fórum Econômico Mundial (FEM) de 2023 deixou claro que inúmeras profissões estão fadadas a desaparecer nos próximos anos. A inteligência artificial, inclusive, é parte desse processo, e questões relevantes no mercado de trabalho continuam sendo discutidas. Profissões como as de relojoeiros e ourives não são mais tão comuns como antigamente e, muitas vezes, podem desaparecer devido ao fato de as novas gerações escolherem outros caminhos, deixando de assumir como "herança" as funções exercidas pelos pais, principalmente quando se trata de trabalhos manuais.


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Esse, porém, não é o caso do ourives e relojoeiro gonçalense Jair Francisco de Souza, o "Jairzinho", de 55 anos, que começou em ambas as profissões aos 14 anos, trabalhando e aprendendo diariamente com o próprio pai.

Se volto atrás, faria a mesma coisa, sem mudar nada. É que eu amo, o que sei fazer"

Estrela de ouro

Inaugurada no calçadão de Alcântara em 1968, por Jair Vieira de Souza, aos 28 anos, onde ficava o antigo "beco", a loja, após 21 anos, mudou-se para a Galeria da Escada Rolante, em 1989, onde permanece até os dias de hoje. Seus dois filhos, Jairzinho e Junior, que herdaram não só os empreendimentos como também o mesmo nome do pai, mantêm o legado da família, passado de geração em geração.

Conhecido como Sr. Jair, o comerciante, natural de Iguaba, na Região dos Lagos do Rio, veio para São Gonçalo aos 14 anos e começou a trabalhar em uma joalheria em Niterói, onde aprendeu tudo sobre sua profissão.

"Meu pai queria abrir uma loja no 'beco', onde as residências estavam se transformando em comércios. Quando ele foi ver a casa, ela já estava alugada. Porém, um amigo, o 'Nelson do estacionamento', que tinha uma quitanda muito famosa aqui em Alcântara,  o chamou e quis ajudar. Nelson conversou com a proprietária e deu o dinheiro do primeiro aluguel, sendo fiador do meu pai por 50 anos, até o dia de seu falecimento. Meu pai dizia que seu amigo Nelson sempre seria seu fiador. Se não fosse ele, talvez a Estrela de Ouro não existisse; Nelson foi muito importante em nossa vida", contou Jairzinho, que hoje está à frente das duas lojas, junto com seu irmão Junior.

Jairzinho está à frente do negócio herdado de seu pai desde os 14 anos, mas foi aos 20 que assumiu as lojas e começou a dar continuidade ao legado deixado por Sr. Jair, que faleceu em 2012.

"Comércio não é só vitória; passamos por momentos de dificuldades, momentos ruins, mas superamos todos e seguimos, sem nunca pensar em desistir. Nunca me imaginei em outras profissões, é o que eu amo, o que sei fazer", disse Jairzinho.

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De geração para geração

O trabalho de um relojoeiro envolve a fabricação, reparação e manutenção de relógios. O profissional, considerado um artesão, realiza desde a montagem de peças até a reparação de mecanismos complexos, podendo trabalhar com uma variedade de tipos de relógios, desde os mecânicos tradicionais até os modernos relógios eletrônicos.

Já o ourives, profissional que confecciona, executa e/ou comercializa objetos preciosos, feitos principalmente de ouro e prata, não é apenas habilidoso, mas também um artista, capaz de criar peças de joalheria delicadas e de valor não só financeiro, mas principalmente artístico.

Para Jair, que exerce as duas funções há muitos anos, é emocionante e motivo de orgulho ver seus filhos seguindo seus passos e trabalhando ao seu lado nas lojas, mantendo vivos os sonhos que um dia foram de seu pai e que hoje se perpetuam por todas as gerações.

"Foi o que meu quis fazer mesmo, que a gente estudasse e trabalhasse, e que um dia tudo isso ficasse para nós. Fui gostando, aprendendo com ele, com a experiência dele, o trabalho dele, e quando percebi, eu já estava bem à frente da loja. Então, me sinto muito realizado com o meu trabalho. Se voltasse atrás, faria a mesma coisa, sem mudar nada. Hoje em dia, meus filhos estão aqui, aprendendo algo novo a cada dia, e só vai depender deles manter esse sonho vivo para as futuras gerações", afirmou Jairzinho.

Relação com os clientes

Sobre a proximidade com os clientes da Rua da Feira, Jairzinho destacou que existe uma relação ainda maior do que a de amizade, como se realmente fossem uma grande família. "Estamos aqui há muito tempo. Crescemos na loja e fizemos muitas amizades; os clientes fazem parte da família. Tem coisas que a gente nem cobra, faz cortesia, e ganhamos as frutas da estação. É uma relação de confiança, de amizade mesmo", contou o profissional.

"Eu e meu irmão amadurecemos muito rápido e vimos de perto como meu pai era rígido ao procurar dar o melhor atendimento aos clientes. Essa era nossa maior preocupação: se a gente conseguiria manter isso. Mas, depois de todos esses anos, parece que conseguimos. Além do nome que carregamos na certidão, conseguimos manter a loja, mesmo com um cenário bastante diferente do que era antes, com mais dificuldade de encontrar relojoeiros e ourives. Mas, mesmo nas adversidades, nos orgulhamos muito de não ter deixado a peteca cair e de hoje podermos ver a terceira geração da família, que são nossos filhos, trabalhando conosco.", concluiu o ourives e relojoeiro.

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