Mestres do trabalho manual: artista da linha e da agulha, costureira conta sua história através dos tecidos
No terceiro capítulo da série, OSG revela a trajetória de Vera Lúcia, que traz consigo o dom de imaginar, executar e inspirar através de suas criações
Após contar a história do trabalho da artesã Julia Loyola e do ourives e relojoeiro Jairzinho de Souza, o terceiro capítulo da série de O SÃO GONÇALO, "Mestres do trabalho manual", revela os bastidores das criações da costureira Vera Lúcia, que tece sua trajetória com uma boa dose de criatividade e profissionalismo.
Costureira por amor
Sendo considerado um dos ofícios mais antigos da humanidade, a profissão de costureira, segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção, abrange cerca de oito milhões de pessoas, que são responsáveis pela produção de mais de cinco bilhões de peças anualmente no país.
Com linha e agulha na mão, as costureiras não são simples profissionais; elas são verdadeiras artistas dos trabalhos manuais. Há quem tenha construído sua história interligada aos tecidos, como é o caso da costureira gonçalense Vera Lúcia Pimentel Damião, de 62 anos.
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"Tudo começou com minha mãezinha. Ela costurava muito, e eu comecei a ver e me interessar, porque ela vestia todas as filhas iguais e eu não gostava; gostava de ser diferente, e aí quis aprender. Ela me dava pano para eu fazer roupa para as bonecas, e assim fui fazendo, intercalando com as aulas, porque também sou professora. Mas só comecei minha trajetória na costura profissionalmente depois de ter meus filhos, no bairro Antonina", contou Vera, que hoje mora no Zé Garoto, também em São Gonçalo.
Perfeccionista num trabalho minucioso
O talento para a costura se manifesta em cada ponto, cada corte e modelagem que transformam tecidos em peças únicas, repletas de identidade e beleza. Profissionais que atuam nesse ramo são, em sua grande maioria, apaixonadas pelo trabalho artesanal e manual, e muitas vezes são autodidatas, tendo aprendido o ofício sem nenhum tipo de instrução formal.
O serviço da costura começou na França, no período da Idade Média, e, ao contrário do que se imagina, foi iniciado pelos homens. Eles eram os responsáveis pela alta costura, comandando os ateliês da época e sendo nomeados 'Tailleurs de Ville'. As mulheres, até então, podiam apenas realizar pequenos reparos.
Somente no século XVII essa realidade começou a mudar, após as mulheres lutarem por seus direitos. Em 1675, foi apresentado um manifesto em busca do direito de as mulheres poderem criar roupas femininas em nome da castidade e da modéstia, garantindo que as mulheres fossem vestidas por outras mulheres, e não por homens. O pedido foi acatado pelo Rei Luís XIV, e assim foi permitido o trabalho feminino nas produções do mundo da moda.
Desvalorização x alta procura
Ao longo dos anos, essa profissão, que faz parte da história e evolução da humanidade, foi, de certa forma, desvalorizada no que diz respeito à remuneração. É notório que, hoje, a profissão não é tão "unânime" entre as mulheres, que buscam as mais diversas oportunidades, principalmente salariais, que as valorizem cada vez mais.
Ao mesmo tempo em que a profissão sofreu pela desvalorização, o que acabou desmotivando muitas costureiras a se manterem neste ramo, o cenário também demonstra que, hoje, a busca por profissionais de confiança é enorme. Ao contrário do que se via antigamente, a profissão se tornou cada vez mais rara, e os clientes acabam enfrentando certa dificuldade para encontrar essas profissionais.
"Hoje é mais difícil encontrar costureira. E mesmo tendo muitos sites e vendas online, acho que uma boa costureira tem sido valorizada nos dias de hoje, porque não é mais tão comum", disse Vera Lúcia, que usa como motivação sua trajetória e boas lembranças dentro da profissão.
"Minha filha e as amigas dela sempre foram minha motivação. Eu fazia muitas roupas de festa, fantasias, roupas de festa junina, e ver as crianças felizes me deixava mais feliz ainda", contou Vera.
A paixão alinhada à vocação fornece o grande diferencial no trabalho de Vera Lúcia, que se autoavalia como uma profissional comprometida com a qualidade das peças e prazos de entrega. Além de ser perfeccionista, ela realiza cortes e costuras de alta precisão, trazendo como sua marca a experiência de longos anos na área e a herança passada de mãe para filha, que funciona como um combustível para continuar vivendo dessa arte.
"Sinto muito orgulho de ser costureira, ainda mais tendo como grande inspiração a minha mãe. É uma profissão muito bonita, uma arte, mesmo hoje em dia estando mais escassa. A costureira é o pião da moda, é o principal, porque sem ela não tem roupa pronta", disse a profissional da costura.