Dia da Consciência Negra: conheça personalidades negras que marcaram a história brasileira
Nomes da atualidade que contribuem para a sociedade dentro de seus campos de atuação também são destaque nesta data
O Dia da Consciência Negra, comemorado nesta quarta-feira (20), é uma oportunidade de refletir sobre a importância da luta contra o racismo e relembrar personalidades negras que representam essa luta tanto no passado, como Zumbi dos Palmares e Iyá Nassô, como na atualidade, por meio da política e da Cultura, como Marielle Franco e Conceição Evaristo.
Apesar de integrar os calendários escolares desde 2003 e se tornar feriado nacional apenas em 2011, a sua concepção é registrada muito antes, ainda na década de 70, quando estudantes universitários negros, como o poeta Oliveira Silveira (1941-2009), Vilmar Nunes, Ilmo da Silva e Antônio Carlos Cortes, protestaram contra o veto da presença de jovens negros em um clube da capital gaúcha. À época, os envolvidos no movimento discutiram sobre a criação de uma data para comemorar a cultura negra, que poderia ser 13 de maio ou 20 de novembro.
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“Já que imaginavam que, dentro da narrativa nacional branca, tinha o Dia de Tiradentes, como o dia da liberdade nacional, enquanto aquele artífice da liberdade contra Portugal, pensaram que era importante também, do ponto de vista negro, o surgimento de uma data que apontasse para esse herói da liberdade, e Zumbi dos Palmeiras, foi instituído para isso. Durante muito tempo, houve um debate em função das datas marcantes, 20 de novembro e 13 de maio. Existia uma discussão de que 13 de maio não representava efetivamente uma liberdade por conta da continuidade de uma estrutura racista, de exclusão do negro ao mundo de trabalho, educação e acesso a cultura”, explica o historiador étnico racial, Pablo Mattos.
Apesar de seu nome ecoar até os dias de hoje, poucas pessoas conhecem a história de Zumbi dos Palmares. Nascido no nordeste brasileiro, por volta dos meados do século XVII, ele se tornou um dos maiores líderes quilombolas.
“Ele ‘pertenceu’ a um padre jesuíta e desde criança foi colocado em uma situação de escravidão, consta que ele como um aldeado, era letrado, falava latim, devia dominar rudimentamente, e o português. O quilombo dos Palmares existiu durante vários anos e o Zumbi é um personagem central, porque a primeira liderança do quilombo, o Ganga Zumba fez um acordo com a Coroa Portuguesa de entregar algumas pessoas que não haviam nascido naquele local, para serem escravizados. Com a morte de Ganga Zumba, Zumbi assumiu a liderança. Ele também discordava desse acordo com a Coroa”, explica o estudioso.
Além de Zumbi dos Palmares, outros nomes de peso merecem ser lembrados não só nesta data, mas todos os dias, pelas suas contribuições com a cultura, religião, política, entre outras áreas. Ainda segundo o historiador, a dificuldade de encontrar documentos que comprovem a existência de figuras negras históricas, principalmente mulheres, torna ainda mais valiosa a história de Iyá Nassô e Maria Firmina dos Reis.
“Iyá Nassô, a quem é atribuído a criação do terreiro da Casa Branca, na Bahia, e que foge do estado efetivamente por causa da perseguição empreitada após a Revolta dos Malês, ou seja, é uma figura documentada que existiu. Há uma tradição, há um terreiro de candomblé, uma comunidade cultural, criada e construída na diáspora africana dessa figura”, explica o historiador sobre a fundadora do terreiro baiano.
Na literatura, pode-se destacar a escritora pioneira Maria Firmina dos Reis, a primeira mulher negra a escrever um romance abolicionista. A autora era natural de Maranhão, e filha de mãe alforriada, deu voz às pessoas escravizadas de sua época por meio de suas obras, onde os escravos eram retratados com “nobreza generosa” e os colocando em igualdade com as pessoas brancas.
Outro nome que marcou a história foi o político Nilo Peçanha, que ocupou o cargo presidencial no ano de 1909, após o falecimento de Afonso Pena. Hoje em dia, ele é considerado o patrono da educação profissional e tecnológica no Brasil. Porém, sua trajetória de vida também não foi fácil, como conta o historiador Pablo Mattos.
“Encontram-se trechos históricos onde é possível identificar que Nilo Peçanha teve uma origem humilde, pois era filho de um padeiro, sua família era do norte do Rio de Janeiro e toda do campo”
Personalidades marcantes da atualidade
No Brasil contemporâneo, personalidades negras se destacam nos âmbitos políticos, culturais, literários, entre outros, da sociedade, pelo talento, dedicação e resistência.
Literatura: A autora Conceição Evaristo presenteou os brasileiros com livros como “Olhos d’água”, “Ponciá Vicêncio” “Becos da Memória”, entre muitos outros. Nascida em Minas Gerais, no ano de 1946, a romancista retrata em suas obras a dura realidade enfrentada pelos brasileiros. Além disso, teve seu trabalho reconhecido por meio dos Prêmio Camélia da Liberdade (2007); Prêmio Ori (2007) e Prêmio Jabuti (2015).
Política: Apesar da tragédia que ocorreu com a socióloga e vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco (1979-2018), já pode ser lembrada pelo seu trabalho em prol das mulheres, defesa dos direitos humanos e luta contra o abuso de autoridades para comunidades carentes.
Atual ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima nasceu em Rio Branco, no Acre, em 1958. Filha de seringueiros enfrentou uma vida difícil. Perdeu a mãe na adolescência, trabalhou como empregada doméstica e começou a estudar tarde. Porém, o progresso nos estudos foi rápido levando-a a tornar-se referência em suas graduações. Ambientalista, historiadora e pedagoga dedicou-se a causa da floresta amazônica.
Em quase 30 anos de vida pública, Marina Silva ganhou reconhecimento dentro e fora do país pela defesa da ética, da valorização dos recursos naturais e do desenvolvimento sustentável. Uma reputação construída em mandatos de vereadora, deputada estadual e senadora – eleita sempre com votações recordes – e no período em que esteve à frente do Ministério do Meio Ambiente, entre janeiro de 2003 e maio de 2008.
Judiciário: Um dos maiores representantes da Justiça brasileira, Joaquim Barbosa, ocupou o cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal entre os anos de 2003 e 2014. O jurista é um professor licenciado da Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Seu doutorado e mestrado em Direito Público foram conquistados na Universidade de Paris-II (Panthéon-Assas). Além disso, também escreveu diversas obras, por exemplo, "La Cour Suprême dans le Système Politique Brésilien", publicada na França em 1994 pela Librairie Générale de Droit et de Jurisprudence (LGDJ), na coleção "Bibliothèque Constitutionnelle et de Science Politique"
*Sob supervisão de Cyntia Fonseca