Justiça da Romênia adia decisão sobre anular eleição presidencial suspeita
Candidato da ultradireita tinha apenas 1% das intenções de voto nas pesquisas, mas venceu votação com 22%
O Tribunal Superior da Romênia adiou, nesta sexta-feira (29), para o dia 2 de dezembro, a decisão sobre a anulação ou validação do resultado do primeiro turno da eleição presidencial, após suspeitas de interferência na campanha. Com isso, a corte anunciará sua decisão no dia seguinte à eleição parlamentar, marcada para este domingo.
O candidato da ultradireita, Călin Georgescu, de 62 anos, obteve o maior número de votos no primeiro turno, realizado no último domingo, e garantiu uma vaga para o segundo turno, previsto para o dia 8 de dezembro. Caso vença, sua eleição poderá representar uma reviravolta política significativa, ameaçando enfraquecer a posição pró-ocidental da Romênia.
Na quinta-feira (28), o Tribunal Constitucional da Romênia, a mais alta corte do país, determinou a recontagem dos votos do primeiro turno. Em um comunicado oficial, o tribunal informou que, por unanimidade, decidiu revisar e recapitular as cédulas de votação da eleição presidencial de 24 de novembro. A medida foi adotada após a surpreendente vitória de Georgescu, que obteve 22,95% dos votos, superando a candidata de centro-direita Elena Lasconi, líder da União Salve a Romênia (USR), que ficou em segundo lugar com 19,2%. Essa discrepância foi inesperada, pois as pesquisas de opinião pré-eleitorais indicavam que Georgescu teria um desempenho muito abaixo de dois dígitos.
A decisão sobre a recontagem gerou ainda mais incerteza no processo eleitoral, levando observadores internacionais a alertar para o risco de a credibilidade das instituições romenas ser comprometida. Autoridades do país afirmaram ter identificado indícios de interferência externa na campanha, com suspeitas de agentes hostis, incluindo a Rússia, envolvidos. A Romênia, membro da OTAN e da União Europeia, aguarda uma decisão final do Tribunal Constitucional sobre a validade dos resultados do primeiro turno.
A recontagem envolve cerca de 9,46 milhões de votos emitidos e é uma resposta a um pedido feito por um candidato conservador derrotado para anular o primeiro turno. Enquanto o tribunal delibera, o clima político permanece instável, com o país, que tem uma população de 19 milhões de pessoas, se preparando para as eleições parlamentares deste domingo, nas quais se espera que a ultradireita tenha um bom desempenho.
Toni Grebla, chefe da Comissão Eleitoral, afirmou à rádio Radio Romania Actualitate que espera que a recontagem seja concluída o mais rápido possível. Caso a recontagem leve a uma nova votação, o primeiro turno poderia ser remarcado para o dia 15 de dezembro, com o segundo turno sendo adiado de 8 para 29 de dezembro.
De acordo com a legislação romena, o Tribunal Superior só pode anular o resultado do primeiro turno se houver evidências de fraude que impactem a composição do segundo turno. Os resultados preliminares indicaram uma diferença de menos de 3 mil votos entre Elena Lasconi (segundo lugar) e o terceiro colocado, o primeiro-ministro social-democrata Marcel Ciolacu.
Por lei, o Tribunal Superior deveria validar os resultados do primeiro turno até 29 de novembro para que o segundo turno ocorra conforme o previsto, no dia 8 de dezembro. Entretanto, a falta de acesso de observadores independentes ao processo de recontagem tem gerado preocupações sobre a transparência e imparcialidade da operação.
Campanha polêmica e acusações de interferência externa
A campanha de Georgescu foi marcada pelo uso intenso de plataformas como o TikTok, e o candidato não escondeu suas posições polêmicas. Ele já se manifestou publicamente em apoio a figuras fascistas romenas da década de 1930, classificando-os como heróis e mártires nacionais. Além disso, Georgescu tem sido um crítico ferrenho da OTAN e da postura da Romênia em relação à Ucrânia, defendendo uma aproximação do país com a Rússia.
Em resposta à recontagem, Elena Lasconi condenou a decisão do Tribunal Constitucional, acusando-o de interferir novamente no processo democrático. "O Tribunal Constitucional está interferindo no processo democrático pela segunda vez", escreveu ela em suas redes sociais. "O extremismo deve ser combatido por meio de votos, não com jogos de bastidores", acrescentou.
O Conselho Supremo de Defesa da Romênia afirmou ter provas de interferência externa, apontando que agentes hostis, como a Rússia, estariam atuando no país. O TikTok, por sua vez, rejeitou as acusações, e o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, negou qualquer envolvimento russo nas eleições presidenciais romenas.
Com o cenário eleitoral ainda instável, a Romênia aguarda os desdobramentos das recontagens e o impacto que as decisões judiciais terão no futuro político do país.