Mães de vítimas de ações policiais pedem Justiça em Niterói
Manifestação marcou júri de policial acusado por morte de jovem em Niterói
Um grupo de mães de jovens vítimas de violência policial realizaram uma manifestação no Centro de Niterói, na tarde desta quarta (11), em frente ao Fórum Desembargador Enéas Marzano. A manifestação aconteceu por conta do júri popular de um dos policiais militares acusados pela morte de Ian da Silva Dias, jovem de 21 anos baleado no Centro de Niterói em junho de 2018.
O júri estava marcado para acontecer na tarde desta quarta (12), mas a defesa do acusado decidiu não realizar a sessão. A juíza Nearis dos Santos Carvalho Arce, da 3ª Vara Criminal de Niterói, decretou a prisão preventiva do PM acusado. Ele vai responder em reclusão pelo caso, que segue em andamento na Justiça.
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A sessão foi acompanhada por um grupo de familiares de outras vítimas, que fazem parte do Movimento de Mães e Familiares Vítimas de Violência Letal do Estado. Cartazes e fotos de jovens mortos no Estado do Rio de Janeiro foram expostas na calçada da Av. Ernani do Amaral Peixoto, na altura do Fórum, em manifestação pacífica, pedindo pelo fim da truculência policial e da letalidade em ações de Segurança Pública no Rio
“Todas nós somos mães de vítimas de violência letal do Estado e sempre em audiências e julgamentos a gente se organiza para prestar apoio.”, explica Catarina Ribeiro da Silveira, de 53 anos, mãe de Rogério da Silveira, morto em Nova Iguaçu em maio de 2020. Junto de outras 99 mães, ela, hoje, atua como bolsista da Rede de Atenção a Pessoas Afetadas pela Violência de Estado (Raave), projeto que conta com apoio da Defensoria Pública do RJ e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
O projeto oferece acolhimento a outros familiares de pessoas mortas em episódios de violência policial. Ela e outras bolsistas do projeto que estavam na manifestação explicam que a ideia do projeto é transformar o luto em uma forma de consolar outras vítimas e estimulá-las a denunciar casos de violência.
“A gente luta por Justiça. Eu não quero ver outras mães sofrerem o que a gente sofre, porque a dor de perder um filho é a pior dor no mundo. Se você perde um pai, você é órfão; se você perde um marido, uma esposa, você é viúvo. Quando você perde um filho, não tem nome, sabe?”, desabafa Franciane Madureira, de 45 anos. Ela é mãe de Eduardo Madureira Festas de Oliveira, de 19 anos, que foi morto em uma ação policial em Charitas em 2020.
O jovem, que deixou três filhos, foi baleado em uma ação que deixou outros três mortos e um ferido. Segundo a mãe de Eduardo, seu filho não chegou a ser devidamente abordado pelos agentes. “Ele não deu a oportunidade do meu filho ser preso. O meu filho se rendeu, ele caiu no carro com os braços em rendição. Eles não mataram somente meu filho; mataram a mim também”, relembra Franciane.
Para as mães, tão difícil quanto lidar com a morte do filho é lidar com o fim dos sonhos deles, deixados para trás com as ocorrências. “Morrem os sonhos deles e os de quem fica. Você vê seu outro filho se formando, realizando sonhos, e, por mais que você fique alegre, você não consegue ter toda aquela alegria porque você queria também ver aquilo se concretizando com seu outro filho”, conta Luana Zeferino Silva, de 40 anos, que perdeu seu filho, Lorran Zeferino, de 20 anos.
O jovem foi morto na Covanca, em São Gonçalo, em 2021. Segundo a família, ele estava saindo para lanchar com um amigo quando foi baleado por policiais. “Para eles, é, como dizem, só ‘mais um CPF cancelado’, mas nunca vai ser só mais um. Eu tentei o suicídio cinco vezes no ano passado. Você não suporta. É como se você fosse uma caixa d'água; vai tentando suportar e, alguma hora, aquilo enche e você acaba tomando atitudes que não gostaria”, explica Luana.