Dia Internacional da Mulher: Avanços, desafios, conquistas e a busca por igualdade
Neste dia 8 de março, mulheres de diferentes classes, cores e idades reafirmam o desejo por respeito e igualdade e reconhecem as vitórias obtidas ao longo dos anos

Celebrado neste sábado e sendo considerado um marco histórico na luta das mulheres por mais oportunidades e reconhecimento, a data "8 de março" foi instituída como Dia Internacional da Mulher pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1975. Mais de um século depois, as mulheres seguem na luta por igualdade de direitos.
Diante dos inúmeros desafios enfrentados pelo gênero ao longo dos anos, ser mulher segue sendo sinônimo do enfrentamento diário das adversidades. Superar barreiras, muitas vezes invisíveis, é rotina daquelas que, apesar de representarem a maioria da população brasileira [51,8%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE], ainda enfrentam cenários desiguais, seja na divisão das tarefas domésticas, maternas, ou nos ganhos no mercado de trabalho
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Partindo da ideia e da importância da busca contínua por uma sociedade igualitária, O SÃO GONÇALO ouviu mulheres niteroienses para saber qual o sentimento de fazer parte desse gênero que, para além de forte, traz a luta intrínseca diante das vivências sociais.
Ao lado da mãe e da filha, a secretária escolar Jéssica Lima vê com bons olhos o atual momento das mulheres na sociedade e espera que a filha possa se sentir ainda mais livre e forte num futuro cada vez mais próximo.
"A gente já conquistou bastante coisa, não tem como não citar o direito das mulheres ao voto, por exemplo. Nos deu a possibilidade de termos voz não só dentro da política, mas de sermos realmente vistas como parte da sociedade. Me sinto muito orgulhosa de ser mulher, de ter uma filha mulher, de ter vindo de uma mulher tão forte, e espero poder passar esses ensinamentos para minha pequena, de que muitas já lutaram por nós, mas ainda é só o início. Muitas coisas ainda precisam de melhoria, principalmente se falarmos sobre respeito de forma geral, mas com um passo de cada vez acredito que um dia vamos conquistar tudo que sonhamos", afirmou.

Já para a engenheira civil Rosane Barros, a luta para se impor no mercado de trabalho diante de tantos preconceitos fez com que sua força e vontade de ver as mulheres sendo tratadas com igualdade se tornaram ainda maiores.
"Eu sou engenheira civil e trabalhei a vida toda em construção civil, dentro de canteiros de obras, e senti na pele o preconceito, principalmente na época em que me formei, na década de 80. Quando eu procurava estágio nos anúncios de jornais, sempre vinha escrito 'somente sexo masculino', e isso era muito comum. Meu pai mesmo falava que construção civil era para homem, dentro de casa a gente ouvia esse tipo de coisa, então hoje vejo com bons olhos toda essa evolução do sexo feminino. Mas, pra mim, um ponto chave que ainda precisa ser melhorado é a questão dos salários. A mulher precisa ser reconhecida igualmente dentro de uma instituição. Hoje ainda vemos muitos casos onde a mulher faz a mesma coisa que o homem e recebe menos por isso", afirmou.

"Passei por muitas coisas difíceis por ser mulher, nunca foi moleza, mas me sinto extremamente orgulhosa em ser mulher, e se pudesse, começaria tudo de novo, com os pés nas costas. Se tivesse que escolher para voltar, numa outra vida, escolheria ser mulher novamente, com certeza", afirmou Rosane, que estava ao lado do seu cãozinho Luck.
Desafios Contemporâneos
Embora o Dia Internacional da Mulher seja uma celebração das conquistas femininas ao longo da história, ele também serve como um momento de reflexão sobre os desafios que ainda persistem. Apesar dos avanços, as mulheres ainda enfrentam desigualdade estrutural em diversas áreas, como no mercado de trabalho, na política, na segurança e na divisão de responsabilidades domésticas:
- Desigualdade Salarial e Mercado de Trabalho
- Violência de Gênero e Feminicídio
- Sub-representação Feminina na Política e em Cargos de Liderança
- Dupla jornada de trabalho: Casa x Carreira
- Falta de Acesso à Educação e Capacitação Profissional
Mas, ainda assim, as conquistas femininas também precisam ser enaltecidas e valorizadas diante de uma luta árdua de mulheres que dedicaram suas vidas para que outras pudessem ser livres:
- Direito ao voto, conquistado em 1932 no Brasil
- Liberdade sexual e acesso à contracepção, com o surgimento da pílula anticoncepcional na década de 1960
- Lei do Patrimônio do Estatuto da Mulher Casada, de 1962, que permitiu às mulheres administrar seus bens sem autorização do marido
- Lei Maria da Penha, de 2006, que puniu com mais rigor os agressores de mulheres
- Lei do Feminicídio, de 2015, que reconheceu a violência de gênero como um problema social grave
- Lei 14.192/21, que estabelece normas para prevenir, reprimir e combater a violência política contra a mulher
Essa liberdade, sob a ótica da aposentada Léa Gonçalves, de 81 anos, é conquistada, principalmente, de dentro para fora, quando mulheres passam a enxergar sua força interior e, a partir daí, externalizam para a sociedade.
"Essa liberdade que se conquista, pra mim, sempre esteve diretamente ligada a liberdade interior, porque hoje, em todos os sentidos, vejo que a mulher está ganhando seu espaço, e percebo essa diferença principalmente se pararmos para analisar como era no passado. Me lembro que na minha infância a gente tinha que ser mais recatada, e hoje temos liberdade para ser, pensar e agir conforme nossos desejos. Eu por exemplo já tive muitas dificuldades, comecei a trabalhar muito cedo, aos 16 anos. Costumo dizer que, diante de um 'não' do meu pai, eu 'meti o pé na estrada', porque resolvi trabalhar. De oito filhos, sou a sexta, e fui a primeira a tomar o meu caminho, e não me arrependo. Mas mesmo diante das adversidades, me sinto muito orgulhosa de ser mulher, isso sem sombra de dúvidas engloba o melhor de quem eu sou, e eu nasci para ser livre", afirmou Léa, que aproveitou o aniversário da irmã, Luci, que completou 85 anos, para fazer uma caminhada pela cidade.

A construção de uma sociedade mais igualitária exige um esforço contínuo para quebrar estereótipos, eliminar barreiras estruturais e criar oportunidades reais para as mulheres. O compromisso com a igualdade de gênero não deve ser uma pauta pontual, mas sim um compromisso diário que envolve políticas institucionais, mudanças culturais e o fortalecimento da participação feminina em todos os setores da sociedade.
A transformação social começa com o reconhecimento do papel fundamental das mulheres e a construção de um futuro onde a equidade não seja apenas um ideal, mas uma realidade vivida por todas.