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36 anos de luta: Movimento de Mulheres de São Gonçalo celebra com evento no Teatro Municipal

Durante o evento será apresentado o projeto 'Rearticulando Rede de Mulher' que busca evitar a revitimização da mulher

relogio min de leitura | Escrito por Cristine Oliveira | 22 de março de 2025 - 11:09
Movimento de Mulheres completa 36 anos
Movimento de Mulheres completa 36 anos -

O Movimento de Mulheres em São Gonçalo (MMSG) completa 36 anos de luta em defesa de mulheres e crianças vítimas de diversos tipos de violência, como física, sexual e psicológica. Para comemorar sua história e lançar o projeto Rearticulando Rede Mulher, será realizado um evento na próxima quinta-feira (27), às 18h, no Teatro Municipal George Savalla Gomes.

A solenidade busca promover conhecimento para as mulheres sobre ações que podem protegê-las no momento de mais fragilidade, contando com a explicação de autoridades da Secretaria Estadual da Mulher, Conselho Municipal da Mulher, delegadas responsáveis pela Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) e juízas.


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“Esse evento tem três objetivos, o primeiro é celebrar a resistência de 36 anos, o segundo é lançar o projeto Rearticulando Rede Mulher e o terceiro objetivo é difundir o Pacto Nacional de Combate ao Feminicídio, então convidamos várias autoridades para falar sobre o assunto. Fizemos um vídeo nas ruas entrevistando mulheres atendidas, com elas fazendo perguntas, então as autoridades vão responder, ‘O que é o pacto?’, ‘O que isso me ajuda?’, perguntas bem básicas”, explica uma das diretoras do Movimento de Mulheres em São Gonçalo, Marisa Chaves.

Marisa Chaves
Marisa Chaves |  Foto: Layla Mussi

O evento é aguardado com entusiasmo pelos organizadores do movimento.

“É uma satisfação comemorar os 36 anos do nosso trabalho, com evento aberto ao público. Temos uma diretoria colegiada, um número bem grande de funcionários, estarão todos presentes. Será o momento de soprarmos as velinhas do trigésimo sexto aniversário”, disse a diretora executiva da instituição, Oscarina Siqueira.

Marisa Chaves e Oscarina Siqueira, duas das diretoras da entidade
Marisa Chaves e Oscarina Siqueira, duas das diretoras da entidade |  Foto: Layla Mussi

Para se inscrever no evento, é preciso preencher um formulário, uma vez que o espaço comporta aproximadamente 240 pessoas.

Rearticulando Rede Mulher

Um dos principais momentos mais esperados pela equipe da instituição é a apresentação do projeto que desenvolve um trabalho para proteger a vítima de violência no momento de atendimentos. Com a "rede" de informações sobre o histórico da vítima, ela não precisará relembrar o trauma da violência todas as vezes que precisar de ajuda profissional. O projeto está em ação graças a conquista de um edital oferecido pelo Ministério da Mulher, dentro da área de educação popular.

“Nós percebemos que ainda existe muita revitimização, pois a mulher conta a história aqui, conta na delegacia, no Ministério Público, se uma criança foi atingida, ela também tem que repetir a história no Conselho do Tutelar. E as instituições não se comunicam. Queremos criar uma ambiência favorável para todo mundo entender o que é política para mulher, preparar para conferência municipal de políticas das mulheres [...]. E nós esperamos ter de dois em dois meses, reuniões com todos os serviços que atendem às mulheres, polícia militar, polícia civil, juizado da violência, SEON, discutindo como podemos evitar duplicidade de ações e ao mesmo tempo não revitimizar a mulher que fica cansada de contar tanta história”, explicou Marisa.

Panfleto informativo do projeto Rearticulando Rede Mulher
Panfleto informativo do projeto Rearticulando Rede Mulher |  Foto: Layla Mussi

Além disso, o projeto busca evitar com que a mulher precise se deslocar para diversos órgãos de proteção, uma vez que na maioria dos casos as vítimas não têm condições financeiras para pagar o transporte.

“Existe uma rota crítica e essa mulher muitas vezes desiste, pois não tem condição e fica perdida e não entende a razão de tudo aquilo. Então essa rede tem que dialogar. Eu tenho um sonho de criar um Observatório da Mulher, onde a vítima chegaria e eu abriria esse observatório e veria por onde ela já passou. Isso evitaria fazer perguntas desnecessárias e gerar cansaço na mulher e sabe se comunicar com outras serviços, vê se ela passou pela CRAS, se já foi atendida pela Creas”.

Além dessas ações, o Rearticulando Rede Mulher também promove rodas de conversas em escolas para debater o tema da violência contra à mulher.

“A Rearticulando Rede Mulher vai realizar rodas de conversa sobre o tema nas escolas, sobretudo no segundo ciclo do ensino fundamental e também no Ensino Médio, que são as escolas estaduais [...]. Nós já estamos sendo chamadas para realizar as rodas de conversa. A gente vai anunciar o projeto,  mas já está acontecendo há uns dois meses”, disse Marisa.

O projeto ainda conta com outras vertentes, visando a proteção da mulher e possibilitando maior conhecimento dos órgãos e suas atividades, que podem auxiliá-las no momento de fragilidade, por meio de um documento onde as vítimas podem realizar download e ter acesso a essas informações.

“Outro objetivo do projeto é entregar um mapeamento de São Gonçalo, de todos os serviços que atendem às mulheres [...] Então, o Rearticulando o Rede Mulher é isso, é informar, refletir, levar conhecimento para a juventude”, contou.

História do Movimento de Mulheres em São Gonçalo

O Movimento de Mulheres em São Gonçalo nasceu no ano de 1989 com poucos atendimentos às mulheres, pois naquele primeiro momento, não havia suporte de outros serviços que contribuíram para o socorro às mulheres.

“Fundamos em 1989 e ficamos até 1991 sem legalizar, somente mobilizando e articulando. Em 1991, registramos a entidade, mas a gente conta 36 porque nos reunimos nesses dois anos, temos registro, atas, só não era legalizado”, contou Marisa, de forma saudosa.

Atualmente a instituição é formada por um colegiado comandado por 10 diretores, sendo cinco titulares e cinco suplentes, além de três conselheiras fiscais. Vale ressaltar que essas mulheres não recebem qualquer valor para ocuparem o cargo de chefia.

Sede do Movimento de Mulheres de São Gonçalo onde as vítimas recebem ajuda
Sede do Movimento de Mulheres de São Gonçalo onde as vítimas recebem ajuda |  Foto: Layla Mussi

“A gente tem uma diretoria ativa e nós fundamos o movimento para lutar por políticas públicas e com isso nós conseguimos trazer a Deam para São Gonçalo. em 1997, inauguramos o projeto Seon em agosto de 1997, criamos o Conselho Municipal da Mulher, também em 97, então foi um ano muito profícuo. E conseguimos avançar um pouquinho no planejamento familiar, no combate a violência obstretica e nós fomos a cada dia tentando sobreviver, ficamos de 1989 até 2002 sem nenhum centavo, somente na militancia feminista. Em 2002 começou a primeira parceria com o Ministério da Saúde e de lá para cá, tivemos muitos parceiros e ganhando recurso via edital”, explicou a diretora.

No momento a entidade conta com diversos apoiadores que reconheceram a importância e qualidade do trabalho realizado por essas mulheres militantes. Os principais nomes e marcas que contribuem com o Movimento de Mulheres em São Gonçalo são: a Petrobras, por meio de editais, a Fundação para a Infância e Adolescência, que mantém o NACA, a FIA e até mesmo a empresa de cosméticos Rare Beuaty, da cantora norte-americana Selena Gomez, através da Foundation Brasil, entre muitos outros apoiadores.

Depoimentos

Durante esses 36 anos de trabalho, luta e militância, o Movimento de Mulheres em São Gonçalo já ajudou inúmeras mulheres a saírem de situações de fragilidade por meio de cursos profissionalizantes e orientação.

“Eu estou no Movimento de Mulheres há 36 anos, sou sócia fundadora do movimento. Sou sobrevivente de violência doméstica, eu vim de Salvador, Bahia fugida. Eu sempre digo que o movimento de mulheres não é Salvador, mas é a minha cidade, porque aqui eu consegui superar os meus medos, os meus traumas. Ainda doi muito falar no passado, foi difícil, mas se não fosse o movimento de mulheres eu não estaria aqui, contando a minha história”, disse Eliete Soares, de 50 anos.

Eliete Soares é uma das sócias fundadoras
Eliete Soares é uma das sócias fundadoras |  Foto: Layla Mussi

“Eu vim muito perdida pelo fato de ter HIV, então o projeto me estabilizou, me reestruturou também. Hoje eu participo também ajudando outras pessoas também, porque existem muitas perguntas (sobre HIV), que as pessoas não sabem, as pessoas acham que vão pegar de qualquer forma e hoje eu levo a ajuda para outras pessoas. Mas foi com o movimento que elas me ajudaram a entender”, disse Joira da Silva, de 42 anos

Joira atualmente ajuda o Movimento de Mulheres de São Gonçalo
Joira atualmente ajuda o Movimento de Mulheres de São Gonçalo |  Foto: Layla Mussi

Eliete e Joira são apenas duas mulheres que receberam carinho e atenção do movimento, mas elas representam todas as que já passaram e voltaram para ajudar o projeto, mulheres que conseguiram superar seus medos e traumas, mulheres que conquistaram sua liberdade financeira e emocional com o apoio e trabalho do Movimento de Mulheres em São Gonçalo, há 36 anos.

*Sob supervisão de Cyntia Fonseca

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