Instagram Facebook Twitter Whatsapp
Dólar R$ 5,8754 | Euro R$ 6,6786
Search

Coletivo ELA: como a união de mulheres está mudando territórios com educação e afeto

Projeto Cidade D'Elas, viabilizado por meio de emenda parlamentar junto com à Fiocruz, fomenta diversas ações em prol de mulheres em comunidades de São Gonçalo; Oficinas de formação e o Bazar D'elas são alguns exemplos

relogio min de leitura | Escrito por Cristine Oliveira | 16 de abril de 2025 - 11:36
Coletivo ELA
Coletivo ELA -

Já parou para pensar sobre a existência de coletivos? Por quê e para quê existem? Quais propósitos existem em suas atuações sociais, políticas, artísticas ou culturais?

No Brasil, os movimentos sociais se intensificaram a partir da década de 1960, com a luta contra a ditadura militar e a busca por mudanças sociais e políticas. Nos anos 2000, o evento Circuito Fora do Eixo, em Uberlândia, Minas Gerais, aqueceu ainda mais a busca por formação e organização de coletivos culturais para além do eixo Rio-São Paulo.

Em cidades marcadas pela desigualdade estrutural, como São Gonçalo, a segunda mais populosa do estado do Rio de Janeiro, os coletivos se tornam não apenas importantes, mas essenciais.

De acordo com estudos de urbanismo e antropologia, esses agrupamentos autônomos "atuam como motores de transformação socioterritorial, pois constroem soluções de dentro para fora", com base na escuta, na troca e na urgência real de quem vive as dores e as delícias de um território.

É nesse contexto que nasce o Coletivo ELA, formado majoritariamente por mulheres gonçalenses que se juntaram em meio às inquietações da pandemia para pensar um novo modo de viver em comunidade. ELA, cuja sigla significa Educação e Liberdade para Aprender, visa transformar a vida de mulheres por meio da educação, da capacitação profissional e do fortalecimento emocional.

Dessa união, no período pós pandemia, brotou o projeto Cidade d’Elas, que, com oficinas, afeto e autonomia, está revolucionando silenciosamente a vida de dezenas de mulheres em comunidades de São Gonçalo.

"As primeiras reuniões aconteciam nas casas dos participantes. Durante a pandemia, passamos a realizar lives, atraindo pessoas de diferentes regiões interessadas em contribuir para o debate. Depois que a pandemia foi passando, a gente começou a escrever projetos, então é daí que vem o Projeto Cidade d’Elas [...]", explica a pedagoga e professora Graciane Volotão, 47, uma das idealizadoras e integrantes do coletivo.

Graciane Volotão fala sobre a criação do Coletivo Ela e do Projeto Cidade d'Elas
Graciane Volotão fala sobre a criação do Coletivo Ela e do Projeto Cidade d'Elas |  Foto: Layla Mussi

Formação, mapeamento e literatura

O foco do projeto é formar mulheres de favelas e periferias para lideranças comunitárias e autonomia financeira. As oficinas incluem pequenos reparos domésticos, inclusão digital, primeiros socorros, manicure, tranças, automaquiagem, entre outras.

“Uma meta é formar essas mulheres para liderança comunitária, para autonomia, para não dependerem de ninguém [...]”, destaca Graciane.

As oficinas são realizadas em casas de voluntários e, agora, na segunda fase do projeto, também contam com uma parceria com a FFP-Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro – Faculdade de Formação de Professores), que cede espaços para as atividades.

A parceria se estende ao departamento de Geografia da FFP-Uerj para realizar o mapeamento de bacias hidrográficas, com foco no Rio Marimbondo. O estudo servirá de base para a produção de um artigo assinado pela editora Mapa das Letras, em parceria com o Coletivo Escritoras Vivas, que também realizará oficinas de escrita e mídias digitais com as mulheres atendidas.

O Coletivo tem parceria com a FFP-Uerj
O Coletivo tem parceria com a FFP-Uerj |  Foto: Layla Mussi

“A gente vai construir um livro, uma cartilha [...] e transformar isso em um formato digital, acessível para que as pessoas saibam do progresso que a gente conseguiu construir aqui”, completa Graciane.

Mulheres que cuidam de outras mulheres

O Cidade d’Elas atende mulheres de regiões como Ipuca (Jardim Catarina), Porto Novo, Mutondo e Comunidade do Escadão, no Rocha. O apoio vai além da capacitação: há assistência psicológica e social, e as facilitadoras fazem a ponte entre as mulheres e o projeto.

Diva Moura
Diva Moura |  Foto: Layla Mussi

“Para mim é emocionante, gratificante, porque muitas vezes essas mulheres vêm com muitas demandas, vulnerabilidades [...]”, afirma Diva Moura, 64 anos, facilitadora.

As oficinas

Cada oficina do Cidade d’Elas é uma chave para a independência e para o empoderamento.

Oficina de Pequenos Reparos

Adriana Correia ensina pequenos reparos na oficina
Adriana Correia ensina pequenos reparos na oficina |  Foto: Layla Mussi

Ministrada por Adriana Correia, 49 anos, ensina mulheres a realizarem tarefas básicas de manutenção doméstica.

“Achei que não teria muita demanda, mas fui surpreendida pela quantidade de mulheres entusiasmadas em aprender e melhorar suas casinhas”, contou Adriana.

Além da técnica, também se trabalha a criatividade, com reaproveitamento de materiais:

“A reciclagem da cabeceira da cama que eu transformei em um painel de TV [...] elas ficaram maravilhadas”, completou.


Leia também:

Jornateca e Coletivo Escritoras Vivas organizam sarau para o Dia do Livro em São Gonçalo

Coletivo Escritoras Vivas lança coleção de livros em São Gonçalo


Oficina de Automaquiagem

Sob responsabilidade de Milenny Gagarim, 30 anos, mulher trans e integrante do coletivo, a oficina promove autoestima e acolhimento.

Maria das Graças fala sobre a Oficina de Automaquiagem
Maria das Graças fala sobre a Oficina de Automaquiagem |  Foto: Layla Mussi

“A automaquiagem é feita por uma mulher trans, ela é fascinante. Quando a gente começou a fazer as oficinas, ela se dispôs, disse que podia ensinar as pessoas a se maquiarem, a fazer uma maquiagem simples, às vezes para fazer uma entrevista de trabalho, às vezes para uma festa. As mulheres mais maduras, como eu, ficam com aquela preocupação de se maquiar porque a pele já está toda craquelada, então ela disse: ‘Não, vamos fazer essa oficina porque incentiva, é autoestima’. Foi fantástico”, disse Maria das Graças de Souza, 69 anos, administradora do projeto.

Oficina de Manicure

Eliana Alves, 31 anos, ministra a oficina de manicure e celebra os resultados práticos do projeto.

Eliana Alves
Eliana Alves |  Foto: Layla Mussi

“Para mim é gratificante, formar, levar educação e capacitação. teve um projeto que finalizou em dezembro e hoje todas elas trabalham fazendo unhas, felizes, ganharam seu dinheirinho honestamente”, conta.

Saúde mental em pauta

Além das oficinas práticas, o projeto também investe na saúde emocional das mulheres atendidas. Vivian dos Santos, 27, psicóloga e facilitadora, destaca o impacto desse cuidado.

Vivian dos Santos é  psicóloga e integrante do coletivo
Vivian dos Santos é psicóloga e integrante do coletivo |  Foto: Layla Mussi

“Ao mesmo tempo que traz um olhar mais humano para as mulheres trans, também fortalece a autoestima dessas mulheres”, afirma Vivian, que também facilitou uma oficina sobre prevenção ao suicídio.

Bazar d’Elas: renda extra e sustentabilidade

Para ajudar na manutenção das atividades, o coletivo criou o Bazar d’Elas, iniciativa que reúne doações de roupas em bom estado para revenda. Parte do valor arrecadado vai para o coletivo e outra parte fica com as mulheres que participam das vendas.

Moeda Elas
Moeda Elas |  Foto: Layla Mussi

“O Bazar d’Elas meio que se transformou em uma iniciativa do Cidade d’Elas, a partir do momento em que a gente precisou de mais renda”, explica Graciane.

A ação ganhou um reforço criativo com a criação da moeda social ELAS, usada como incentivo para participação nas oficinas:

“É uma moeda que traz o rosto de mulheres invisibilizadas e pontos simbólicos de São Gonçalo. Com ela, as participantes podem trocar por roupas do bazar”, explicou Graciane.

Maria de Fátima
Maria de Fátima |  Foto: Layla Mussi

Maria de Fátima, 62 anos, é uma das responsáveis pelas vendas:

“Fico muito feliz quando consigo vender. Faço uma festa quando elas chegam!”, conta, com entusiasmo.

Para acompanhar o trabalho realizado pelo Coletivo ELA e o projeto Cidade D'Elas, a rede social é @coletivoela.

  • Coletivo ELA: como a união de mulheres está mudando territórios com educação e afeto
    Câmera 1/9
    Fullscreen
  • Coletivo ELA: como a união de mulheres está mudando territórios com educação e afeto
    Câmera 2/9
    Fullscreen
  • Coletivo ELA: como a união de mulheres está mudando territórios com educação e afeto
    Câmera 3/9
    Yonara Costa
    Fullscreen
  • Coletivo ELA: como a união de mulheres está mudando territórios com educação e afeto
    Câmera 4/9
    O Bazar d'Elas faz parte do Projeto Cidade d'Elas
    Fullscreen
  • Coletivo ELA: como a união de mulheres está mudando territórios com educação e afeto
    Câmera 5/9
    Reunião do Coletivo Ela
    Fullscreen
  • Coletivo ELA: como a união de mulheres está mudando territórios com educação e afeto
    Câmera 6/9
    Maria das Graças fala sobre a Oficina de Automaquiagem
    Fullscreen
  • Coletivo ELA: como a união de mulheres está mudando territórios com educação e afeto
    Câmera 7/9
    Fullscreen
  • Coletivo ELA: como a união de mulheres está mudando territórios com educação e afeto
    Câmera 8/9
    Banner do Cidade d'ELAS
    Fullscreen
  • Coletivo ELA: como a união de mulheres está mudando territórios com educação e afeto
    Câmera 9/9
    Adriana Correia ensina pequenos reparos na oficina
    Fullscreen
Coletivo ELA: como a união de mulheres está mudando territórios com educação e afeto Coletivo ELA: como a união de mulheres está mudando territórios com educação e afeto Coletivo ELA: como a união de mulheres está mudando territórios com educação e afeto Coletivo ELA: como a união de mulheres está mudando territórios com educação e afeto Coletivo ELA: como a união de mulheres está mudando territórios com educação e afeto Coletivo ELA: como a união de mulheres está mudando territórios com educação e afeto Coletivo ELA: como a união de mulheres está mudando territórios com educação e afeto Coletivo ELA: como a união de mulheres está mudando territórios com educação e afeto Coletivo ELA: como a união de mulheres está mudando territórios com educação e afeto
  • Coletivo ELA: como a união de mulheres está mudando territórios com educação e afeto
  • Coletivo ELA: como a união de mulheres está mudando territórios com educação e afeto
  • Coletivo ELA: como a união de mulheres está mudando territórios com educação e afeto
  • Coletivo ELA: como a união de mulheres está mudando territórios com educação e afeto
  • Coletivo ELA: como a união de mulheres está mudando territórios com educação e afeto
  • Coletivo ELA: como a união de mulheres está mudando territórios com educação e afeto
  • Coletivo ELA: como a união de mulheres está mudando territórios com educação e afeto
  • Coletivo ELA: como a união de mulheres está mudando territórios com educação e afeto
  • Coletivo ELA: como a união de mulheres está mudando territórios com educação e afeto

*Sob supervisão de Cyntia Fonseca

Matérias Relacionadas