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Alcoólicos Anônimos comemora 70 anos no Brasil

Irmandade possui 20 grupos em São Gonçalo

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 18 de setembro de 2017 - 07:40
Oração ecumênica norteia o trabalho assim como a literatura específica para explicar a atuação mundial
Oração ecumênica norteia o trabalho assim como a literatura específica para explicar a atuação mundial -

Por Matheus Merlin

“Preciso me divertir um pouco”, “É só para liberar o estresse do trabalho”, “Muita preocupação na cabeça, quero relaxar um pouco”. Os motivos para começar a beber são muitos. O problema não está apenas na composição química das bebidas, mas nas consequências do consumo compulsivo delas. Desde 1967, o alcoolismo é considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como doença. Quem já sofreu os mais graves efeitos dessas substâncias, não recomenda nem o primeiro gole. Porém é importante destacar: existe saída. Com 70 anos de existência no Brasil, comemorados no último dia 5, a irmandade Alcoólicos Anônimos (A.A.) é hoje uma das maiores do mundo que trabalham na recuperação da doença.

Tendo como alicerce principal o anonimato dos membros, o processo de sobriedade do A.A. é realizado no compartilhamento de experiências e na doutrina dos 12 passos sugeridos. A instituição está presente em 170 países e conta com aproximadamente 2 milhões de membros. Somente no Brasil, são cerca de 6 mil grupos. Em São Gonçalo, o A.A. possui 20 grupos espalhados por diversos bairros, como Alcântara, Zé Garoto e Porto do Rosa, entre outros. Como prevê o mandamento das “12 tradições”, os coletivos devem ser completamente autossuficientes, ou seja, não podem aceitar doações de pessoas ou instituições de fora da irmandade. Desta forma, o aluguel do espaço e tributos (como água, luz e alimentação) são pagos pelos próprios participantes.

E para comemorar as sete décadas de atuação no Brasil, a instituição criou o “Amigo Anônimo”, um bot (robô) do “Messenger” (aplicativo vinculado ao Facebook) que ajuda a identificar características de alcoolismo e utiliza tecnologia de geolocalização para facilitar a busca de grupos de apoio próximos aos usuários.

“Com ajuda do bot, as pessoas estão chegando nos grupos, vidas estão sendo resgatadas e famílias inteiras poderão voltar a ter paz. Não temos dúvida que hoje o Amigo Anônimo pode ser considerado o passo zero no tratamento do alcoolismo”, afirma a presidente da Junta de Serviços Gerais de Alcoólicos Anônimos do Brasil, Jaira Freixiela.

Fundação - O A.A. foi criado em 1935, quando Bill W., um corretor da Bolsa de Valores de Nova Iorque, e Bob, um médico-cirurgião, se encontraram em Akron, Ohio, Estados Unidos. Os dois sofriam com o alcoolismo e perceberam que a troca de experiências ajudava a mantê-los sóbrios.

Com objetivo de tentar ajudar outras pessoas que também passavam pela doença, eles fundaram grupos anônimos nos Estados Unidos, que depois se espalharam por todo o mundo.

‘Viajo ao passado para lembrar que eu venci’

“Eu bebia todos os dias, antes e depois do trabalho. Eu só me assumi alcoólico quando perdi o emprego. Me lembro como se fosse hoje, foi uma noite que cheguei em casa de porre e implorei: Senhor, muda minha história que não aguento mais. Na verdade, ninguém aguentava, nem minha esposa e meus filhos. Eu não ganhava nada bebendo, era analfabeto. Agora eu estudei e sou aposentado. Viajo ao passado todos os dias para lembrar que eu venci”.

O relato do motorista aposentado A. P., de 75 anos, é um em meio a tantas outras histórias de superação envolvendo o alcoolismo. Como pressupõe os passos do A.A., o processo de recuperação da doença é diário. A.P. completou 41 anos como membro da instituição na última terça-feira. “Uma vitória”, classificou ele.

“Irmão” do aposentado no grupo, o eletricista A.C., 57, luta contra a doença há 17. Para ele, o alcoólico passa por três estágios durante a bebedeira. O primeiro é o que ele denomina como “leão”, quando o bêbado acha que é forte e pode defender todo mundo a sua volta. O segundo é o “macaco”, que faz graça, conta piada e dança até o chão. Por último, o “porco”, aquele que não se importa de andar sujo, com roupas rasgadas. Ele conta que chegou ao último.

“A bebida destruiu tudo. Meu trabalho, meu relacionamento com a família e com a sociedade. Eu, como qualquer outro alcoólico, não me importava com a qualidade de vida. As pessoas acham que é só diversão, que a pessoa bebe porque é safado. O próprio doente acha isso e acaba desmoralizado. Essa é uma das piores coisas que pode acontecer com alguém: ser desmoralizado. Cheguei a esse ponto e não me orgulho”, contou.

O terceiro personagem da narrativa contra o álcool é um PM reformado, de 69 anos - que preferiu não expor suas iniciais. Ele abandonou a bebida há 30 anos, quando se viu em situações graves de conflitos com a família e no trabalho. E era no ofício, aliás, onde mais corria risco.

“Imagina um bêbado armado. Tem alguma coisa para dar certo nessa situação? Graças a Deus, nunca aconteceu nada. Mas poderia ter acontecido. Pode ter certeza, que se continuasse bebendo, não estaria contando sobre minha vida hoje, pois estaria morto”, disse.

Popular, de fácil acesso e um líder nas vendas

Por conta da grande variedade de rótulos e tipos espalhados pelo mundo, o álcool é hoje a substância psicoativa mais popular do planeta. O Brasil é o número um do globo no consumo de destilados de cachaça e detém a marca de ser o quinto país maior produtor de cerveja. Segundo o Ministério da Saúde, o álcool é a droga preferida dos brasileiros (68%), seguido pelo tabaco, maconha, cola, estimulantes, ansiolíticos, cocaína e xaropes.

No ano passado, o Brasil registrou um aumento no consumo de álcool per capita de 43% em 10 anos e superou a média internacional. Segundo pesquisa da OMS, cada brasileiro em 2006, a partir de 15 anos, bebia cerca de 6,2 litros de álcool puro por ano. A taxa em 2016 passou para 8,9.

Embora o salto tenha sido grande, a OMS não considera o consumo do álcool em si como um problema. No entanto alerta que o uso excessivo e a falta de controle pode causar mais de 200 doenças, incluindo mentais. De acordo com a organização, aproximadamente 3,3 milhões de pessoas morrem todos os anos por conta da bebida, equivalente a 5,9% de todas as mortes no mundo. Com relação à faixa etária, pessoas entre 20 e 39 anos tem 25% das mortes relacionadas diretamente com a substância.

Em nota, o Ministério da Saúde informou que investe na expansão e qualificação da rede de serviços de saúde e assistência social para cuidado a pessoas com problemas decorrentes do uso de álcool e outras drogas.

Os 12 passos

1) Admitimos que éramos impotentes perante o álcool - que tínhamos perdido o domínio sobre nossas vidas.

2) Viemos a acreditar que um Poder superior a nós mesmos poderia devolver-nos à sanidade.

3) Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidados de Deus, na forma em que O concebíamos.

4) Fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos.

5) Admitimos perante Deus, perante nós mesmos e perante outro ser humanos, a natureza exata de nossas falhas.

6) Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses defeitos de caráter.

7) Humildemente, rogamos a Ele que nos livrasse de nossas imperfeições.

8) Fizemos uma relação de todas as pessoas a quem tínhamos prejudicado e nos dispusemos a reparar os danos a elas causados.

9) Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre que possível, salvo quando fazê-las significasse prejudicá-las ou a outrem.

10) Continuamos fazendo o inventário pessoal e, quando estávamos errados, nós o admitíamos prontamente.

11) Procuramos, através da prece e da meditação, melhorar nosso contato consciente com Deus, na forma em que O concebíamos, rogando apenas o conhecimento de Sua vontade em relação a nós, e forças para realizar essa vontade.

12) Tendo experimentado um despertar espiritual, graças a estes Passos, procuramos transmitir esta mensagem aos alcoólicos e praticar estes princípios em todas as nossas atividades.

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