Criatividade para driblar a crise
Motéis de São Gonçalo e região inovam para voltar a atrair clientes

Um dos empreendimentos do segmento mais conhecidos da região, o Motel Fair Play, no Arsenal, ganhou recentemente suítes temáticas, como "Céu"
Foto: Alex RamosPor Marcela Freitas
Sinônimo de liberdade no comportamento de casais e objeto de curiosidade nas décadas de 1970, 80 e 90, os motéis sofreram ao longo dos anos uma decadência do setor. Em São Gonçalo, nos últimos sete anos, 20% dos estabelecimentos tiveram suas atividades encerradas. Os empresários que decidiram continuar suas atividades, precisaram investir, seja em pessoal, infraestrutura ou novidades na arquitetura. Entre os fatores que contribuíram para a queda no setor estão: o congelamento no valor das diárias, falta de investimentos e localização ruim.
Apesar da fase ruim, o mercado começa a ganhar novo fôlego. E os 17 motéis espalhados ao longo das rodovias RJ-104 e RJ-106, começam a ganhar novas configurações, seja em público que, em sua maioria, se configura como família (marido e mulher) e também a oferta gastronômica, já que grande parte dos motéis oferece aos casais cardápio de almoços e jantares, por vezes tão sofisticados quanto os melhores restaurantes da região.
Outro fator que contribui para o setor é a variação no valor das diárias. De acordo com pesquisa do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano de 2012, o aumento nas diárias de motéis foi em torno de 10%. Em 2013, houve redução de quase 9% nos preços. E em 2014, os preços cresceram cerca de 4%. No primeiro trimestre de 2015, houve aumento de preços nesse item de 3%.

Novidades - Espelho no teto, cama redonda, e hidromassagem. Esqueça tudo o que você já viu no motel. A novidade agora é poder ir do céu ao Japão. É isso que promete o Motel Fair Play, no Arsenal, que inovou em sua arquitetura e oferece aos seus clientes seis suítes temáticas: Havaí, Sol, Céu, Japonesa, Árabe e Fair Play que todos os dias oferece surpresas aos clientes.
De acordo com o gerente do local, Heros Oliveira, além das suítes temáticas, o motel conta ainda com 40 apartamentos divididos em classic e personalité.
“Decidimos investir em nossos clientes e constantemente estamos renovando as decorações dos quartos. A cama redonda ganhou uma nova configuração, e os quartos estão cada vez mais atraentes. Há 10 anos, não se via tantas novidades. Procuramos ver onde estavam as falhas e investimos. Hoje em dia, os casais estão mais liberais, e a palavra de ordem é inovar. Estamos felizes com o investimento e com o aquecimento do setor”, revelou.
Manutenção é fundamental
O empresário Manuel Ramos Castro, de 63 anos, mais conhecido como Manolo, e o que podemos chamar de o “Rei do Motéis”. De nacionalidade espanhola, Manolo chegou ao Brasil aos 5 anos e aos 17 já era o responsável por cuidar da administração e contabilidade dos hotéis de toda a sua família. E foi essa experiência que fez de Manolo, sócio proprietário dos Motéis Paloma, no Laranjal, Dallas, em Marambaía, e Letom, no Fonseca, crescer seu patrimônio e ainda ajudar os outros empresários do ramo a fugir da crise.

“Sempre me reúno com os outros empresários para trocar experiências. O setor sofreu uma crise nos últimos sete anos com a invariação no valor das diárias. Quem tinha a despesa menor conseguiu se manter. No caso do Le Baron, um importante motel da região, composto só de suíte, o custo era muito alta para se manter com uma diária tão baixa e as atividades forma encerradas. Mas antes disso acontecer já havia aconselhado o proprietário sobre a necessidade do aumento das diárias”, contou.
Sobre investimentos, Manolo disse que se preocupa mais com a questão de manutenção. “A pessoa que vem usar o motel vem se divertir e às vezes extrapolam. A manutenção aqui é diferente do que as feitas em hotéis e restaurantes. O que acontece é que o desgaste muito grande. Por isso é necessário uma equipe boa de manutenção”, afirmou.
Mercado fechado ainda é uma barreira
O secretário de Desenvolvimento Econômico Ciência e Tecnologia de São Gonçalo, Carlos Ney Ribeiro, explicou que o declínio da maioria das empresas do segmento se deu pelo equívoco na leitura da conjuntura do mercado local.
“A cidade carece de apartamentos e leitos para hotelaria. Nossa região, ainda que atravessando problemas junto ao Comperj, é uma região comercial e economicamente vigorosa. Nossas rodovias estaduais e a BR 101 oferecem capilaridade com todo o Estado do Rio de Janeiro e com o país, logo os investimentos em hotelaria de turismo de negócios, flats, gastronomia, entretenimento, repouso para idosos podem ser uma forma de revitalizar os empreendimentos que hoje se encontram com dificuldades de rentabilidade”, apontou.
Ainda segundo o secretário, o mercado de motéis é um setor muito fechado. “Na sua imensa maioria, os empreendimentos possuem um modelo de participação acionária muito pulverizada, ou seja, vários sócios de uma mesma empresa. O que dificulta qualquer mudança de cultura na forma de gerir o negócio e até mesmo de opinar”, contou.
Para o presidente da Associação Comercial e Empresarial de São Gonçalo (Acesg), Evanildo Barreto, um dos fatores para o declínio foi a localização ruim.
“Essa modalidade de hospedagem não pode se instalar em área urbana e, ao longo dos anos, as vias RJ-104 e RJ-106 utilizadas apenas como passagem, passaram a ser urbanizadas e muitos empreendimentos estavam localizados em áreas consideradas de risco”, argumentou.