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Primeiro longa de diretor gonçalense já está em produção

'Proteção' é dirigido pelo cineasta Alberto Sena

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 16 de junho de 2019 - 12:38
Reportagem de OSG acompanhou as gravações de cenas em um casarão em Santa Teresa
Reportagem de OSG acompanhou as gravações de cenas em um casarão em Santa Teresa -

Por Rennan Rebello

Ao longo dos anos, O SÃO GONÇALO vem acompanhando as atividades do coletivo Ponte Cultural capitaneado pelo cineasta Alberto Sena e jornalista Marcos Moura. Além das iniciativas socioculturais na região, eles também têm inserção no circuito da sétima arte, seja por meio da organização do ‘Cine Tamoio’, que é o único festival de cinema de São Gonçalo desde 2016, ou através de trabalhos dos quais é preciso pôr em prática a expertise que a cinematografia exige.

Desta vez, o grupo trabalha em um longa-metragem, ‘Proteção’, em co-produção com a Kbra Produções, do ator Érico Brás (que também faz parte do elenco). A direção fica por conta de Sena, que também dirigiu o videoclipe ‘Batuque de Angola’, cuja música fez parte da trilha sonora da telenovela portuguesa ‘Ouro Verde’ da TVI e foi interpretada pela cantora e atriz Zezé Motta.

A reportagem de OSG pegou o tradicional bondinho carioca e subiu o morro de Santa Teresa, Zona Central do Rio de Janeiro, para acompanhar o terceiro dia de filmagens da equipe de produção do filme que aconteceu no casarão ‘Sonho de Papagaio’. Entre a correria típica de um set de cinema, o diretor Alberto Sena abriu a ‘caixa de Pandora’ e conversou sobre o processo criativo e bastidores da obra cinematográfica que de ‘Atoto Obaluayé’ (que significa uma saudação ao orixá Obaluayé) passou a se chamar ‘Proteção’.

“A razão de trocarmos o nome ‘Atoto Obaluayé’ foi pelo fato de que poderia criar barreiras e resistências de outras pessoas de fora do Candomblé, mesmo que nosso filme não se trate de Candomblé. Contudo, sabemos que este nome poderia gerar intolerância ou ignorância - que é a falta de conhecimento de algo - mas como queremos atingir o maior número de pessoas possível, optamos pela alteração do título para ‘Proteção’”, explicou Sena que revelou que seu primeiro longa será uma ficção científica e trabalhará com questões do racismo estrutural no Brasil.

“A história é sobre um biomédico que passou a vida estudando para salvar pessoas e depois ele decide em matar. Este personagem retorna ao Brasil e assume os negócios da família. O nosso protagonista é negro assim como os outros sete atores principais, aliás, só temos um branco. Quando escrevi esse roteiro eu pensei em algo que gostaria de ver. Por exemplo, neste cenário que descrevi quando se pensaria em um negro na casa de uma família rica como esta a não ser que estivesse trabalhando? Então é deste lugar que gostaria de falar, é uma forma de falar de reparação social e de não romantizar o racismo contando a saga de um negro que conseguiu superar as adversidades e se deu bem na vida. Eu não quero contar a história do Pelé mas sim, tirar essa referência de que o negro que sempre tem que correr atrás”, contou o diretor.

Na pausa para o almoço que foram marmitas com comida fitness trazidas de São Gonçalo por terem sido cedidas pela ‘Taqui’ do Mutuá, o experiente ator Wilson Rabelo, que também trabalhou no filme brasileiro ‘Bacurau’ e que recentemente ganhou o ‘Prêmio do Júri’ no Festival de Cannes, na França, se mostrou entusiasmado em estar atuando na produção dirigida pelo cineasta gonçalense.

“Eu sinto que esse tipo de filme mostra a posição de nosso povo contra a história oficial que nos é imposta. Além disso, estou muito a vontade trabalhar com Alberto que nos permite em construir personagens dinâmicos, trazendo a nossa vivência para montar o caráter. Por exemplo, como meu personagem tem três filhos, logo, estamos em um núcleo familiar e o nosso processo de construção é que cada um traga sua experiência pois a família é um intercâmbio de personalidades para que todos possam ter um pouco de cada um”, relatou Rabelo.

Ao todo, o filme usará cinco cidades como locação: Nova Friburgo, Rio de Janeiro, Niterói, São Gonçalo e Rio Bonito e apesar das filmagens já estarem a todo vapor, a produção usou a internet para empreender um financiamento coletivo; onde internautas poderão contribuir financeiramente em prol do desenvolvimento do filme e ainda poderão ganhar recompensas estipuladas no portal da ‘vaquinha virtual’ desde a nome nos créditos do filme à camiseta e par de ingressos para a avant-première (noite de estreia).

Os interessados em contribuir podem acessar o site: www.catarse.me/atotoobaluaye. 

Filme vai virar livro!

É muito comum no cinema, o filme ser inspirado em um livro. No caso de Proteção, o roteiro de cinema inspirou a literatura e fez o escritor Leandro Silva, que também é produtor executivo da versão cinematográfica e também, em adaptar o filme para o livro que será lançado junto com a película que deverá primeiro entrar no circuito de festivais no ano que vem. “Eu enxerguei o potencial do filme e em reunião com Alberto decidimos que eu adaptaria o livro. Na minha narrativa não mudei a história original, porém, inclui algumas elementos como diálogos maiores. A publicação será pela editora Makir”, comentou Silva.

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