Transferência de endereço de biblioteca não agrada gonçalenses

Por Daniela Scaffo

A presença de museus e bibliotecas em municípios brasileiros é menor do que há quatro anos. É o que revela a Pesquisa de Informações Básicas Municipais e Estaduais (Munic), divulgada essa semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

São Gonçalo, por pouco, não entrou na estatística. Quase seis meses depois de ser fechada, a Biblioteca Pública Municipal de São Gonçalo foi reaberta no último dia 17, no prédio anexo da prefeitura, na Secretaria Municipal de Educação, na Travessa Uriscina Vargas, 36, Mutondo, a quase quatro quilômetros de distância da antiga sede, que ficava no Centro de São Gonçalo, no Centro Cultural Joaquim Lavoura.

Apesar de toda infraestrutura, a localidade que foi escolhida pelo poder público municipal para abrigar a nova biblioteca, não foi bem vista pela população. O professor de geografia Rennan Pereira, informou que, no local, não há nenhuma seta informando onde fica o novo espaço.

"Antes da inauguração, a prefeitura chegou a anunciar como Alcântara e só depois falaram que a biblioteca ficaria no Mutondo. Ali na rua principal não tem nenhuma seta, nenhuma informação apontando onde fica o novo espaço. Ninguém imagina que a biblioteca está dentro da sede de uma autarquia administrativa", explicou.

Outro ponto apresentado pelo professor, foi o fato de a biblioteca não ter nenhuma atividade ou anúncio de eventos.

"Não tem nenhum cartaz pela cidade falando sobre a biblioteca. É um espaço que não se comunica com a cidade, muito mal nas redes sociais. A única atividade que fez foi na inauguração. Não sabemos se há agenda para outros eventos. Além disso, qual é o horário de funcionamento? Por que não funciona sábado e domingo para estudos? Tem universitários e adultos que também estudam", informou Rennan.

O escritor Rodrigo Santos, de 43 anos, e um dos criadores do "Uma Noite na Taverna", também reclamou da dificuldade de acesso ao prédio onde foi colocada a biblioteca. 

"Eu acho a localização ruim. Um governo que aluga salas em shopping, colocar a biblioteca pública tão escondida... Isso sem contar a dificuldade de acesso: tira do Lavourão, que era central e cruzado por linhas de ônibus de toda a cidade, e coloca ali no galpão", informou o autor de “Máscaras Sobre Rostos Descarnados”, “Brechó de Almas”, “Mágoa” e “Macumba”.

E emenda: "Eu tenho uma ideia, tentei até entrar em contato com o secretário. A biblioteca deveria comprar dois exemplares de todo livro que for lançado por autores gonçalense e se criar uma estante, com destaque, para autores da cidade. Isso mexeria com a autoestima dos cidadãos. Imagina, molecadinha de escola chegando lá e vendo uma estante 'escritores gonçalenses'? Além de que isso valorizaria o trabalho dos autores. E não é caro e pode, inclusive, ter apoio de iniciativa privada. Mas cadê? Não há interesse, a verdade é essa", declarou o escritor, que prometeu doar alguns exemplares dos livros que publicou para a biblioteca.

Representante do Fórum Gonçalense de Cultura, Cleise Campos, declarou que existe um equivoco de gestão na cidade, com a Biblioteca na Secretaria de Educação, sem a existência de cumprimento de um Programa Municipal. Segundo ela, a Política do Livro e Leitura (onde estão situadas as bibliotecas), deveriam estar na pasta da Cultura, seguindo a estrutura Estadual e Federal.

Cleise ainda questionou a respeito das iniciativas para o fomento e incentivo da leitura em São Gonçalo, cidade com mais de 1,2 milhão de habitantes, e a segunda maior rede de ensino municipal do Estado.

"A política do Livro e Leitura/Bibliotecas, são tratadas na Cultura. Onde está o Plano Municipal do Livro e Leitura de São Gonçalo, na sequência do Plano Estadual e Nacional, onde são estabelecidas as diretrizes e metas do programa a ser cumprido? No Fórum Gonçalense de Cultura, questionamos a Prefeitura quanto a retirada da biblioteca do Lavourão. Afinal, São Gonçalo necessita de bibliotecas em todos os distritos, bem como a manutenção da biblioteca referência no Lavourão, de anos e anos funcionando neste local", disse.

A biblioteca - A Biblioteca Pública Municipal de São Gonçalo foi inaugurada em 1942 com o nome de Biblioteca Municipal Genebaldo Rosas, sendo transferida para o Centro Cultural Joaquim Lavoura em 1988. 

Com 128 metros quadrados, o novo espaço no Mutondo conta com computadores e infraestrutura para atender aos munícipes, sejam estudantes, professores, pesquisadores e todos os que necessitem utilizar o local. Segundo a prefeitura, ela foi planejada dentro do conceito de biblioteca viva. Dessa forma, a Genebaldo Rosa terá área de convivência e abrigará diversas atividades como o café literário e a contação de histórias, tudo para incentivar ainda mais o gosto pela leitura no município.

O acervo, que já conta com mais de 20 mil livro, recebeu uma doação da Fundação Darcy Ribeiro, garantindo a ampliação dos exemplares. A Biblioteca Municipal Genebaldo Rosa fica na sede da Secretaria Municipal de Educação, na Travessa Uriscina Vargas, 36, Mutondo. O espaço fica aberto ao público de 9h às 17h, de segunda a sexta-feira e conta com acessibilidade.