Eles transformam a história e fazem a diferença

Daniela Scaffo 

Por vezes, ao lermos histórias inspiradoras, pensamos que é preciso ter idade e experiência para fazermos a diferença no local onde vivemos, impactando até mesmo o mundo todo. Alguns nomes conhecidos são exemplos de determinação, entre eles: os americano, Dylan Mahalingam e Katie Stagliano; o paquistaneses, Iqbal Masih e Malala Yousafzai; o francês, Louis Braille; o canadense, Ryan Hreljac; entre outros. 

Mas não é preciso ir muito longe para encontrar jovens com menos de 30 anos que estão transformando a história do local onde moram. Esse é o primeiro capítulo da série que O SÃO GONÇALO irá apresentar aos domingos, histórias de fluminenses que estão impactando positivamente a região.

Um desses exemplos é o empresário e professor Saullo Diniz, que com apenas 26 anos, já transformou a vida de milhares de pessoas no município onde foi criado e mora até hoje. O sonho do jovem, que começou aos 18 anos, já foi transformado em três grandes polos do colégio e curso Start, que tem unidade no Centro de São Gonçalo, em Alcântara e em Itaboraí.

"Quando eu tinha 18 anos, após ter um bom desempenho no vestibular, tive a oportunidade de começar a dar aula no curso em que estudava. Apenas 6 meses depois, sai e junto de outros professores, criei o Colégio e Curso Start. No início era apenas uma sala comercial comum de 25m² com um banheiro dentro, em Nova Cidade. O Start se resumia a essa sala de aula, 25 cadeiras, um quadro, um bebedouro e um ar condicionado que foi emprestado por um dos sócios, em 2012. De lá pra cá, mesmo com a sociedade, assumi como diretor da empresa que hoje conta com 3 unidades", contou Saullo, que cresceu no bairro Zé Garoto e que mora atualmente no Barro Vermelho.

Os três polos, segundo Saullo, contam com 600 alunos e colecionam resultados 'gigantescos' nos vestibulares, sendo mais de 950 aprovações com destaque para as 53 aprovações em medicina (15 apenas em 2018), que é o recorde absoluto da região, 250 em engenharia e 90 em direito. O empresário, que se formou em geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 2016, atualmente faz MBA em Gestão Empresarial na Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Mas foi aos 17 anos, enquanto cursava o 3º ano do ensino médio no Colégio São Gonçalo que, pela primeira vez, foi encorajado a pensar em um curso superior. Segundo Saullo, naquela época, ele se encantou pelo viés social da sala de aula e prestou vestibular para Geografia, porque era a disciplina que mais lhe agradava. Quando fala de impacto na vida de outros gonçalenses, o jovem conta que não quer ser espelho para os outros, mas um trampolim.

"Eu cresci numa cidade em que qualquer adolescente sabe mais nomes de armas do que de livros. Num lugar onde não há alternativas, não há possibilidades. Um gonçalense que quisesse seguir a carreira de médico há 10 anos atrás não teria possibilidade nenhuma de realizar isso, a não ser que tivesse uma boa conta bancária, o que não é realidade de 99% das pessoas de São Gonçalo. Eu falo sempre para os alunos do Start: 'vocês são a flecha e eu sou o arco. Eu vou lançar vocês mais longe do que eu pude chegar, vou trabalhar pra vocês irem onde eu não pude ir'. Agora eu recebi gente no Start que tem todo tipo de sonho e mais do que isso, recebo pessoas que sonham grande e que podem realizar. Quando eu tinha a idade deles, isso era impossível pra quem morava aqui, agora não mais. Acredito que o impacto seja esse: a possibilidade dos sonhos de uma juventude acostumada a não sonhar e que eu seja uma ponte para os sonhos.", explicou o empresário.

Filho de uma professora de educação infantil, Saullo fala, sem dúvidas, que a inspiração para ser influência positiva na vida de outras pessoas veio da sua mãe. Segundo ele, a educação é como um infinito de possibilidades, literalmente ter opções de vida a escolher.

"A minha vida, talvez, seja o melhor exemplo do poder transformador da educação em alguém e, nesse meio, eu não poderia deixar de destacar a influência da minha mãe, uma professora dos municípios de Niterói e São Gonçalo. Nossos pais, em sua maioria, não tiveram opção a seguir, muitos seguiram o que apareceu, alguns seguiram a opção dos pais deles. Educação é uma garotada poder sonhar, poder ir e chegar onde os pais não chegaram. É caminhar em mundos que os pais nem ouviram falar. Educação é um processo esperançoso pela busca de algo melhor do que temos hoje. Educação é o que eu tenho tentado fazer em São Gonçalo ao proporcionar aos filhos de mãe solteira, aos estudantes de escola pública, aos filhos de trabalhadores precarizados, que eles tenham acesso à universidade pública e transformem suas vidas", emendou.

Para as próximas gerações, Saullo conta que espera poder parar um menino na rua e descobrir qual o livro que ele mais gosta. " Quero poder saber que a molecada não vai ter que deixar de ir pra aula por conta de tiroteio. Quero chegar numa escola e ouvir das crianças os mais doidos e ousados sonhos. Quero, em outras palavras, que qualquer pessoa possa ver no mundo um infinito de possibilidades, essa é a minha definição de educação. Não quero ver a molecada vendo o crime como única opção. Essa é a próxima geração de pessoas que quero ver", finalizou.