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Morte do menino João Pedro gera comoção, homenagens e revolta na internet

"Cheio de sonhos", lamentaram familiares e amigos do adolescente

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 19 de maio de 2020 - 17:01
O adolescente João Pedro era um jovem querido pela comunidade e pelos colegas de escola
O adolescente João Pedro era um jovem querido pela comunidade e pelos colegas de escola -

Por Thalita Queiroz e Daniel Magalhães*

A vida cheia de sonhos de um menino de comunidade foi interrompida nessa segunda. Em casa, como pedem as autoridades, o estudante João Pedro, de 14 anos, foi mais uma vítima da polícia, do estado. "Mais um". Essa é a frase que ecoa nas redes sociais com o caso de mais um jovem negro assassinado nas comunidades do Rio pelas mãos de quem o devia defender. A morte do adolescente de 14 anos causou comoção em todas as redes sociais ao lembrar que a vida de João Pedro se tornou apenas mais uma em uma triste estatística que cresce cada vez mais no estado. 


Gabriel Lima, de 23 anos, acompanhou o crescimento de João Pedro de perto e garante que a dor que eles sentem hoje é inexplicável. “O João sempre foi muito brincalhão, ele andava com a gente que era um pouco mais velho e sempre gostou de saber de tudo, um menino que se sentia gente grande”, relembra com carinho o amigo de infância que não conseguiu nem se despedir do seu ‘pequeno grande parceiro’.



O amigo de João reforça que o adolescente não fazia parte do tráfico de drogas, muito pelo contrário, seguia com obediência os ensinamentos da família. “Ele ia para o culto todo domingo, estava sempre pronto para ajudar quem fosse. Se alguém precisasse carregar um instrumento ele estava lá para ajudar”, conta ele.



João Pedro, mesmo tão jovem, já sabia o que queria seguir como carreira. Ele queria ser advogado. “Tudo isso que aconteceu foi uma crueldade, ele tinha tantos sonhos, a gente quer é que as pessoas se conscientizem da dor desta família”, lamenta Gabriel.



As manifestações de carinho com o menino e o sentimento de injustiça continuam a surgir nas redes sociais. Uma amiga do jovem relembrou como o conheceu e sua personalidade marcante: “Minha história com João Pedro começou no 6° ano, em 2017. João Pedro sempre foi aquela criança brincalhona e que fazia de tudo para tirar um sorriso do rosto de qualquer um. Me recordo de uma vez que o João levou um cobertor para a escola e se cobriu no meio da aula. Ali eu pude ver o quanto era ingênuo e sincero”, relata ela em sua rede social.



“Quem realmente conheceu o João Pedro sabe que ele era incapaz de fazer mal a qualquer pessoa! Não tinha nenhum envolvimento com o tráfico ou qualquer coisa do gênero! Mas infelizmente, uma infinidade de sonhos foi interrompida por um ato de pura covardia”, lamenta a jovem.



Comoção entre influenciadores, artistas e políticos


Deputados, artistas e influencers demonstraram a revolta com mais um caso de violência nas periferias do Rio e usaram suas vozes para que João Pedro não seja esquecido e pedirem investigações rigorosas sobre o que aconteceu com o adolescente. Palavras e frases como ASSASSINADO e PAREM DE NOS MATAR entraram nos assuntos mais comentados das redes sociais para exclamarem a indignação com o assassinato do jovem. Em grande parte dos casos, as pessoas ressaltam que o corpo de João Pedro só apareceu por conta da comoção popular.


"João Pedro era só uma criança brincando dentro de casa. Essas balas perdidas têm sempre o mesmo alvo. A carne mais barata do mercado é a carne negra.", escreveu a influencer e vencedora do BBB 18, Gleici Damasceno.


A atriz Taís Araújo também se posicionou sobre o caso, ressaltando que os pais do adolescente ficaram horas sem receber notícias sobre o próprio filho.



"João Pedro brincava em casa quando foi baleado. Levado pelo Estado, sua família ficou até agora de manhã sem notícias, quando seu corpo foi encontrado no IML. Mais um jovem negro assassinado. Até quando vamos continuar perdendo os João Pedros deste país? #JoaoPedroPresente", escreveu.



Políticos como o ex-presidente Lula e Guilherme Boulos se posicionaram contra o assassinato de mais um jovem negro e responsabilizaram o Estado pela morte do adolescente.



"A Polícia matou um menino chamado João Pedro, de 14 anos de idade, em São Gonçalo. O Estado não está nas periferias pra oferecer saúde, educação, cultura, lazer. Não existe mais esse papel do Estado.", escreveu Lula.



"O corpo do garoto João Pedro foi localizado agora no IML após ser morto pela PM do Rio. Mais uma vítima da política de segurança genocida contra pobres e negros. Witzel posa de "defensor da vida" na pandemia, mas é agente da morte nas favelas cariocas.", exclamou Boulos.



A vencedora da 20ª edição do Big Brother Brasil repostou a charge do artista Nando Motta com a tag #VidasNegrasImportam. O artista criou a imagem para prestar homenagem ao jovem e mostra ele sendo recebido por Ágatha, a menina de oito anos morta por policiais no Complexo do Alemão em 2019. 

BOPE inicia nova operação na Comunidade do Salgueiro nesta terça (19)


As buscas e apreensões na comunidade do Salgueiro, em São Gonçalo, seguem nesta terça (19). Segundo informações da Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar, policiais militares do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) já estão pela região. Até o momento, não há informação de prisão ou apreensão. 



Na tarde de ontem (18), a Polícia Federal, com a Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), realizaram uma operação em diversas localidades do Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo. Durante a ação, os agentes viram três criminosos fugindo para o interior de uma residência - onde João Pedro estava - e começou uma busca pelos criminosos.



Na ação, os policiais afirmaram que os criminosos realizaram diversos disparos em direção aos agentes e iniciou-se uma intensa troca de tiros. Logo depois, os policiais encontraram o jovem caído no chão e socorreram a vítima para um hospital da Lagoa, onde a criança não resistiu aos ferimentos e veio a óbito.

Estagiários sob supervisão de Cyntia Fonseca*

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