Instagram Facebook Twitter Whatsapp
Dólar R$ 5,6788 | Euro R$ 6,1388
Search

Jovem negro é preso em Niterói e família acredita em racismo: "eu não fiz isso", disse ele

Defesa alega que fisionomia de Danillo não bate com a descrição do criminoso

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 20 de agosto de 2020 - 15:45
Danillo e Ana Beatriz tem um filho de um ano e já estão há dois anos juntos
Danillo e Ana Beatriz tem um filho de um ano e já estão há dois anos juntos -

Por Ana Carolina Moraes*

"Eu não fiz isso, pede pros meus pais orarem por mim, me tira daqui!", esse é o relato emocionado de Danillo Félix Vicente de Oliveira, de 24 anos, que atualmente vendia roupas para sustentar sua família. Danillo foi preso no dia 6 de agosto após ter sido acusado de roubo com a utilização de armas. O crime teria ocorrido em 2 de julho e, segundo a advogada Cristiane Lemos, a polícia não tem nenhuma prova contra Danillo e ele não se parece fisicamente com as descrições dadas pela vítima do criminoso que cometeu o roubo. A advogada categoriza o caso de Danillo como resultado de um racismo.

Danillo estava andando na rua com um amigo no dia 6 de agosto quando foi abordado por policiais que estavam em um carro branco, descaracterizado, à paisana. Ele, sem entender nada, foi encaminhado para a 76ª DP (Centro de Niterói), quando descobriu que estava sendo acusado do crime de roubo.

Danillo, no entanto, segunda o defesa, não possui as mesmas características físicas do assaltante que cometeu o furto no dia 2 de julho e foi isso o que chamou a atenção dos familiares do homem que se jura inocente.

Danillo é moradora da Comunidade da Chácara e do Arroz, em Niterói
Danillo é moradora da Comunidade da Chácara e do Arroz, em Niterói |  Foto: Arquivo pessoal
 

 "Ele foi acusado de roubo a mão armada, sendo que as característica do assaltante eram as de um rapaz pardo de bigode fino, mas o Danillo é um rapaz negro com dreads. Se a vítima tivesse sido assaltada por ele, ela logo teria dado as características dele", afirmou a companheira de Danillo, Ana Beatriz Sobral Faria, de 21 anos. 

Além de alegar que as características do assaltante são diferentes das de Danillo, a advogada diz ainda que os policiais não investigaram as imagens das câmeras de segurança do local onde ocorreu o suposto assalto no dia 2 de julho.

"Ao fazer o registro da ocorrência do roubo com arma de fogo, a vítima disse que as câmeras de segurança filmaram o ocorrido, mas a delegacia não se deu ao cuidado de fazer a recuperação das câmeras. Se fizessem teríamos a certeza de que não é o Danillo nas filmagens e de que ele é inocente. O roubo ocorreu no Centro de Niterói, às 22h", disse Cristiane Lemos, de 31 anos, a advogada do caso. 

Além disso, a advogada conta que os agentes mostraram para a vítima uma foto de Danillo de 2017 para incriminá-lo. "Dois dias após a ocorrência, a vítima foi até a delegacia para reconhecer o suspeito do caso através de uma fotografia. Chegando lá, ela reconheceu o criminoso que fez o assalto nas fotos de registro da delegacia, ela reconheceu uma outra pessoa como o assaltante e não Danillo. Mas, depois os agentes pegaram uma foto do Facebook de Danillo de 2017 e mostraram para a vítima, que mudou seu depoimento e afirmou que Danillo era o culpado, sendo que ela já tinha reconhecido outra pessoa nos registros da delegacia. Danillo nunca teve ficha criminal, por isso, os agentes pegaram a foto do Facebook dele para incriminá-lo. A gente sabe que a aparência muda em três anos.", contou Cristiane. 

Danillo segue muito mal com toda essa situação. Anna Beatriz afirmou que tem sido um momento difícil para a família. "Quando eu o encontrei ele estava tremendo muito, ele pediu "me tira daqui, eu não fiz isso, pede pros meus pais orarem por mim". É muito difícil, o Danillo seria recontratado no emprego antigo dele, estávamos lutando todos os dias para correr atrás dos nosso sonhos e acontece isso de ele ser acusado por um crime que ele não cometeu", disse a companheira dele, que também vendia roupas com Danillo antes do ocorrido. A advogada de Danillo, Cristiane, também afirma que ele está muito febril e abatido com essa acusação que fere também a dignidade dele.

Após ter sido preso, Danillo foi encaminhado para a 76ª DP (Centro), mas hoje já está no Presídio ISAP Tiago Teles de Castro Domingues, em São Gonçalo. Ele aguarda que tudo se resolva e que comprovem a sua inocência no crime pelo qual está sendo acusado. 

Cristiane, que faz parte da defesa de Danillo, busca a recuperação das imagens das câmeras de segurança do local onde ocorreu o furto do qual o jovem é acusado para que, assim, a Justiça analise que não foi Danillo quem cometeu o crime. "Fizemos o pedido de revogação da prisão preventiva dele e está em análise com a juíza na 1ª Vara Criminal da Comarca de Niterói. Já tivemos um pedido desfavorável no Ministério Público (MP) que afirmou que os dreads poderiam ter sido colocados por Danillo após o delito, mas ele tem esses dreads desde 2019. Deve haver o reconhecimento de falha da delegacia, da falta de cuidados nos registros das câmeras e a ideia de um racismo social. A família de Danillo busca recorrer e está gastando tudo que pode, tanto financeiramente quanto psicologicamente, para resolver o caso", afirmou a advogada.

Em nota, a Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro informou que "de acordo com a 76ª DP (Niterói), o inquérito foi concluído com base nos elementos produzidos nos autos e submetido à apreciação do Ministério Público na forma da lei".

O caso gerou indignação de todos. A Associação de Moradores da Comunidade da Chácara e do Arroz, local onde Danillo mora, junto com a Comissão de Direitos Humanos da Alerj, busca resolver o tema. Todos do local afirmam que "Danillo é nascido e criado na comunidade e nunca teve envolvimento com nenhum crime". Em conjunto, os órgãos criaram uma petição para ajudar no caso, o documento hoje já tem mais de 5 mil assinaturas e o objetivo é chegar até 7.500 para atrair os olhares das pessoas para o caso. Para quem quiser assinar a petição, acesse o link a seguir: Danillo não pode ser mais uma vítima desse Estado racista.

*Estagiária sob supervisão de Thiago Sores

Matérias Relacionadas