Família de menino baleado em Niterói acusa hospital de negligência: "Tem uma bala alojada no corpo do meu filho"
Ney Carlos, pai do garoto, conta como foi o descaso médico que originou a situação
*Por Luann Motta Carvalho
"Isso está me deixando muito deprimido, culpado e revoltado. Ainda mais com a péssima atenção médica do Estado. Eles causaram essa situação na vida de uma criança inocente. Agora eu não recebo apoio e nenhuma resposta sobre esse fragmento alojado no corpo dele. A vida do meu filho é muito valiosa para mim"
O relato emocionado é do morador do Caramujo, em Niterói, Ney Carlos dos Santos Chagas, de 34 anos, que no último dia 28 de outubro, viu a sua vida virar do avesso. Seu filho Kauã Ney Xavier Chagas, de 8 anos, foi baleado durante uma troca de tiros entre criminosos e policiais do 12º BPM (Niterói), na Engenhoca. A família passava de carro no momento da perseguição e um dos disparos, acabou perfurando a lataria do veículo e atingindo a criança que estava sentada no banco de trás do automóvel.
Segundo Ney, na ocasião, uma outra viatura que passava no local o ajudou a socorrer a criança para o Hospital Azevedo Lima (Heal), no Fonseca.
" Fui à casa de um amigo da minha esposa levar um documento de trabalho que havia esquecido de entregar durante a tarde. Estava com minha esposa e o Kauã no carro. Na altura da Rua João Brasil, nós vimos uma viatura em alta velocidade e isso me chamou a atenção. Eles seguiam um HB20 marrom. Mesmo em sentido contrário eu fiquei preocupado. Poucos segundos depois, este veículo passou do meu lado e escutei dois disparos. Então a minha esposa começou a gritar e chorar e meu filho também, pois os disparos foram feitos a poucos metros do carro. Eu parei para tentar tranquilizá-los e foi quando vi o meu menino ferido", lembrou Ney.
Segundo o pai, uma outra viatura da PM passou pela região e o ajudou a levar a criança ao hospital.
" No hospital uma enfermeira me proibiu de acompanhar o procedimento e foi muito ríspida comigo. Fui tratado com um desrespeito enorme. Ao final do atendimento médico eu perguntei sobre a situação do Kauã e me informaram que eu filho não tinha projétil no interior de seu corpo. Me mandaram para casa sem nenhuma prescrição médica. A única orientação era fazer curativo. Depois de três dias fui ao hospital pedir o resultado da tomografia computadorizada. Ali meu sentimento era de que estava tudo bem, mas para minha surpresa eu vi que dentro dele há um fragmento, possivelmente de bala ou até o próprio projétil inteiro que não achei dentro do meu carro”, explicou
Ney conta que pediu para que o médico reavaliasse o exame e recebeu uma resposta negativa. " Falaram que se o médico liberou é porque ele estava bem. A recomendação era buscar o Getulinho ou no Hospital Estadual Alberto Torres, em São Gonçalo. Ou seja, meu filho é uma vítima do Estado, está com um objeto dentro do copo e simplesmente lavaram as mãos?", questionou Ney.
Ney disse que espera uma posição do Estado. " Causaram um dano psicológico no meu filho que sempre foi uma criança maravilhosa, mas hoje teme ir à rua. Precisamos saber o que é isso. Uma bala, fragmentos? Tem um corpo estranho dentro dele. Não descarto processá-los", afirmou.
O pai contou que Kauã, apesar de reclamar de dores, está bem no momento. "Ainda tem o ferimento e os curativos diários, e ele às vezes reclama de uma dor, mas está andando e brincando, é uma criança forte, ativa e muito querida". relatou ele. Contudo, Ney Carlos pede um acompanhamento médico em busca de estabilizar a saúde do filho. "Tem uma bala alojada no meu filho. Preciso de ajuda. Preciso que o estado termine o atendimento, me mantendo informado e explicando os cuidados que tenho que tomar, se é melhor retirar ou não o metal que está dentro dele e deixando isso por escrito, para que no futuro se houver alguma complicação, eu tenha informações e dados do caso", afirmou.
Segundo Ney Carlos, o susto gerou alguns traumas. "Eu mesmo não tenho dormido bem, tenho tido pesadelos e momentos de tristeza profunda. Ainda me vem à cabeça a possibilidade de que Kauã poderia ter perdido sua vida ou ficar com sequelas graves diante da situação que vivenciamos. Toda minha família está assustada", comentou o pai.
Procurado pelo OSG, o hospital ainda não respondeu sobre o caso.
*Estagiário sob supervisão de Marcela Freitas