Corpo de idoso morto por Covid-19 é trocado em hospital de Niterói
Duas famílias sofrem com uma confusão feita pelo Hospital Icaraí
"Imagina você enterrar seu parente duas vezes? Dá para ter noção da dor que é?" Essa foi a frase dita pela produtora Carla Cordeiro, de 48 anos, familiar de Ulisses Gonçalves Ribeiro, de 68 anos. A família do idoso resolveu denunciar uma situação de descaso que se tornou um pesadelo para eles neste fim de ano. Segundo Carla, Ulisses faleceu, vítima de Covid, no último sábado (26), no Hospital Icaraí, após ficar internado por cerca de quinze dias. No entanto, após uma confusão do hospital, a família do idoso acabou enterrando uma mulher no lugar dele e eles só souberam disso após o sepultamento do corpo. Acredita-se que o corpo enterrado no lugar de Ulisses seja de M. N. S. C, de 87 anos, que faleceu no domingo (27), também vítima de Covid.
Ulisses, que morava no Jardim Miriambi, em São Gonçalo, foi internado com suspeita de Covid em novembro, no entanto, ele conseguiu alta após uma liberação médica, que afirmou que ele estava curado. Após isso, no dia 11 de dezembro, Ulisses retornou ao hospital com mais sintomas da doença e foi internado no Centro de Terapia Intensiva (CTI). O idoso, no entanto, não resistiu e veio a óbito no sábado (26). A família que já tinha que conviver com o luto, agora teve que conviver com o descaso, pelo menos é como se sente Carla.
"O hospital nos ligou dizendo que ele faleceu no sábado de noite. Meu sobrinho foi logo lá, com todos os documentos necessários, para reconhecer o corpo e prosseguir com o enterro de Ulisses. Como ele morreu de Covid, meu sobrinho teve que usar uma roupa especial e só conseguiu ver a barriga e o rosto de Ulisses no reconhecimento do corpo. Após confirmar que era o idoso, fizemos o enterro no domingo no Cemitério Parque da Paz", disse Carla.
Foi no enterro que a dor de cabeça da família aumentou. "Como ele morreu de Covid, o enterro foi todo feito de caixão fechado. O sepultamento ocorreu às 16h30. Após isso, no mesmo dia, por volta das 20h30, meu sobrinho recebeu um telefonema do Hospital Icaraí falando que o corpo de Ulisses ainda estava lá. Fomos ao hospital e lá soubemos que o corpo que enterramos pode ser o de uma idosa, pois a família dela foi ao hospital e não viu o corpo da mesma no necrotério de lá. A idosa teria morrido no domingo mesmo", relatou Carla que é tia do marido de Daiane Lessa Ribeiro, filha de Ulisses.
Agora, a família precisa de ajuda judicial para abrir o túmulo que é considerado o de Ulisses para ver qual corpo está realmente no caixão. "Agora, segundo a advogada, precisamos de um alvará assinado por um juíz para abrir o caixão de Ulisses e ver qual corpo está lá. É um constrangimento. A senhora enterrada ainda teria pago 10 anos para ser cremada e, no final, pode ter sido sepultada no lugar do Ulisses. O hospital até me deu um papel lá dizendo que deram o corpo errado, mas precisamos de um juíz e, com o recesso de final de ano, as coisas podem se complicar. Enquanto isso, as famílias continuam sofrendo com esse constrangimento de espera", disse Carla emocionada.
Em nota, o hospital explicou a situação. Veja na íntegra:
"O Hospital Icaraí (HI) esclarece que a liberação de corpos desta unidade hospitalar segue criteriosamente o seguinte protocolo: documento de liberação e reconhecimento preenchido pelo maqueiro que realiza o reconhecimento do corpo junto com o familiar. O saco mortuário é etiquetado com nome, data de nascimento, hora e data do óbito. Após o reconhecimento, a funerária faz a retirada. No caso de pacientes com covid 19 o protocolo é seguido conforme determinação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), sendo o corpo lacrado, para que minimize o foco de contaminação.
Quanto ao caso exposto, esclarecemos que um paciente que veio a óbito em 27 de dezembro de 2020, tendo como causa mortis acidente vascular encefálico isquêmico, consequência de uma pneumonia viral SARS-COV2, estava devidamente identificado, aguardando familiares para reconhecimento, foi retirado pela funerária, que fora contratada para retirada de corpo de outro paciente também falecido no Hospital Icaraí , no dia 26 de dezembro, com causa mortis de choque séptico, por complicações por COVID 19, cujo reconhecimento já havia sido realizado por seu familiar, ocasionando o sepultamento indevido. Ressaltamos que ambos os corpos estavam identificados, seguindo todos os protocolos do Hospital Icaraí.
O Hospital Icaraí lamenta o ocorrido e informa que está prestando todo apoio aos familiares para que os trâmites judicias possam ser rapidamente resolvidos.
Reiteramos o compromisso em seguir todos os protocolos recomendados pelo Ministério da Saúde e Vigilância Sanitária. Zelamos pelo bem-estar da população e de quem necessita dos nossos serviços. Prezamos pelo cumprimento de nossos valores e de nossa missão: salvar e preservar vidas."
*Estagiária sob supervisão de Marcela Freitas