Estudantes de Niterói almoçam biscoitos, enquanto prefeito come frutos do mar no Mercado Municipal
Cardápio de escola de Icaraí só tem leite e biscoito cream cracker nas duas refeições. Axel Grael almoçou com assessores e convidados no Restaurante gastronômico Sagrado Mar
"Se os estudantes têm fome e não tem almoço, que comam biscoitos". Ao que parece, o prefeito de Niterói, Axel Grael, e o seu secretário de Educação, Bira Marques, se inspiraram na famosa frase da Rainha da França, Maria Antonieta ("Se o povo tem fome e não tem pão, que coma brioches"), que acabou sendo morta na guilhotina após a Revolução Francesa, para o cardápio da merenda dos alunos da rede municipal. Na última terça-feira (25/07), a Escola Municipal Professor Paulo de Almeida de Campos, em Icaraí, publicou em suas redes sociais o cardápio do dia para os estudantes, composto apenas de leite com biscoitos de maizena e cream cracker para o almoço, o jantar, o café da manhã e o lanche da tarde. A justificativa é de que a cozinha da escola está em obras.
Nesta quinta, o prefeito Axel Grael, acompanhado da esposa, de assessores e convidados, almoçou numa mesa farta de peixes e frutos do mar, no restaurante gastronômico Sagrado Mar, durante a inauguração do Mercado Municipal de Niterói.
A fotografia do cardápio, publicada nas redes sociais, chamou a atenção da vereadora Benny Briolly (PSOL), que considerou o fato "inadmissível" e prometeu protocolar denúncia ao Ministério Público (MP). "Mesmo com um orçamento anual de 6 bilhões, a Prefeitura de Niterói não consegue garantir o básico, no que se refere à Educação das crianças do nosso município", escreveu a parlamentar em uma publicação no Twitter. Outro vereador da cidade, Professor Túlio (PSOL), também compartilhou uma foto do cardápio e, mais tarde, atualizou o caso com tweets sobre o caso, confirmando que o cardápio era real, mas que foi alterado depois que a Prefeitura enviou um fogão à unidade - segundo ele, motivada por uma denúncia que ele próprio fez.
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A publicação do cardápio da comida da escola circulou nas redes e acabou despertando a atenção de outros internautas, que manifestaram a insatisfação com a situação. "Que absurdo!! Tem que investigar essa gestão! Onde estão os alimentos para os alunos? Leite e biscoitos são lanches e não almoço e/ou jantar!", escreveu uma usuária da rede social. Outros duvidaram se a informação era verdadeira: "gente parece até mentira de tão absurdo".
No mesmo dia, o secretário municipal de Educação, Bira Marques (PDT), publicou um vídeo com registros de uma visita sua à cozinha da escola em Icaraí. "Aproveitei o dia para visitar a unidade e não resisti ao cheirinho da comida!", ele escreveu na legenda, sem mencionar o cardápio divulgado nas redes sociais. Na foto publicada pelo secretário, o único prato servido era macarrão com carne moída. Procurada, a Prefeitura negou que o cardápio divulgado fosse verdadeiro. "Todas as refeições ocorreram normalmente na unidade, que não condiz com o cardápio divulgado pela vereadora nas redes sociais, de forma irresponsável. [A SME] salienta, ainda, que não há qualquer problema na distribuição dos gêneros alimentícios nas escolas, que é rica em legumes, frutas e verduras", escreveu, em nota.
Apesar disso, em conversa com O SÃO GONÇALO, o vereador Professor Túlio informou que o cardápio foi confirmado pela própria direção da escola. “O cardápio é real, foi enviado pela escola na segunda-feira e confirmado pela própria diretora da unidade. O que aconteceu foi que, na terça-feira, após a nossa denúncia nas redes sociais, a Fundação Municipal de Educação (FME) correu para viabilizar um almoço, diferente do que foi previsto no cardápio divulgado, apesar de a obra da cozinha não estar finalizada”, denunciou o vereador.
O vereador complementou dizendo que visitou, nesta quarta-feira (26/07), uma outra escola da rede, a E. M. João Brasil, e também encontrou apenas biscoitos e leite no cardápio. Para ele, isso “mostra que não era um caso isolado da primeira escola, mas uma falha da Fundação no planejamento das obras das cozinhas e na oferta de merenda fria para essas unidades”, finalizou.
Já a vereadora Benny disse que, como presidenta da comissão da criança e do adolescente, repudia a atitude da Prefeitura e que está trabalhando em medidas para averiguar a situação e cobrar melhorias por “uma educação democrática, ampla e popular”.“É mais do que necessário a compreensão de que isso fere os direitos das crianças, dos adolescentes, de direitos constitucionais básicos, que precisam respaldar a permanência dessas crianças nos espaços de educação. Estamos elaborando alguns ofícios, vamos acionar o Ministério Público, as instâncias de educação do município, não só pedindo esclarecimentos desse caso, que não é isolado, mas de outros casos, comos os de saídas da criança mais cedo, de ausência de cozinheiras, falta dos professores de apoio”, disse a parlamentar.
Também ao OSG, a diretora do Sepe de Niterói, Sara Busquets, comentou o caso. "Nessa escola, a cozinha está passando por uma reforma do programa ProCozinha, que visa, segundo o governo, melhorar a saúde das trabalhadoras. O que aconteceu? Essas obras atrasaram e foram feitas sem conversa com as escolas e as trabalhadoras, o que acabou atrasando. Não tinha fogão instalado para preparar a merenda dos alunos. Ao invés da equipe liberar as crianças mais cedo ou cancelar as aulas, serviram esse tipo de alimento. Não tinha nem fogão instalado por conta desse programa, que está sendo executado sem planejamento, sem conversa", contou Busquets.
Sobre o programa, a Secretaria de Educação informou em nota que "está atuando na reestruturação das cozinhas escolares para oferecer melhores condições de trabalho. Na primeira fase do programa, no período de recesso escolar de julho, foram realizadas obras em 12 Unidades de Educação. Também serão adquiridos equipamentos tecnológicos que facilitem o dia a dia nas cozinhas escolares, reduzindo o esforço físico das profissionais".