Caso João Pedro: Comissão da Alerj recebe parentes de vítimas em operações policiais
O menino foi morto com um tiro de fuzil durante uma operação das polícias Civil e Federal, em 2020, no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo
Na véspera do dia em que se completam quatro anos da morte do adolescente João Pedro Mattos Pinto, a Comissão de Combate às Discriminações e Preconceitos de Raça, Cor, Etnia, Religião e Procedência Nacional, da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), recebeu em uma reunião pública nesta sexta-feira (17/05) os pais do adolescente e outras vítimas da violência em ações das forças policiais.
À frente do Colegiado, o deputado Prof. Josemar (PSol) reforçou a importância de os acusados irem a júri popular, conforme solicitou o Ministério Público do Rio (MPRJ) em janeiro deste ano. “A gente quer avançar para que o caso tenha um desfecho. Já se foram quatro anos e o júri popular é o que a família deseja; um júri para que os policiais envolvidos sejam julgados e que a justiça seja feita”, disse o parlamentar, que vai protocolar um ofício à vara de Justiça responsável pelo caso pedindo uma atenção especial ao julgamento.
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O menino foi morto com um tiro de fuzil durante uma operação das polícias Civil e Federal, em 2020, no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo. Segundo testemunhas, o adolescente e mais cinco amigos jogavam videogame, na casa do tio, quando policiais teriam entrado na residência atirando. Os agentes são acusados de homicídio doloso e fraude processual.
“Eles alegam que houve confronto, que entrou bandido na casa, mas eles forjaram essa situação para saírem impunes”, disse Neilton Pinto, que é pai de João Pedro. “Amanhã, completa quatro anos que o meu filho foi tirado de forma brutal da vida da nossa família e até agora não tivemos resposta da Justiça. Estamos aqui para que a vara criminal de São Gonçalo venha fazer um trabalho com responsabilidade”, acrescentou.
Já a mãe do adolescente, Rafaela Santos, compartilhou a dor de procurar o corpo do filho por mais de 17 horas. “A polícia matou o meu filho e ainda tirou o corpo do local sem a família estar presente, disse que estaria socorrendo o João”, afirmou Rafaela, que se preocupa com a demora do julgamento mesmo que seja concedido o júri popular: “Não sabemos quanto tempo mais vamos ter que esperar", questionou.
Memorial
O presidente da Comissão da Alerj afirmou que também vai encaminhar ofícios para que o Governo do Estado reconheça a violação dos agentes e construa um memorial em homenagem a João Pedro e a outras vítimas da violência policial. Ele também vai enviar um ofício solicitando que o Estado se pronuncie oficialmente com um pedido de desculpas.
O dia 18 de Maio, data da morte do João, entrou no calendário oficial do Estado do Rio como o Dia de Luta Jovem Petro Vivo, pela Lei 10.298/24. No próximo dia 28, a Comissão de Combate às Discriminações vai realizar uma abrangente audiência pública sobre as vítimas da violência.
Busca por justiça
Os pais do João Pedro não são os únicos no estado à esperar por justiça pela morte dos seus filhos, como contou a Integrante do Movimento de Mães e Familiares de Vítimas da Violência Letal do Estado, Ana Lúcia de Oliveira, que teve o filho, Michel, assassinado há 16 anos. Ela afirmou que diversas mães não chegam a ver uma conclusão das investigações e os acusados serem condenados.
“É uma violência que a gente sofre até hoje. Muitas mães vão ao fórum e não conseguem respostas. Mas eu acredito na força que nos une; acredito que vamos ter justiça”, disse.
Sônia Bonfim contou que perdeu o filho, Samuel, há três anos com 10 tiros nas costas. Estudante do Colégio da Polícia Militar, ele sonhava entrar para o Exército por influência do avô, que foi paraquedista. Ela reforçou a luta e a dor de outras mães que buscam por respostas. “Ontem mesmo recebi a notícia de uma mãe que se suicidou porque não aguentava mais”, relatou.
Às vezes, a justiça ganha a forma de um simples documento, como contou Bruna Moze, mãe do Marco Luciano, assassinado em 2018. “Estou há seis anos lutando para ter um atestado de óbito com o nome e o sobrenome dele. O Estado me deu um atestado escrito ‘homem de pai e mãe desconhecido e residência ignorável”, contou.
Para essas mães, assim como para o deputado Professor Josemar, a violência praticada contra esses jovens é reflexo de racismo institucional. “Esses processos estão diretamente envolvidos em questões raciais. A bala, que atingiu o filho de todos que estão aqui, atingiu um corpo negro. A Justiça se torna lenta porque são negros periféricos. Queremos igualdade e simetria”, cobrou o deputado.