PF encontra documentos onde Ramagem aconselha Bolsonaro a atacar urnas
Documentos em formato Word estavam no e-mail do ex-diretor da Abin
A Polícia Federal encontrou documentos no e-mail do ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, que apresentam orientações, dadas por ele, ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), sobre temas como ataques às urnas eletrônicas e à lisura das eleições. O caso foi revelado pelo jornal O Globo.
Segundo a apuração, os documentos foram utilizados pela PF para confrontar a versão de Ramagem durante o depoimento dado por ele na última semana, no âmbito do inquérito da “Abin Paralela”. O depoimento em questão durou mais de seis horas.
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De acordo com O Globo, o conteúdo encontrado pela investigação contém ainda relatos difamatórios sobre ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
O deputado federal e pré-candidato à prefeitura do Rio de Janeiro é suspeito de comandar um esquema de espionagem e perseguição a adversários de Bolsonaro enquanto esteve à frente da Abin.
No depoimento, ao ser confrontado com os documentos encontrados pela PF, ele assumiu que costumava escrever textos “para comunicação de fatos de possível interesse” de Bolsonaro. Apesar disso, o deputado disse que não se recordava se as mensagens chegaram a ser enviadas.
Ataque às urnas
Em um dos arquivos, com o título “Presidente TSE informa.docx”, há uma orientação de estratégia para reforçar uma suposta vulnerabilidade das urnas eletrônicas. “Por tudo que tenho pesquisado, mantenho total certeza de que houve fraude nas eleições de 2018, com vitória do sr. (presidente Bolsonaro) no primeiro turno. Todavia, ocorrida na alteração de votos”, dizia o texto.
O texto de Ramagem também sugeriu que Bolsonaro atacasse a confiabilidade das urnas, com informações sem comprovação:
“O argumento na anulação de votos não teria esse alcance todo. Entendo que argumento de anulação de votos não seja uma boa linha de ataque às urnas. Na realidade, a urna já se encontra em total descrédito perante a população. Deve-se enaltecer essa questão já consolidada subjetivamente (…) A prova da vulnerabilidade já foi feita em 2018, antes das eleições. Resta somente trazê-la novamente e constantemente.”
Em outro documento, intitulado “Presidente.docx”, o deputado federal teria sugerido que Bolsonaro adotasse uma postura mais incisiva de enfrentamento. Confira:
“Bom dia, presidente. O Sr. mais do que ninguém conhece o sistema e sabe que não houve apenas quebra de paradigma na sua eleição, mas ruptura com esquema dos poderes (…) nenhuma crise conseguiu enfraquecer sua base e não aparenta haver políticos à altura de vencê-lo em 2022. Portanto, parece que a batalha maior será agora, requerendo atitude belicosa com estratégia.”
Em seguida, sem apresentar provas, o texto de Ramagem sugere que poderia haver um movimento de golpe contra Bolsonaro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
“Há armadilhas sendo colocadas. O inquérito do Celso de Mello possui relação com o inquérito das fake News do Alexandre de Moraes com intuito de fundamentarem o golpe no TSE”, destacou o arquivo.
Os documentos foram encontrados no e-mail do ex-diretor da Abin após quebra de sigilo autorizada pela Justiça. À Polícia Federal, Ramagem alegou que costumava escrever “textos de fontes abertas”. Até o momento, ele não se manifestou sobre a divulgação do material.