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A vida é um sopro

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 03 de dezembro de 2016 - 22:41
A vida é um sopro. Presente é o futuro que já passou. Tudo pode estar por um segundo. Apressa-te a viver bem e pensa que cada dia é, por si só, uma vida. Há muitas frases que definem o quanto a vida é surpreendente, imprevisível, efêmera. Talvez pelo receio do seu fim, nunca cogitamos sobre  perdê-la. A fatalidade do acidente acontecido em Medellín, na Colômbia, traz uma única certeza já cantada, há anos, em verso e prosa: devemos valorizar cada segundo que passamos ao lado de quem prezamos. 
Hoje, o que mais conforta diante da tamanha tristeza que envolve o trágico acontecimento da Chapecoense são os vários exemplos de admirável solidariedade que os seres humanos - porque solidariedade é sinônimo de humanidade - nos deram: verdadeiras
demonstrações espontâneas de valor à vida, mostrando que, sempre diante de qualquer adversidade, nos imbuímos dos impulsos mais nobres. 
Num campo tão hostil, pelas muitas rivalidades entre torcidas – o futebol – nos vimos diante de um exemplo digno de surpreender a simplicidade de qualquer líder religioso que pregue a paz de maneira sincera. A vida é abraçada em cada cena, em cada olhar, em cada toque, em cada gesto. E o povo colombiano abraçou-a e abraçou-nos com aquele ato de humanidade e de extremo respeito. Belo demais presenciar uma homenagem feita em tão pouco tempo e tão expressiva diante de tanta amargura. 
As cidades de Medellín e Chapecó uniram-se na morte, praticando a vida. Sem distinção. Sem diferenças. Solidarizar-se com a dor do outro é desprender-se de si e enlaçar o sentimento de perda de quaisquer pessoas, apenas por serem pessoas. Expressar-se através do outro, num gesto de despojamento de suas preferências, é um dos caminhos da plenitude. É o melhor exemplo que podemos dar no sentido de compreender o que quer dizer “ama o outro como a ti mesmo”. 
Diante de tantos sonhos desfeitos, a solidariedade estava ali, viva, no coração de Medellín. Viva no gesto dos colombianos de branco, presentes no estádio, oferecendo o troféu maior que tanto desejavam – o campeonato – à presença-ausente dos camisas verdes. Reinava, naquele templo do esporte, um ato de doação plena. 
A morte gera reflexão por sua tragicidade. E o sentimento de fraternidade das pessoas envolvidas direta ou indiretamente no episódio promoveu o despertar da solidariedade, muitas vezes camuflada dentro de nós pelas oscilações da vida. O mundo se abalou diante do acontecido com o avião que levava a equipe da Chapecoense e jovens jornalistas que a acompanhavam para cobrir o evento. Cheios de alegria e esperança, eles partiram rumo ao primeiro título internacional com uma estrela brilhando no sorriso. Atravessaram a fronteira da terra sem imaginar que, naquela excursão, atravessariam as fronteiras do céu. E nós não imaginaríamos que a paixão atravessaria as fronteiras do mundo. Que a dor mergulharia nas linhas de transmissão e passaria a ser a estrela guia da compaixão de todos que ainda têm os pés no chão.
Algo que a Chapecoense deixa realmente vivo em todos nós, e talvez nunca saberíamos não fosse o acidente, é o quanto de espírito de equipe há naquele lugar. Um espírito de equipe que não se limita ao time em si, mas se espalha por toda uma cidade. Uma cidade que foi adotando, aos poucos, um trabalho minucioso de crescimento que todos, com a mesma garra, acolheram e incentivaram. Sem grandes estrelas, mas com um mesmo ideal, a Chapecoense foi palmilhando uma trajetória de sucesso, sendo respeitada por grandes times do Brasil. “Ehe, VamosChape!”. Você nos deu a melhor e maior mensagem de ensinamento nos campos da vida. Juntou-nos numa só torcida mundial, num espetáculo de respeito, fé e força. 
Somos hoje, por vocês, campeões de amor e solidariedade.

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