Tudo tem seu tempo
ARTIGO 374: TUDO TEM SEU TEMP
Eclesiastes é um dos livros mais poéticos do Antigo Testamento da Bíblia cristã.
A palavra Eclesiastes é uma tradução grega de um termo hebraico e significa aquele
que reúne". Mas é, tradicionalmente, traduzido como "professor" ou pregador. O livro data do período que vai de
Nele, um personagem descreve a si próprio como rei, relata suas experiências e tira verdadeiras lições das mesmas, fazendo, inclusive autocríticas. O autor se apresenta como filho de Davi, rei de Jerusalém - Salomão - e cumpre seu desígnio ao espraiar, pela narrativa, reflexões sobre o sentido da vida e a melhor forma de se viver. Para ele, todas as ações do homem são vãs, se não junto a Deus, já que seu caminho é a morte.
Uma das mais belas partes do Eclesiastes é a que fala sobre a marca com que o
homem nasce: o tempo E lá, está escrito: Tudo tem seu tempo determinado, e há tempo
para todo propósito debaixo do céu./Há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de
plantar e tempo de se arrancar o que se plantou;/Tempo de matar e tempo de curar;
tempo de derrubar e tempo de edificar;/Tempo de chorar e tempo de rir; tempo de
prantear e tempo de dançar;/Tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntar pedras; tempo
de abraçar e tempo de afastar-se de abraçar; /Tempo de buscar e tempo de perder; tempo
de guardar e tempo de lançar fora; / Tempo de rasgar e tempo de coser; tempo de estar
calado e tempo de falar; / Tempo de amar e tempo de odiar; tempo de guerra e tempo de
paz.
Hoje é Dia mundial da Terceira idade e o idoso de hoje, com certeza, viveu a maioria das experiências relatadas em todos os tempos definidos no poema.
Depois de viver quase todas as contradições da vida, a pessoa chega a uma idade
em que, caso esteja com as faculdades íntegras, a sua capacidade de análise vence as
oposições, aglutina-as e estabelece o equilíbrio cujo resultado é a sabedoria. As pessoas
em idade avançada, muitas vezes não recebem, da geração ainda jovem, o respeito e a
ajuda na manutenção da dignidade. A cultura conferida pela sociedade sobre o idoso,
tem sido aplicada no seio de muitas famílias, mas infelizmente, não é uma atitude
generalizada. Ao ver o idoso como alguém que só dá trabalho, as pessoas negam o
passado, esquecendo-se do tanto que fizeram enquanto suas forças estavam em plena
função.
O aprendizado se faz por modelos de vivências que as famílias legam às
crianças. Se não houver por parte dos filhos do idoso a valorização de seus méritos, os
netos também não aprenderão a valorizar seus pais quando envelhecerem. Todo tempo é
tempo de cuidar das crianças, de cuidar dos adultos, de cuidar do idoso.
Conta-se que, há muitos anos, numa terra longínqua, sempre que alguém atingia
uma idade avançada, o filho dava-lhe um cobertor e o deixava num monte, onde ficava
aguardando a hora da morte. Certo dia, ao chegar a vez de um deles de ser deixado no
monte, o pai devolveu o cobertor ao filho e lhe disse: - Fica com ele. Assim já terás dois
cobertores para te aqueceres quando também chegar a sua vez de vires para cá. As
palavras do pai caíram fundo no coração do filho que percebeu o quão desumano era
aquele costume. E trouxe o pai de volta ao lar. Por atitudes impensadas e desrespeitosas
com o idoso, a ONU definiu ser 1º de outubro o Dia Internacional da Terceira Idade, a
fim de dar qualidade à vida dos mais velhos, através da saúde e da integração social. Os
princípios que norteiam esta resolução são o da autorrealização e o da dignidade.
Ricos em experiências acumuladas por anos, os mais velhos trazem, para os mais
novos, o tesouro de quem aprendeu a ver o mundo com os olhos do coração. O tesouro
de viver no tempo e entender o tempo. Cora Coralina, na sua velhice, escreveu: “Eu sou
aquela mulher a quem o tempo muito ensinou./Ensinou a amar a vida e não desistir da
luta,/recomeçar na derrota, renunciar a palavras e pensamentos negativos./Acreditar nos
valores humanos e ser otimista.” E, como diz nossa poetisa maior e o Eclesiastes, foi do
tempo que os idosos receberam, como herança, o conhecimento e a sabedoria da vida.