Potência turística niteroiense: Teatro Municipal João Caetano é palco de história e cultura
Rico em detalhes, simetria e memória histórica, a casa de espetáculos é exemplo de resistência artística
Antes de ser Teatro Municipal João Caetano, um dos locais mais aclamados na cidade de Niterói, o lugar era inicialmente uma casa de espetáculos organizada pelo ator e empresário teatral João Caetano. Entre o abre e fecha de cortinas e a cada revitalização, o espaço para espetáculos, gravações de novelas e cenário para fotos, tornou-se uma jóia delicada que ilustra o esplendor e o potencial artístico da cidade-sorriso.
O teatro surgiu em 1827, ainda como uma pequena casa de espetáculos no centro da então cidade de Nictheroy, antiga Vila Real da Praia Grande. A casa foi organizada por um grupo denominado Sociedade Filodramática da Praia Grande ou ‘Sociedade do Theatrinho’. Seis anos depois, em 1833, o casarão recebeu a Companhia Nacional Dramática, uma trupe teatral composta inteiramente por artistas brasileiros e ex-escravos ensinados à arte.
A companhia seguia os passos de João Caetano, um perspicaz ator itaboraiense, que foi aos poucos preenchendo espaços que eram ocupados pela corte portuguesa. O artista foi o primeiro a defender o sotaque brasileiro nas produções teatrais no lugar da língua portuguesa. No ponto de vista historiográfico, a chegada da Companhia Nacional Dramática marca o nascimento do teatro brasileiro, por suas composições e produções completamente nacionais.
Em 1842, João Caetano adquire o casarão a título de concessão e o rebatiza de Teatro Santa Tereza, em homenagem à futura imperatriz brasileira Teresa Cristina de Bourbon-Duas Sicília. Por lá, o ator continuou atuando e promovendo diversos espetáculos e produções até sua morte, em 1863. Anos depois, em 1900, a Câmara Municipal de Niterói deu ao espaço o nome de Theatro Municipal João Caetano, em homenagem ao precursor da arte teatral na cidade.
A professora da escola de Urbanismo e Arquitetura da Universidade Federal Fluminense (UFF) Luciana Nemer explica como ocorreram as mudanças no contexto da época:
‘’No século XIX foram trazidas para o Brasil as comodidades da vida urbana que as elites já conheciam na Europa e caracterizavam a vida civilizada e moderna. No decorrer do século XIX as cidades como Nictheroy, na grafia da época, perdem sua feição colonial e recebem grande parte dos serviços, instituições e equipamentos urbanos que caracterizavam as grandes cidades da Europa: bondes, linhas de trem, redes de esgoto, drenagem pluvial, água potável e iluminação pública.’’
A importância artística do lugar fez com que o prédio fosse tombado como patrimônio histórico pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (INEPAC) em 1990. Desde o falecimento de João Caetano até o tombamento do Teatro, o lugar foi revitalizado diversas vezes, mas nenhuma das restaurações foi tão essencial quanto a de 1991.
Isso porque, a reforma precisava ser pensada minuciosamente para dar conta de preservar os anos simbólicos e detalhes da arquitetura do prédio datado do período imperial. A tarefa ficou sob responsabilidade do pintor e restaurador Cláudio Valério Teixeira e foi a mais completa e rigorosa reforma em patrimônios históricos a que se tem notícia. O projeto demandava atenção para respeitar os aspectos históricos do prédio, e ao mesmo tempo, nutri-lo de modernidade sem interferir no seu conceito e estilo.
Uma curiosidade sobre a reforma, envolvida ao Salão Nobre, um dos espaços de reunião e confraternização antes e depois dos espetáculos, diz que, quando os profissionais foram restaurar o lugar, a pintura original da sala estava sob sete camadas de tinta. Através de métodos químicos e mecânicos, os restauradores chegaram, com muito custo, até a segunda camada de tinta, que revelaram as pinturas nas paredes feitas pelo pintor, decorador e arquiteto Thomas Driendl (1849-1916), integrante do chamado Grupo Grimm.
‘’Atualmente, o Salão Nobre possui capacidade para 80 pessoas e foi a área que sofreu maior intervenção a nível de restauro artístico, recuperando as três telas de autoria de Thomas Driendl que compõem o forro deste salão, além de paredes dotadas de grandes espelhos e decoradas com pinturas murais.’’, explicou a professora.
Com uma gentil simpatia, a auxiliar administrativa do Teatro Municipal João Caetano Anabel Ribeiro, recebeu a equipe do O São Gonçalo para mostrar a arquitetura e o interior do belo casarão neoclássico amarelo, que pode ser visto pela rua XV de Novembro, em frente a entrada lateral do Plaza Shopping.
Apesar de bonito por fora, a estrutura interior mostra o porquê o lugar é um dos pontos turísticos de maiores potências no município de Niterói. Adentrar o espaço interno traz a sensação de imersão em um outro tempo. Isso porque, a disposição das cadeiras marrom verniz na direção do palco, envolta por diversos camarotes decorados e pintados a ouro com fundo pêssego, incita o cenário da época.
Pelo ambiente encantador e alusivo ao século XIX, o Teatro recebe e já recebeu diversas solicitações para gravação de novelas, conforme conta a auxiliar administrativa: ‘’A Globo já veio aqui várias vezes gravar novela de época, eles gostam né, mas como é muito escuro aqui dentro, eles precisam trazer muitos equipamentos de iluminação. Acaba sendo muito burocrático porque nós precisamos acompanhar para não danificar a estrutura do Teatro.’’, explicou.
O lugar já foi cenário de novelas e minisséries televisivas como "A favorita", "Dalva e Herivelto: uma Canção de Amor" e "Os Maias". Entre os artistas que já se apresentaram na casa, podem ser citados Alcione, Beth Carvalho, Fagner, Cauby Peixoto, João Bosco, Gilberto Gil, Luiza Possi, Zélia Duncan e Tim Maia. Esse último fez sua última aparição pública no teatro no dia 8 de março de 1998, após começar a apresentação, ele passou mal e morreu oito dias depois, no Hospital Universitário Antônio Pedro. Também em Niterói.
Para além de cenário para gravação de novelas e espetáculos com ingresso à venda, um teatro significa uma possibilidade de integração social.
A arquitetura teatral ergue edifícios que se tornam referência de identidade cultural e simbólica para uma população. Frente a outros temas arquitetônicos como condomínios fechados e shoppings, que geram uma segregação físico - espacial e social, o edifício de um teatro oferece a possibilidade de integração do público e divulgação da cultura, podendo ser um espaço cultural de lazer, sem que gere segregação. Um teatro é um oásis recortado dentro do tecido urbano
ilustrou a especialista Luciana Nemer.
Cenário para fotos
Atualmente, além de oferecer entretenimento cultural de alta qualidade, o espaço oferece uma beleza singular que pode brilhar nas fotos. Se você é niteroiense ou vai passar pela cidade, aqui vão algumas dicas de fotos para memorizar sua passagem por aqui:
Comece sua aventura explorando a fachada do Teatro. Para valorizar a arquitetura do prédio, a dica é escolher um enquadramento mais geral. Fique no centro da imagem se você deseja fotos que transmitam um ar de elegância e grandiosidade. A arquitetura neoclássica do Salão Nobre é rica em detalhes e simetria, por isso, fotos mais fechadas que capturem o pano de fundo rico em detalhes também podem garantir registros únicos.
Para entrar em cena e se divertir, o Teatro Municipal fica localizado na Rua Quinze de Novembro - 35, no centro da cidade.