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Cracolândias se expandem para diferentes bairros de São Gonçalo

SG não tem um levantamento atual das cracolândias espalhadas pela cidade

relogio min de leitura | Escrito por Ana Carolina Moraes e Daniel Magalhães | 25 de março de 2021 - 12:10
Rua Aluísio Neiva
Rua Aluísio Neiva -

"Enquanto a lata chacoalhar e a ilusão for a sensação de ser mais poderoso.Vários vai memo' se arrastar/Que a Cracolândia tá lotada de curioso...", recentemente numa parceria inédita o Grupo GR6 e o DJ Alok se uniram e juntos lançaram a música Ilusão (Cracolândia).  A Canção, que ganhou notoriedade nacional, mostra a dura realidade enfrentada por usuários desta droga. 

A poesia faz alusão a cracolândia de São Paulo, uma das maiores do país. Mas não é preciso ir muito longe para ver essa realidade. Em São Gonçalo, a droga se tornou uma verdadeira 'pandemia'. Bairros que antes eram considerados tranquilos, hoje estão tomados por essas pessoas que vagam em busca de sua próxima dose. 

Em 2015, o governo de SG identificou 13 cracolândias na região, mas, claramente, hoje é possível ver que esse número aumentou, já que novas cracolândias se formaram, como, por exemplo, na Rua Aluísio Neiva, no Centro, que sempre foi considerada uma localidade pacata e com moradias de alto padrão. Por muito tempo a via era conhecida popularmente como a 'Rua dos Magnatas'. Hoje, esses moradores temem e precisam dividir o espaço público com os usuários de drogas. 

Rua Aluísio Neiva
Rua Aluísio Neiva |  Foto: Leonardo Ferraz
 

Na Rua Aluísio Neiva, os moradores reclamam da constância dos usuários de crack. O ponto é estratégico, já que se localiza próximo ao Escadão do Menino Deus, comunidade onde é possível obter o crack. A via em questão fica próxima também da Casa de Saúde Menino de Deus, do Colégio Santa Terezinha e até mesmo da Prefeitura Municipal de São Gonçalo, o que assusta quem passa por ali. A quantidade de usuários na via é tanta que eles até fizeram cabanas para se proteger do sol e viver na localidade.

Cabanas foram montadas
Cabanas foram montadas |  Foto: Leonardo Ferraz
 

Além deste local, os dependentes químicos são observados ainda na lage da Casa de Artes Villa Real, no Zé Garoto; nos arredores do extinto Ciep 437 - Chanceller Willy Brandt, em Neves, e ao lado do Detran de Neves, na Rua José Augusto Pereira dos Santos, dentre outros locais. Obviamente que, durante o dia, a quantidade de usuários é menor, mas é no período da noite que os dependentes se reúnem para conseguir consumir sua droga.

Rua José Augusto Pereira dos Santos
Rua José Augusto Pereira dos Santos |  Foto: Leonardo Ferraz
 

Segundo o 3° Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira divulgado em 2019 pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), cerca de 1,4 milhões de pessoas entre 12 e 65 anos já usaram crack em sua vida. Os relatos dos usuários sempre se repetem e concluem: "é fácil experimentar a droga, mas é difícil sair". Muitos desses dependentes não sabem nem como pedir ajuda e acabam se afastando de suas famílias, passando, assim, a morar nas ruas. 

Casa de Artes
Casa de Artes |  Foto: Leonardo Ferraz
 

Praças:  De lazer à moradia de usuários de drogas

Para além das ruas, os dependentes de crack ficam, muitas vezes, em praças pelo município de São Gonçalo, o que também causa inseguranças em pais que desejam levar seus filhos na região para que eles brinquem. Nossa equipe foi até a Praça de Nova Cidade, no entanto, e descobriu que alguns usuários de crack foram retirados da localidade há cerca de um mês, pelo Corpo de Bombeiros.

"A presença dos cracudos aqui atrapalhava sim nas nossas vendas, pois os clientes ficavam com receio. Há cerca de um mês, no entanto, os cinco usuários que estavam aqui fixamente sumiram, não sei para onde foram, mas sei que um deles, que era deficiente físico, foi retirado daqui pelos Bombeiros. Espero que estejam em um outro lugar para ficar. Hoje, aqui, no entanto, ainda existem usuários de outras drogas, principalmente no período da tarde. Eu acho que se tornar dependente químico tem mais a ver com condições sociais, a pessoa vê que está com dívida e sente a falta de oportunidades e se entrega às drogas", contou um comerciante que preferiu não se identificar.

Um outro comerciante compartilhou que há cerca de um mês um morador em situação de rua que vivia na praça faleceu. Não se sabe, no entanto, se ele consumia drogas. "Eu oro muito pela libertação deles, mas eu percebo que as pessoas se afastam sim quando percebem cracudos por perto, mas eles nunca me trataram mal, nem tenho o que falar. Havia, inclusive, um casal de viciados que vivia aqui, eles chegaram a comprar uma casa, mas voltaram para cá, pois sentiam falta de ficar aqui. Tem gente com poder aquisitivo que se torna viciado, inclusive", contou o segundo vendedor da região.

A Praça do Colubandê também virou um 'point' de usuários de drogas, que têm trazido inseguranças aos moradores e pedestres que passam pelo local mais cedo pela manhã ou na parte da noite, ainda mais devido a falta de iluminação na praça e nas ruas próximas. Pessoas que trabalham próximo ao local também contam que a presença dos usuários tem afastado a clientela, que tem medo de assaltos e furtos. Segundo eles, o poder público precisa tomar ações mais duras para prover o necessário para quem está nessas condições.

Praça do Colubandê
Praça do Colubandê |  Foto: Leonardo Ferraz
 

"É horrível. Fica muita gente aqui de noite, nem dá para contar. Tem gente usando drogas, gente dormindo no chão", disse o taxista Mauro Souza, que trabalha em frente à praça. "Quem passa por aqui de manhã cedo ou de noite morre de medo. É até natural, tudo escuro de noite e um monte de gente amontoada na praça, não tem como não ficar com medo de andar perto. A prefeitura tinha que fazer alguma coisa, arranjar um abrigo para eles. Quem aparece por aqui é no máximo uns grupos da igreja para trazer comida, quentinhas para eles. Tirando isso, tudo largado por aqui", completou. 

Como mostrado anteriormente pelo OSG, um outro ponto que reúne dependentes de drogas e moradores de rua é a cabine do antigo Café Social, localizada em um ponto de grande circulação em Alcântara. A cabine, que já serviu café da manhã a preço popular e depois foi transformada em uma guarita da Guarda Municipal, hoje traz tudo menos segurança. De acordo com ambulantes que trabalham ao lado da cabine, o local virou um ponto de uso de drogas, consumo de álcool e prostituição. Segundo um dos ambulantes, já houve até mesmo briga envolvendo facas entre dois usuários de drogas, o que causou terror nos pedestres que estavam próximos a cabine. 

Na semana passada, a Prefeitura de São Gonçalo informou que enviaria uma equipe ao local para "avaliar as medidas a serem adotadas quanto à segurança. A secretaria esclarece ainda que vem realizando levantamento sobre os pontos do Alcântara que requerem maior atenção. Desde o início do ano a secretaria está mobilizada em relação ao ordenamento urbano do centro comercial do bairro, com ações de ordenamento realizadas pela Subsecretaria de Fiscalização de Posturas e Guarda Municipal."

A Prefeitura e a Polícia Militar foram questionadas nesta quarta-feira (24) sobre ações de auxílio aos moradores de ruas nestas condições e também sobre a questão da segurança dos gonçalenses que trafegam perto das 'Cracolândias' diariamente. A Prefeitura de São Gonçalo, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social, informou que "realiza periodicamente o serviço de abordagem pelas ruas do município e ações com a proposta de orientar e acompanhar as pessoas que estão em situação de rua, para encaminhar para equipamentos específicos. 

As abordagens são realizadas em parceria com o Centro Pop e o Consultório na Rua, nas cenas de uso, conhecidas popularmente como “Cracolândias”. Através dessa abordagem, a secretaria  traça estratégias de enfrentamento à formação dessas "cracolândias"".

A Assessoria de Imprensa da Polícia Militar informou que as unidades da Corporação estão à disposição para atuar em ações conjuntas com os órgãos que auxiliam a população em situação de vulnerabilidade em suas respectivas atribuições.

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