Morte do menino João Pedro: atos relembram um ano do caso
Manifestações mostram a resistência da população na luta pelas vidas da juventude negra
O dia 18 de maio de 2021 é a marca de um ano da morte do menino João Pedro Matos Pinto, de 14 anos, que foi baleado durante uma operação policial no Complexo do Salgueiro, onde morava. Na época, ele chegou a ser socorrido pelos próprios agentes da Polícia, com o auxílio de um helicóptero, mas não resistiu aos ferimentos e veio a óbito. Já a casa onde o menino estava, tem, até hoje, cerca de 60 marcas dos tiros que a atingiram. A família vive um constante pesadelo, já que o caso continua sem respostas. Em razão disso, diversos eventos marcados para hoje, lembram da morte trágica de um adolescente que continua sem punições para os envolvidos.
As ONGs Change.org e Rio de Paz irão realizar um ato hoje (18), a partir das 7h, na Lagoa Rodrigo de Freitas, para falar e se manifestar sobre a não-resolução deste crime.
Em São Gonçalo, também haverá manifestações durante toda a manhã do dia de hoje (18). Através da hastag Chega de Genocídio da Juventude Negra, diversas pessoas organizaram e divulgaram, pelas redes, o ato 'Amanhecer por João Pedro'. No município de São Gonçalo do Amarante, a primeira manifestação do 'Amanhecer' ocorreu às 7h no Rodo de Itaúna. Ao mesmo tempo, estava ocorrendo outro ato de mesmo nome na Praça Luiz Palmier e ainda na Praça dos Ex-Combatentes. Já às 9h, as pessoas vão se reunir no 'Ato Cultural Justiça Para João Pedro' na Praça dos Ex-Combatentes.
Em Niterói, às 17h terá a reunião do mesmo grupo responsável pela hastag anterior nas Barcas. Já em Maricá, o ato do 'Amanhecer' ocorreu às 7h na Escadaria da Igreja Matriz Nossa Senhora do Amparo e, em Saquarema, o mesmo evento do 'Amanhecer por João Pedro' está ocorrendo na Praça de Bacaxá desde às 8h.
No Rio de Janeiro, o 'Amanhecer' iniciou suas atividades por volta das 6h30 na Estação de Trem Anchieta; às 7h, eles estiveram na Praça Barão de Drummond, em Vila Isabel; no mesmo horário, ocorreu outro ato do grupo na Praça Sans Pena, na Tijuca; outro no Largo do Machado; e outro na Favela do Acari. Às 7h30, teve início um ato do grupo na Brás de Pina; no mesmo horário, ocorria outro ato do 'Amanhecer' na Estação de Padre Miguel. Em Belford Roxo, o 'Amanhecer por João Pedro' realizou um ato às 7h no Calçadão na frente das Lojas Cem.
Sobre os atos, a deputada federal do Rio de Janeiro pelo PSOL e ex-vereadora de Niterói, Talíria Petrone, informou que "a morte de meninos como João Pedro não é exceção! É a regra de um Estado punitivista que insiste em modelo de segurança pública genocida. Em todo o Brasil faremos atos em memória de João Pedro e todos aqueles que se foram", escreveu ela em suas redes sociais.
Falar da morte de João Pedro neste dia 18 de maio de 2021 é um ato de resistência.
"Há um ano visitamos a casa do João Pedro em ocasião do seu assassinato em uma trágica operação policial. As marcas de destruição que observamos na casa revelavam o terror que crianças viveram durante a operação. Retornar ao local um ano, ver as mesmas marcas e saber que a família que perdeu seu filho assassinado ainda não viu esse crime elucidado é extremamente revoltante. Além disso, nada mudou no cenário de segurança pública, outras crianças morreram vítimas de armas de fogo no estado do Rio de Janeiro. É urgente a pressão da sociedade civil", alerta o coordenador de projetos da ONG Rio de Paz, Lucas Louback.
"Esse um ano sem qualquer avanço ou solução sobre a morte do menino João Pedro escancara o racismo e abismo social em que vivemos. A dor de uma mãe e a vida de jovem negro simplesmente não é considerada por esse Estado”, disse a diretora executiva da Change.org. Monica Souza.
Recordando
No dia 18 de maio de 2020, João Pedro estava com seus primos brincando em uma casa na Praia da Luz, em Itaoca. Segundo depoimentos da época, os policiais que estavam em operação chegaram atirando e, uma das balas perdidas, acabou acertando João Pedro na barriga. A família de João Pedro passou 17 horas sem notícias do menino, já que ele foi levado por policiais sem que nenhum dos familiares soubesse. Ele foi encontrado pelos parentes já sem vida no Instituto Médico-Legal (IML) do Tribobó.
A operação no Complexo do Salgueiro naquele dia foi feita por agentes da Polícia Federal, com apoio de policiais da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), e helicópteros da Polícia Militar. Segundo a versão dos agentes, eles dispararam contra a casa onde estava João Pedro, pois seguranças de traficantes da área estavam tentando fugir pelo muro da residência. Algumas armas dos agentes envolvidos na operação no Salgueiro foram apreendidas após a morte do menino.
O caso está sendo investigado pela Polícia Civil, pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), através da 1ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Especializada dos Núcleos Niterói e São Gonçalo, e agora também pelo Ministério Público Federal no Rio de Janeiro (MPF-RJ).
Segundo a ONG Rio de Paz, cerca de 82 crianças e adolescentes morreram por causa de armas de fogo no Rio de Janeiro, muitas delas em comunidade. João Pedro se tornou uma delas. Só em 2021, mais quatro crianças entraram para essa estatística.
Vale lembrar que desde que ocorreu a operação policial que levou à morte do menino João Pedro, o ministro do Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), proibiu operações policiais em comunidade do Rio de Janeiro durante a pandemia da Covid-19. A exceção é apenas em casas absolutamente excepcionais, que devem ser justificados. Na época da decisão, o ministro afirmou que “nada justifica que uma criança de 14 anos de idade seja alvejada mais de 70 vezes”.
Serviço:
Ato na Lagoa:
Dia: 18 de Maio de 2021
Horário: 7h
Endereço: Lagoa Rodrigo de Freitas, próximo a curva do Calombo.
Mais informações:
Maria Inez (ONG - Rio de Paz) : +55 21 97575-249
Monica Souza (Change.Org): +55 11 970286735
'Amanhecer por João Pedro':