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"Até quando vou continuar com medo de sair de casa?", questiona jovem baleada pelo patrão

O homem não aceitava recusa de relacionamento entre eles

relogio min de leitura | Escrito por Ana Carolina Moraes | 02 de outubro de 2021 - 14:47
Nathália tem 19 anos e é estudante
Nathália tem 19 anos e é estudante -

Mais uma tentativa de feminicídio é investigada em São Gonçalo. A jovem Nathália Assis, de 19 anos, foi baleada por um homem casado que tinha ciúmes dela. O homem, que tem por volta dos 29 anos, era patrão da jovem e não aceitava o fato de ela não querer viver um romance com ele, visto que ele era casado. O crime ocorreu no dia 11 de setembro e até hoje Nathália espera respostas dos órgãos competentes, pois sente medo de sair de casa. Em entrevista ao OSG, ela contou o ocorrido e diz que tem medo que o acusado tente encontrá-la para "terminar o que começou". 

Nathália trabalhava num famoso restaurante na Estrada Raul Veiga, em São Gonçalo, juntamente com o acusado do crime, que é seu patrão. Ela estava no local, fechando o estabelecimento, quando teve a primeira discussão da noite com o acusado pelo crime. 

"Era dia 11 de setembro. A gente sabia que não ia dar muito movimento naquele dia, então fechamos o local cedo. Ele me chamou para ir numa boate com ele e eu falei que não, pois ele era casado e a mulher dele poderia estar no local. Foi aí que ele disse que eu deveria ficar em casa já que eu não iria sair com ele e eu disse que não, que iria sair com minhas amigas. Me arrumei, fui para uma boate que era aniversário da minha amiga e no carro indo pro local ele ficava me mandando mensagem falando para que eu mudasse o endereço para onde ele estava", contou ela. 

Vendo que Nathália não mudaria de ideia, o acusado foi atrás dela, na boate em que ela iria, sem que ela soubesse. Quando Nathália chegou no local, ela viu que o acusado já estava lá, a seguindo. Segundo amigas de Nathália, o acusado estava em um camarote que ficava de frente para o camarote em que ela estava. "Eu não falei com ele inicialmente. Ele me mandou mensagem perguntando se eu não iria falar com ele e se eu iria ficar com ele, insinuando que eu estava com outro cara e eu disse que não, mas que era aniversário da minha amiga e eu iria ficar com ela, que lá as pessoas podiam fofocar e a mulher dele aparecer", contou a jovem. 

Nathália contou que ela e o acusado trocavam mensagens e chegaram a se relacionar duas vezes antes do crime, mas que não passou disso, pois ele era casado. Um pouco depois que Nathália falou que não ficaria no mesmo camarote que o acusado, a mulher dele apareceu. O casal pareceu discutir, mas longe de Nathália. Depois do evento inicial, Nathália foi chamada para uma festa com seus amigos. 

"Eu e meus amigos programamos  'after' (após a festa). O amigo do acusado também foi convidado, pois conhecia os meus amigos. Ele chegou para mim e disse que era melhor eu não ir que o meu patrão não iria gostar, mas eu disse que iria. Fomos embora no carro e eu até achei que o acusado tinha ido embora para casa com a esposa dele. Depois de um tempo, chegamos no 'after'. Lá, o amigo do acusado me mandou mensagem pedindo a localização e até então eu achava que ele iria sozinho. Quando ele chegou, ele pediu pra eu abrir o portão da casa para ele, foi aí que eu vi que o acusado também estava com ele. Meu patrão já saiu do carro perguntando da roupa que eu estava usando, mandando eu ir embora, falando que eu estava dançando para me exibir para os outros e começou a me questionar se eu não queria namorar com ele, se eu não queria ser só dele e eu disse que não, pois ele era casado. Ela falou que arrumaria outra mulher na rua e eu disse que ele não me devia satisfação e que poderia arrumar quem quisesse. Foi aí que ele pegou a arma e apontou pra mim perguntando se eu achava que aquilo (a arma) era um brinquedo e atirou no meu peito", contou Nathália. 

Nathália foi baleada próxima ao peito
Nathália foi baleada próxima ao peito |  Foto: Arquivo pessoal
 

Depois de tudo isso, o acusado percebeu o que tinha feito e, com a ajuda de seu amigo, a colocaram num carro e a levaram para o Hospital Estadual Alberto Torres (HEAT), no Colubandê, mas, um detalhe: eles a deixaram na porta do hospital desmaiada, sem identidade e sem seu celular. 

"Eles fizeram um caminho da casa dos nosso amigos na Parada 40 até o hospital que não tivesse nenhum policial. Eu fiquei na porta do hospital desmaiada, sem meus documentos e sem o celular, pois eu lembro que estava tudo na capinha do telefone e ele levou isso quando me deixou lá no hospital", contou ela. 

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Nathália deu entrada na unidade de saúde sem seu nome. Por isso, seus familiares não souberam aonde ela estava até que, no dia seguinte, ela conseguiu acordar e se comunicar com seus parentes já na unidade de saúde. Ao todo, ela ficou 16 dias no hospital, sendo 3 no Centro de Terapia Intensivo (CTI) e 13 na enfermaria. Nathália teve alta do hospital na última segunda-feira (27), depois por passar por cirurgias para retirar a bala e ter perfurações da bala no pâncreas e no estômago.

Hoje, a vida de Nathália é outra: a jovem que sempre foi livre e independente, vive com medo em casa, pois o acusado do crime ainda está solto e pode fazer alguma coisa com ela. 

"Essa não foi a primeira vez que ele foi possessivo. Ele sempre foi ciumento, sempre foi possessivo, até mesmo com os clientes do restaurante. Eu atendia alguém com sorriso e ele já falava que eu estava dando mole para o cliente. Hoje, eu não posso sair de casa, minha cabeça está a mil, não tenho descanso, pois ele está solto. Nunca sei se vou na esquina e vou voltar com vida. Eu quero justiça, estou colocando minha cara a tapa para isso, quero também que outras mulheres que passem por essa violência denunciem", disse Nathália.

A estudante hoje vive buscando as respostas para algumas perguntas. "Até quando ele vai estar solto na rua? Até quando ele vai continuar vivendo como se nada tivesse acontecido? Até quando vou continuar com medo de sair de casa? Daqui a pouco ele pode vir atrás de mim e terminar o que começou ou estar com outra menina e fazer o mesmo. Hoje, eu tenho certeza que ele tem raiva de mim e pode vir atrás", contou a jovem. 

A jovem teve que passar por uma cirurgia
A jovem teve que passar por uma cirurgia |  Foto: Arquivo pessoal
 

Nathália disse que o acusado chegou a ir no HEAT enquanto ela estava internada na unidade após o crime. "Ele entrou por meio de uma enfermeira que trabalha lá, dando a ela outro nome. Eu lembro que acordei e ele estava do meu lado, tomei um susto e ele começou a falar que gostava de mim. Perguntava se eu achava mesmo que ele queria me matar e queria que eu contasse outra versão para a polícia, que eu mentisse, que eu contasse que tinha sido um acidente, outra coisa, outra história. Na hora, eu fiquei com medo", contou Nathália. 

A jovem estudante explicou que se relacionou com ele sim, mas que não tinha nenhuma pretensão de manter nenhum relacionamento e que, se um dia ela teve algum sentimento bom por ele, hoje isso mudou. "É difícil! Jamais iria querer namorar alguém que é casado e não ficávamos mais. Ele que tentava mudar minha cabeça dizendo que o relacionamento iria para frente sim, mas eu dizia que não e que tínhamos que parar", afirmou ela. 

Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde se posicionou sobre o caso dizendo que "a direção do Hospital Estadual Alberto Torres (HEAT) lamenta o ocorrido e informa que a funcionária que esteve presente na visita foi desligada da unidade e a polícia comunicada imediatamente. O HEAT ressalta ainda que o cuidado com acesso de pessoas e visitantes no setor foi intensificado.

A direção esclarece que a paciente foi atendida no centro de trauma do HEAT no dia 11/09 por ter sido vítima de perfuração por arma de fogo, sem identificação do agressor, e permaneceu internada até 27/09, quando teve alta. Neste período, a paciente recebeu a visita, que foi acompanhado pela então funcionária da unidade. Após o ocorrido, o pai da paciente informou à equipe da unidade que tinha razões para acreditar que o visitante era suspeito do disparo, não havendo a identificação pela vítima."

A Polícia Civil foi indagada sobre as investigações do caso, mas ainda não se posicionou sobre. 

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