Corpos encontrados no Complexo do Salgueiro possuem marcas de tortura, vídeos!
Moradores contam que nem todos os mortos eram traficantes
min de leitura | Escrito por Renata Sena e Ana Carolina Moraes | 22 de novembro de 2021 - 11:58
Os corpos encontrados no Complexo do Salgueiro nesta manhã de segunda-feira (22) possuem marcas de brutalidade e de tortura. É isso o que afirmam os moradores do local, que fizeram os 'resgates' dos corpos encontrados em uma área de mangue na região. Além disso, em depoimentos para o OSG, os moradores contaram que só querem enterrar seus parentes mortos e muitos, inclusive, ainda esperam notícias de outros conhecidos que seguem desaparecidos no local.
Moradores da região contaram que muitos corpos encontrados foram degolados e tiveram membros retirados, como, por exemplo, a genitália de um homem. Segundo perícia inicial, as marcas podem ser de efeitos de disparos, o que ainda será averiguado.
Além disso, os moradores também noticiaram que os policiais estavam realizando a operação durante o fim de semana, o que causou a morte de diversas pessoas e hoje, pela manhã, há registros de pichações com referência à milícia em comércios e casas do local.
Nem todos os mortos são criminosos, pelo contrário, muitos pais de família foram atingidos pelos tiros dos grupos em confronto, como, por exemplo, um eletricista e seu filho, que era seu ajudante. Os dois eram conhecidos na região e estão entre os mortos. Além destes, um pedreiro também morreu sendo vítima das balas do tiroteio. Dos oito corpos encontrados, sendo sete identificados, quatro não teriam nenhuma ligação com o tráfico.
"Segundo a informação que temos desde o início, essa operação mal sucedida ela foi feita por causa da morte do policial que ninguém sabe onde é que foi exatamente, porque aqui dentro do conjunto, aqui dentro da Palmeira, não aconteceu. Mas, os policiais vieram aqui dentro de qualquer maneira e entraram com 2, 3 caveirões e o resultado disso, que ocorre desde sábado, são esses corpos que vocês estão vendo aí. Aqui estão mortas pessoas inocentes, que são trabalhadores, que são chefes de família, infelizmente ,fora aqueles que possivelmente podem ainda estar perdidos pelo mangue. Podem ter diversas pessoas que não moram na comunidade, mas conviviam aqui dentro e que os parentes não sabem notícias. Tem corpos aqui que encontramos já sem rosto, sem peito, com pessoas mortas com facas. Podemos ver, com isso, que esses policias não tinham a intenção de prender ninguém, eles queriam matar. No Rio de Janeiro, eles tratam segurança pública como morte. Aqui no Salgueiro não temos assistência social, não temos água, tem morador aqui passando fome, sem saneamento básico, sem escola, com um posto de saúde precário e, mesmo assim, só pensam na questão da violência", contou um morador do local.
Este ainda afirmou que, durante a operação da PM, os agentes entraram na casa dos moradores e se aproveitaram dos espaços. "Eles (os policiais) entraram nas casas dos outros e comiam comida do outros, defecavam na casa dos outros, quebram as coisas. Tem moradores trabalhando, mas os policiais, mesmo assim, entram na casa deles, pois eles tem uma chave mestra que abre todos os portões. É uma covardia tremenda!", afirmou ele.
Além destes, uma mulher espera por notícias de seu pai que, no momento da operação, estava na rua e não conseguiu retornar para sua casa, tendo que se esconder no mangue, onde foram localizados os corpos. "Eu tô nervosa, acredito que ele está vivo, mas ainda não foi resgatado. Tem muita gente lá no mangue vivo, porém com o telefone descarregado, com perna quebrada, braço quebrado, dentro da lama. Provavelmente tem umas 10 pessoas tentando sair de lá, mas não temos o apoio dos bombeiros para resgatá-los", contou ela.
Associação de Moradores da comunidade informou que o ocorrido é "uma falta de respeito grande com os moradores e com as famílias. "
Nenhuma mãe cria um filho para ir para o lado errado, mas as famílias tem que ser respeitadas. Lá dentro têm moradores e comerciantes locais que na hora da operação correram para o mangue para fugir dos tiros. Não temos o apoio do Corpo de Bombeiros para resgatar aqueles que ainda estão lá dentro, pois eles alegam que aqui está em confronto desde ontem, mas não tem mais. O povo do Salgueiro pede respeito, somos mães, filhos e pais com familiares presentes, que queremos resgatar o corpo dos nossos entender para que eles possam ser levados para o Instituto Médico Legal (IML) e sejam sepultados".
A Polícia Militar segue se preparando para ocupar o Complexo do Salgueiro nesta manhã de segunda-feira (22). Segundo informações, eles adentraram no espaço em conjunto com a Polícia Civil para periciar os corpos encontrados. Agentes da Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Maricá (DHNSG) também foram acionados.