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Após morte de 'Léo 41', polícia 'fecha o cerco' na conexão do 'CV' entre o Pará, Rio e SG (vídeo)

Saiba como as forças de Segurança Pública neutralizaram plano, em ousada 'rede' de crimes entre dois estados do país. 'OSG' conseguiu últimos registros de traficante do Pará fazendo 'dancinha funk' em morro do Rio

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 24 de abril de 2023 - 22:17
Leonardo, no que seria o último registro em vida, em 'funk' no Complexo da Penha
Leonardo, no que seria o último registro em vida, em 'funk' no Complexo da Penha -

Num fim de semana movimentado no mês de fevereiro desse ano, o 'funk' fervilhava no Complexo da Penha, uma das maiores comunidades da Zona Norte do Rio. E numa área 'vip' montada por traficantes organizadores desse baile funk, um homem de estatura mediana, com jeito intelectual, de classe média, por causa das roupas de grife e os inseparáveis óculos, se divertia em uma 'dancinha' ao som do 'batidão'. Os desavisados poderiam achar que se tratava de mais um entre as centenas de jovens que buscavam diversão naquela 'balada'.

Mas quem estava ali, sentado, sorridente e fazendo coreografias com as mãos, em uma das mesas, era Leonardo Costa de Araújo, o Léo, 41, um dos mais procurados pela polícia do país, com extensa ficha criminal no Estado do Pará, e cujo o apelido era correspondente ao número de agentes de Segurança Pública mortos por ele ou a partir de suas ordens naquela região, como ele mesmo gostava de ostentar.

    

Autor: Divulgação
  

Em reportagem especial, OSG mostra, em dois capítulos, entre essa terça-feira (25) e quinta-feira (27), como a Polícia chegou até ele e porque traficantes dos dois estados se uniram, em uma especie de 'consórcio' que culminou também em uma 'rede de crimes' de roubos e sequestros na capital fluminense, em São Gonçalo e Itaboraí.    

Dancinha - Esse vídeo seria, segundo a polícia, o último registro de Léo 41, antes de ser morto a tiros  em confronto, junto com outros 12 supostos integrantes de sua quadrilha, em uma megaoperação envolvendo 80 policiais civis e militares, auxiliados por blindados e helicópteros, no último dia 23 de março, no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo. Chegava ao fim a 'carreira' de Leonardo, um jovem pobre, criado da periferia de Belém, que galgou escalões inferiores na hierarquia do tráfico na capital do Pará, até se tornar um dos principais criminosos em atividade da facção Comando Vermelho e integrante da cúpula da organização que 'costurou', ainda em plena pandemia do coronavírus, a partir de 2020, uma conexão entre os Estados de Belém e do Rio de Janeiro, para o escoamento de drogas e armas vindos de países vizinhos à Região Norte do Brasil. 

Ostentando vistoso cordão, em imagem extraída de seu celular
Ostentando vistoso cordão, em imagem extraída de seu celular |  Foto: Divulgação
  

 A polícia paraense, responsável pelas investigações que originaram na ação de março em São Gonçalo, descobriiu que inicialmente, as relações entre as quadrilhas do Pará e do Rio envolviam inicialmente o tráfico de armas e de drogas, num acordo que envolveu, entre outros líderes do CV, Wilton Carlos Quintanilha, o Abelha, do Complexo da Penha, e Antônio Ilário Ferreira, o Rabicó, dois dos principais 'conselheiros da facção'.

"A partir do momento em que se estabeleceu uma relação de confiança, os traficantes do Pará, não apenas passaram a se sentir mais seguros, como se estimularam a promover outras ações criminosas, como roubos de rua, em comércios, e até sequestros, confirmados através de investigações de vários registros policiais no Rio", contou uma autoridade da área de Segurança Pública do Pará. 

'Bolacha' e 'Latrol', dois remanescentes do grupo de Léo, são procurados
'Bolacha' e 'Latrol', dois remanescentes do grupo de Léo, são procurados |  Foto: Divulgação
 

'Viagens de avião' - Essa articulação, envolvendo traficantes  do Pará e do RJ se estendeu, da capital carioca, a São Gonçalo Itaboraí e Maricá, regiões, que segundo a polícia, Léo 'recebeu' do alto comando do 'CV' para 'tocar' seus 'negócios' ilícitos. Entre os crimes em que é investigada a participação de traficantes do Pará, estão a ousada invasão e roubo de jóias do São Conrado Fashoin Mall, em São Conrado, em 2022, além de outros assaltos em veículos de cargas, e até sequestros-relâmpagos na Rodovia BR-101, entre SG e Itaboraí. Os policiais responsáveis pelas investigações sobre a quadrilha de Léo 41 no Pará já sabiam que ele usava documentos falsos e através desse artifício, se locomovia com facilidade, viajando, com frequência, de avião, no roteiro entre o Pará e o Rio. 

Em Itaboraí, as regiões de Visconde e Venda das Pedras, segundo a polícia, foram 'dadas' por Rabicó a Léo 41 e seu grupo, após a prisão de milicianos que agiam no local, em maio do ano passado. Em agosto, o Salgueiro também serviu de 'base' para reunir o grupo que expulsou traficantes do Terceiro Comando Puro (TCP) do Bairro da Amizade.   

Arsenal do tráfico apreendido no Salgueiro: baixa na 'Tropa do 41'
Arsenal do tráfico apreendido no Salgueiro: baixa na 'Tropa do 41' |  Foto: Divulgação
  

Fechando o cerco - O 'rastro' de violência deixado pelos traficantes foram fundamentais para que a polícia conseguisse identificar os acusados e detalhasse as ações coletivas dos criminosos, além de monitorar os passos de Léo, que com as  intensificações das operações no Complexo da Penha, foi orientado a utilizar o Complexo do Salgueiro, em SG, não apenas como esconderijo, mas também para acompanhar melhor as atividades em seus redutos no interior.

Inteligência - Nos dias anteriores à megaoperação montada no Salgueiro, em março desse ano, a polícia já tinha recebido a informação de que ele havia chegado mais uma vez ao Rio, em viagem de avião, com documentos falsos, após ir a seus redutos, em Bengui,  Belém do Pará, para resolver questões familiares e articulações em seus 'negócios' ilícitos. Segundo a polícia, Léo estava há dois anos e meio no Rio de Janeiro e não tinha planos de voltar a Belém,  por se sentir seguro e estar satisfeito com a 'expansão' das atividades criminosas.  

Olho vivo - Mesmo após a morte de Léo, as forças de Segurança Pública das duas regiões, ao mesmo tempo em que comemoram o 'baque' dado nos criminosos, permanecem 'de olho vivo' e à procura de outros nomes que permanecem foragidos e que poderiam dar continuidade às atividades, no submundo do crime', entre os dois estados.

Anderson Souza Santos, o Latrol, David Palheta Pinheiro, o Bolacha, e Oriscamo Rodrigues Rocha, o Ouri, todos paraenses e apontados como principais colaboradores de 41, estão entre os acusados e com mandados de prisão em aberto, segundo informações repassadas pela Polícia Civil do Pará. 

'Teste oficial' - A polícia tem informações de que outro homem de confiança de Léo, Enderson Rodrigo de Souza, o Big Ben, tenha agido junto com ele no Salgueiro nas ações mais violentas de assalto ou para manter seus redutos em Marica e Itaboraí. 'Big Ben aparece, inclusive, em um vídeo, junto com o 'chefe', fazendo um 'teste' com drogas, a pretexto de mostrar a 'alta qualidade' do entorpecente.  As imagens foram extraídas do celular de Leonardo, apreendido durante a operação do último dia 23 em SG, cujo  teor ainda é detalhadamente analisado.

'Léo 41' fez vídeo ao vivo, usando seu  parceiro 'Big Ben', em 'teste oficial de qualidade' de drogas, segundo a polícia
'Léo 41' fez vídeo ao vivo, usando seu parceiro 'Big Ben', em 'teste oficial de qualidade' de drogas, segundo a polícia |  Foto: Divulgação
   

Big Ben foi um dos identificados,  através de imagens, como tendo participado do assalto ao shopping em São Conrado e morreu, em janeiro desse ano, durante operação de policiais da Divisão de Repressão a Furtos e Roubos (DRFR) do Pará, na cidade de Ananindeua, no  Pará. As polícias do Rio e do Pará seguem 'de olho vivo' nas investigações para tentar localizar, no Rio ou no Pará, os criminosos do CV que agem nos dois estados. 

O Disque Denúncia/RJ recebe informações sobre procurados e foragidos da justiça nos seguintes canais: 

•Central de atendimento: (021) - 2253 1177

•0300-253-1177

•WhatsApp: (021) - 99973 1177 

•Aplicativo: Disque Denúncia RJ

O anonimato é garantido.

A relação oficial divulgada pela polícia dos 13 mortos no Salgueiro: 

Diego de Oliveira da Silva – Estado: Rio de Janeiro. Ficha criminal: porte ilegal de arma, tráfico de drogas e associação para o tráfico

Igor Manoel Da Cruz Cotrim Dos Santos, 22 anos – Estado: Rio de Janeiro. Ficha criminal: roubo; já possuía uma mandado de prisão preventiva pendente no cumprimento pela vara criminal de Maricá.

Maycon Júlio Caldeira Antas, 27 anos – Estado: Rio de Janeiro. Ficha criminal: tráfico de drogas; possuía mandado de prisão pendente de cumprimento por recaptura após fugir do regime semiaberto. Pedido expedido pela Vara de Execuções Penais.

Nathan Da Silva Nunes, 22 anos, vulgo Turista - Estado: Rio de Janeiro. Não possuía ficha criminal, mas se exibia com armas nas redes sociais e declarava pertencer à Tropa do 41.

Ygor Nascimento Da Costa, 26 anos, vulgo Graveto – Estado: Pará. Ficha criminal: tráfico, extorsão e homicídio; possuía mandado de prisão preventiva pendente de cumprimento e expedido pela 2ª Vara do Tribunal do Júri de Belém.

Leonardo Costa Araújo, 37 anos, vulgo Léo 41 – Estado: Pará. Ficha criminal: roubo, tráfico e homicídio. É investigado pela morte de mais de 40 agentes de segurança no Pará, já tendo sido indiciado por seis delas. Também possuía um mandado de prisão em aberto expedido pela Justiça do Pará.

Eliton Dos Santos Aguiar – Estado: Pará. Ficha criminal: porte ilegal de arma

Ana Gabrielly Pantoja Machado, vulgo Faixa Rosa - Estado: Pará. Não possuía ficha criminal, mas se exibia com armas nas redes sociais, declarava pertencer à Tropa do 41 e era apontada como segurança de Léo 41.

'Faixa Rosa', apontada pela polícia como 'segurança' de 'Léo 41', figura entre os mortos. Ela é do Pará
'Faixa Rosa', apontada pela polícia como 'segurança' de 'Léo 41', figura entre os mortos. Ela é do Pará |  Foto: Divulgação
 

Kevison Kauan Gomes da Costa, vulgo KN – Estado: Pará. Ficha criminal: roubo

Joel de Azevedo Serrão, 23 anos - Estado: Pará. Ficha criminal: tráfico de drogas, roubo majorado. Ainda tinha um mandado de prisão em aberto expedido pela 1ª Vara Criminal de Marabá.

Alan Roberto Braga, 26 anos – Estado: Pará. Ficha criminal: roubo, homicídio, tráfico de drogas, violência doméstica.

Gesanias Marques Campos – Estado: Pará. Ficha criminal: tráfico e porte ilegal de arma

Osvaldo Feio de Castro, 39 anos - Estado: Pará. Ficha criminal: roubo majorado, furto qualificado, formação de quadrilha, crime contra a administração pública. Além disso, ele possuía ainda mandado de prisão em aberto, emitido no dia 15 de março de 2023 pela Vara de Execução Penal da Região Metropolitana de Belém, por evasão do regime semiaberto. 

* Próximo capítulo:  Salgueiro: De 'QG' do crime organizado a 'abismo da morte' em São Gonçalo  

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