Golpes milionários e ameaças: conheça as acusações contra o homem preso com armas em hospital de Niterói
Dono de empresa de investimentos teria deixado prejuízo para mais de 100 famílias com suposto esquema de pirâmide
Para diversos moradores de Niterói e região, o que chamava atenção na prisão do André Felipe de Oliveira Silva, de 31 anos, foi o fato de o empresário estar com um armas e munição em uma unidade de saúde de Icaraí, motivo pelo qual está preso desde a última terça (30/05). Para os clientes da Átrion Invest, no entanto, a confusão dessa semana foi apenas mais uma da série de danos atribuídos ao empresário. Segundo relatos de vítimas, André Felipe seria o responsável por ameaças e diversos golpes, aplicados através de um esquema ilegal de pirâmide financeira.
Leia sobre o caso:
➢ Suspeito de golpe preso com arsenal em Niterói tinha viagem marcada para a Ucrânia
➢ Acusado de estelionato é preso com arsenal em hospital de Niterói
➢ Preso com arsenal em Niterói já teria ameaçado clientes
A Átrion já é objeto de investigação desde o ano passado, quando surgiram os primeiros relatos de estelionato ligados a empresa, administrada por André. No site do grupo, a investidora afirmava gerir cerca de 1,2 bilhão de reais, através de investimentos que prometiam altos retornos em um curto período de tempo. Apesar disso, a maior parte dos clientes afirma ter deixado de receber os valores conforme acordados a partir de determinado momento, indicado que, na verdade, o grupo realizava um esquema de pirâmide financeira cujo prejuízo total ainda não foi quantificado.
De acordo com relatos apurados pela reportagem de OSG, em um grupo de apenas sete das vítimas, o prejuízo teria ultrapassado os dois milhões de reais. A história é bem similar na maioria dos casos: promessas de investimentos bastante lucrativos que nunca se concretizam.
Uma das vítimas, que prefere não se identificar, investiu aproximadamente 800 mil reais com a promessa de um retorno de cerca de 15%. Alguns dos eventos realizados pela empresa teriam motivado a mulher a confiar na empresa. "Aquele evento encheu meus olhos, achei que realmente era uma empresa sólida como eles passavam pelas redes sociais. Os próprios consultores falavam e deixavam muito claro. Eu cheguei a ir em eventos na Barra da Tijuca e fui muito bem recebida", relembra.
Em alguns desses eventos, contam as vítimas, até mesmo figuras políticas já deras as caras. Em suas redes, André, inclusive, já chegou a ostentar fotos que tirou com figuras como o senador Romário ou o presidente do PL, Waldemar Costa Neto. Essa imagem construída pelas redes, contam os investidores, nunca se concretizava.
Uma outra vítima, que depositou cerca de 100 mil reais nos investimentos com a empresa, conta que, no primeiro mês, chegou a receber os valores combinados, mas logo deixou de receber qualquer retorno. Esses relatos se repetem com dezenas de outros clientes; a previsão é que, no total de tempo de ação da empresa, centenas de pessoas tenham sido vítimas de algum tipo de golpe por parte da Átrion, com base em reclamações e ocorrências registradas na Polícia Civil.
Às acusações, André respondia com ameaças, segundo clientes. Na verdade, essas ameaças se direcionavam até mesmo para advogados de vítimas quando os casos iam parar na Justiça. "Ele não só ameaçava as vítimas, quando elas ligavam cobrando seu dinheiro, como também os advogados. Eu mesmo fui um advogado que ele estava querendo saber onde morava e qual era minha rotina, porque ele se sentia intimidado por eu estar no Gaeco fazendo uma representação contra ele", conta o doutor Joabs Sobrinho, advogado criminalista que representa algumas das vítimas.
"Ele intimida os outros, faz ameaças de forma velada ostentando armamento pesado na internet, para dizer para as pessoas que, se elas processarem ele, ele tem como ‘resolver’", conclui o advogado. Nas redes sociais de André, muitos são os registros com armas e artefatos bélicos, que, segundo as vítimas, eram usados para assustar clientes que questionavam os supostos golpes. além disso, muitos relatam que hostilidade e ofensas eram comuns na interação com o acusado.
Em algumas das conversas com vítimas, ele chegou a repetir que estava no topo "da cadeia alimentar". Um representante da Átrion chegou a dizer para um grupo de clientes, conforme informações apuradas pelo portal "g1", que "a força seria usada" caso clientes que sentissem lesados não mantivessem a calma.
André é investigado pela Polícia Civil por conta das acusações de estelionato. Pelo porte ilegal de arma de fogo e munição, ele foi preso preventivamente e deve ser julgado novamente pela 1ª Vara Criminal de Niterói em breve, conforme evoluírem as investigações.