Familiares pedem justiça em velório de menino morto em Inoã
Djalma tinha 11 anos e foi atingido por disparo de fuzil durante ação policial em condomínio de Maricá
Comoção e pedidos por justiça marcaram a despedida à Djalma de Azevedo Clemente, menino de 11 anos morto com um tiro de fuzil durante uma ação da Polícia Militar em um condomínio 'Minha Casa, Minha Vida' de Inoã, em Maricá, na última quarta (12/07). Baleado enquanto ia para a escola com a mãe, o menino foi sepultado na tarde desta quinta-feira (13/07), no Cemitério Municipal de Maricá, em cerimônia que contou com a presença de familiares da vítima e moradores da região.
Além de se despedir, muitos dos presentes também manifestaram, durante o velório, sua indignação para com a Polícia; um agente da corporação é o principal acusado de ter efetuado o disparo que tirou a vida do menor de idade. Testemunhas do caso que estiveram no velório relataram que os policiais já entraram no condomínio atirando e que não houve troca de tiros na ocasião.
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"Eu estava levando meu filho para a escola e eles já chegaram atirando. Não tinha ninguém atirando, só eles. Isso não é justo, fazer isso com uma criança. Eu quero justiça pelo meu filho.", exclamou Adjailma de Azevedo Costa, de 33 anos, mãe do menino, que chegou a passar mal durante a cerimônia, mas se recuperou antes do sepultamento. Ela estava junto do menor indo em direção a Escola Municipal Professor Darcy Ribeiro quando os agentes chegaram.
Quero justiça pelo meu filho. Eu estava levando meu filhos para a escola e eles já chegaram atirando Adjailma de Azevedo Costa, de 33 anos mãe da vítima
Djalma fazia parte do espectro autista e era o mais velho de três irmãos. Segundo o tio da vítima, Jorge Luís Ribeiro, os irmãos ainda não sabem da morte do menino. "Djalma era uma criança adorável, uma criança especial e, simplesmente, um tiro da polícia, uma covardia, tirou a vida dele. (...) Ninguém do Estado procurou a gente para falar nada. O que nós queremos agora é só justiça, que o Djalma não seja só mais uma estatística. Queremos justiça", disse Jorge, à imprensa.
O que nós queremos agora é só justiça, que o Djalma não seja só mais uma estatística. Queremos justiça Jorge Luís Ribeiro tio da vítima
Colegas da escola e vizinhos da vítima levaram cartazes para a cerimônia pedindo por uma penalização do autor do disparo. Testemunhas creditam a um dos agentes o tiro. Moradores afirmam que policiais militares teriam, inclusive, tentado mover o corpo do menor do local do crime antes da chegada da perícia, mas foram impedidos por condôminos do "Minha Casa, Minha Vida".
"Nós sabemos quem é o assassino dessa criança, nós sabemos de onde saiu a bala. Não foi bala de bandido, não teve troca de tiro, não teve operação nenhuma. Não chegaram nem a entrar dentro do condomínio. Quando 'embicaram' o carro na entrada do condomínio, deram de cara com a criança e já saíram atingindo a criança que tava acompanhada da mãe", contou Vanilda Batista, de 43 anos, colega da família que estava no local no momento dos disparos.
Ainda de acordo com os familiares e vizinhos, outros disparos foram efetuados. Um deles chegou a atingir a mochila de outra criança, que também ia para a escola. Apesar disso, a menina não foi baleada. O conflito atraiu certa movimentação de moradores no local dos disparos e, segundo pessoas que estiveram presentes no momento, eles foram reprimidos com certa violência pelos agentes no local.
Uma das pessoas que acabou se ferindo durante esse momento foi Valdir Vasconcelos, de 72 anos, que acabou ficando com um ferimento no pé ao ser surpreendido pela repressão policial. "Na hora do tumulto, chegaram policiais e jogaram uma bomba no meio da muvuca. Não tinha agressão nenhuma contra policiais. Jogaram só para dispersar o pessoal. Foi um ato muito covarde. Eu me machuquei, teve uma senhora que nem pôde vir [ao velório] porque se machucou também, teve três ou quatro pessoas machucadas", contou Valdir.
"Vamos lutar por justiça! Nossas crianças estão perdendo o direito de ir e vir. A Polícia não quer saber, quer chegar atirando como se todo mundo ali fosse bandido. Não vamos nos calar. Vamos brigar por justiça. O Djalma não foi o primeiro e, se a gente não brigar, não será o último", exclamou Vanilda.
A versão da Polícia Militar é de que "equipes do 12º BPM (Niterói) realizavam policiamento quando foram atacadas por criminosos armados nas proximidades" do condomínio. Uma viatura teria sido avariada pela ação. A Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSG) está investigando o caso. Imagens de câmeras instaladas nas fardas de alguns dos agentes devem ser analisadas durante a investigação.