Morre PM condenado a 14 anos por matar ambulante em Niterói
PM sofreu uma tromboembolia pulmonar no último dia 3 de novembro
O policial militar Carlos Arnaud Baldez Silva Júnior, preso e condenado a 14 anos por matar um vendedor ambulante em frente à estação de barcas do Centro de Niterói, em fevereiro do ano passado, morreu aos 53 anos na unidade do sistema prisional onde cumpria pena, em Bangu, na Zona Oeste do Rio. O PM sofreu uma tromboembolia pulmonar no último dia 3 de novembro, dez dias após ser condenado pelo crime.
Não há detalhes a respeito das circunstâncias da morte. Arnaud foi encaminhado ao hospital penal da unidade, mas não resistiu ao problema. O sepultamento aconteceu no Cemitério de Irajá, na Zona Norte do Rio.
Pouco mais de uma semana antes da morte, no dia 24 de outubro, a juíza da 3ª Vara Criminal de Niterói, Nearis dos Santos Carvalho, condenou Carlos Arnaud a 14 anos de prisão, inicialmente em regime fechado, por homicídio qualificado. A magistrada também determinou que ele perdesse o cargo público de policial militar.
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Em fevereiro do ano passado, ele atirou contra o vendedor ambulante Hyago Macedo de Oliveira Bastos, de 22 anos, na fila da estação da CCR Barcas, na Praça Arariboia, no Centro. O PM estava de folga e interviu em uma discussão entre Hyago e uma outra pessoa. De acordo com os registros das câmeras de segurança, a vítima não reagiu.
Além da condenação criminal, o caso seguiu no âmbito cível, bom a família de Hiago processando o estado e pedindo indenização.O advogado assistente da acusação, Sérgio Fernandes, afirmou que, com a morte do acusado do crime, processo agora continua contra o Estado. “Claro que não estamos felizes pela morte, pelo ser humano que faleceu. A questão não é essa. A questão é que o caso traz à baila as questões do subconsciente, do racismo estrutural”, explicou.
O advogado contou que, durante o processo, a defesa do PM alegou que ele teria problemas de sanidade e não estaria em plenas condições das suas faculdades mentais no momento em que matou o vendedor de balas. A sentença da juíza Nearis Carvalho, porém, derrubou essa alegação.
“Aqui, nós não vamos discutir se o Hyago foi morto de forma devida ou indevida. A ação vai ser baseada na questão de que, se ele tinha problemas de saúde mental, algo assim fatalmente poderia acontecer”, afirmou Sérgio.
A viúva da vítima, Thais Conceição, de 30 anos, conta que ainda tem sido complicado lidar com a ausência do marido. “Lá em casa é muito difícil. Eu tenho que olhar para a nossa filha, a Hyayla, e responder quando ela pergunta pelo pai. Ela fica pedindo: ‘vamos lá no céu ver ele, onde ele tá?’. Ela tem 3 anos, mas ela era muito apegada a ele, desde que ela nasceu ele sempre cuidava dela para tudo”, conta.
Moradora da comunidade Boa Vista, em Niterói, e mãe de outras três crianças, ela acredita que o fato de Hyago ser negro pode ter influenciado o PM a ter atirado contra seu marido. “A gente ficou feliz pelo resultado da Justiça, que foi feita, não foi mais um caso de impunidade. Quantos Hyagos morrem por aí sem ter justiça?”, questiona a viúva.