Para delegado, morte da menina de 8 anos em Niterói foi tortura
Lesões encontradas no corpo da menina chocaram o titular da Divisão de Homicídios de Niterói
Exames periciais indicam que a menina de 8 anos morta após ter sido agredida pelo próprio pai pode ter morrido em decorrência de uma lesão na sua coluna cervical. Ilias Olachegoun Adeniyi Adjafo, de 30 anos, foi autuado em flagrante por homicídio qualificado, com agravante de tortura e de ser parente da vítima.
De acordo com o delegado titular da Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Maricá, Willians Batista de Souza, as lesões encontradas no corpo de Aoulath Alyssah Rodrigues Damala apontam que a menina já havia sofrido agressões anteriormente, pois foram encontradas lesões de idades diferentes, ou seja, de algum momento anterior a esta segunda-feira (11).
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“Ele claramente agrediu a filha diversas vezes. Eu, particularmente, posso dizer que em 10 anos, muitos deles trabalhando com homicídio, eu nunca tinha visto aquela intensidade de lesões, lesões espalhadas pelo corpo inteiro dela”, afirma o Delegado de Polícia.
Apesar do acusado não ter confessado a autoria do crime, duas testemunhas contaram aos policiais que o estudante de engenharia da UFF contou duas versões sobre o crime. A primeira seria a de que ele teria recebido uma reclamação da professora da escola da menina após ela ter “furtado” algo na escola, e, nas palavras dele, ele teria “corrigido” o comportamento dela. Já a segunda testemunha, um médico do SAMU, afirmou que quando chegou ao local o pai disse que teria agredido “um pouco” a filha.
“Acho que as coisas devem ter o nome correto. O que aconteceu não foi uma ‘correção’, o que aconteceu foi uma prática de tortura”, diz Willians Batista de Souza, titular da DHNSG.
Embora alguns vizinhos tenham declarado que não identificavam um histórico de violência por parte do acusado, ele possui uma anotação criminal por lesão corporal contra a ex-esposa, a dentista Adeyinka Rodriguez, mãe de Aoulath, em 2015. Segundo o boletim de ocorrência, ele teria agredido a ex-mulher enquanto ela estava com a filha do casal no colo. Na época, a menina tinha apenas dois meses de idade.
De acordo com o delegado, a Divisão de Homicídios ainda não considera o caso encerrado. Desta forma, todos que gravitavam no entorno da menina e do preso também devem ser ouvidos na investigação. Até o momento, cinco testemunhas foram ouvidas: dois médicos, um vizinho, um policial militar e a mãe da menina.
Ilias deve ser transferido ainda hoje (12) para o presídio de Benfica.
Pai era visto como calmo
Aoulath Alyssah morava na comunidade Boa Vista, em São Lourenço, Niterói, com seu pai, o estudante de engenharia da UFF e estagiário Ilias Adjafo. Seu pai é de Benin e veio para o Brasil em 2014, já sua mãe, a dentista Adeyinka Rodriguez, veio de Guiné-Bissau para o País em 2008. A menina, no entanto, nasceu no Brasil, em 2015.
Alyssah era a única filha do ex-casal, mas ela tinha uma irmã de cerca de 4/5 anos por parte de mãe. A guarda da menina era compartilhada, embora sua mãe morasse em São Paulo.
Segundo o primo da mãe de Alyssah, Mario Undiga, a relação do ex-casal era boa e o pai da menina é uma pessoa calma e calada. “Ele é uma pessoa de fácil trato, um rapaz muito tranquilo. Ele é estudante. A gente veio em um convênio de estudo, ele, eu e a mãe da Alyssah”, conta Mario, vice-presidente do Comitê Municipal de Direitos Humanos do Rio de Janeiro.