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Jovem de SG preso por reconhecimento por foto segue na cadeia; família cobra justiça

Segundo família, músico de igreja está preso desde dezembro sem provas

relogio min de leitura | Escrito por Felipe Galeno | 22 de fevereiro de 2024 - 18:12
"Eu tô fazendo tudo que eu posso, estou lutando", conta mãe do rapaz
"Eu tô fazendo tudo que eu posso, estou lutando", conta mãe do rapaz -

Oitenta dias após a prisão de Leonardo Antônio da Conceição Albertino, familiares do jovem mecânico de cicle, de 21 anos, seguem buscando provar a inocência do rapaz, que foi preso apenas com base em reconhecimento por foto. Morador de Itaúna, em São Gonçalo, ele foi preso após uma testemunha associa-lo a acusações de homicídio e roubo. Apesar disso, a testemunha não o viu pessoalmente e o apontou seu suposto envolvimento com o crime com base em apenas uma imagem.

"Meu filho é inocente e está preso, lá em Benfica, ainda. Eu sei que, se a juíza pudesse ouvir meu filho, conversasse com ele, ela ia ver, ia saber na hora que ele não tem envolvimento com nada", desabafa Nádia da Conceição, de 42 anos, mãe do jovem. Ele foi preso enquanto trabalhava, no último dia 4 de dezembro. O mandado o aponta como um dos responsáveis pela morte de Adriano Gonçalves de Oliveira, encontrado carbonizado em junho de 2022, em Guaxindiba.


Relembre o caso:  

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➢ Manifestação realizada pela família de músico preso em SG pede por justiça 


Na ocasião em que os crimes aconteceram, Leonardo tinha 19 anos e trabalhava como balconista em uma farmácia na Trindade. A defesa do rapaz já enviou à Justiça registros de sua atividade no trabalho nas datas citadas na acusação. Ainda assim, ele permanece preso, com base na denúncia de uma testemunha do crime.

Entenda o caso

A testemunha, que depôs contra o jovem, é o funcionário de uma loja de material de construção localizada próximo ao local do crime, em Guaxindiba. No depoimento aos policiais, ele falou em três suspeitos pela morte, todos identificados apenas por apelidos. Um deles seria "Sabiá", descrito pela testemunha como um homem "negro, alto, forte" e com "uma cicatriz no lado esquerdo do rosto, próximo ao nariz".

A descrição não corresponde à aparência de Leonardo, segundo a defesa. Ainda assim, quando a foto do jovem foi apresentada para a testemunha em depoimento para a Polícia, ela disse ser Leonardo o tal "Sabiá" do caso. Esta foi a única informação usada para basear o mandado de prisão contra o jovem, que não tem nenhuma outra acusação ou anotação criminal em seu histórico.

Músico de igreja está preso em Benfica desde dezembro
Músico de igreja está preso em Benfica desde dezembro |  Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

"Meu filho é trabalhador. Ele trabalhou em dois empregos na época do Covid para ajudar no sustento. Ele trabalha desde os 13 anos. Já vendeu trufa na escola, já trabalhou de garçom, trabalhou em farmácia. É um menino decente, baterista da igreja. Temos fotos, provas, testemunhas de que ele não fez nada disso", afirma Nádia. Segundo ela, a única explicação encontrada pela família para a foto de Leonardo ter sido associada é uma possível confusão feita entre o jovem e seu meio-irmão mais novo, que faleceu em 2021.

O irmão de Leonardo por parte de pai faleceu aos 17 anos e era acusado de envolvimento com o tráfico de drogas. A defesa acredita que a alcunha desse irmão tenha sido atribuída a Leonardo por confusão, por causa do sobrenome, e que, por conta disso, sua foto acabou indo parar no rol de fotos apresentada pela Polícia  para a testemunha.

Jovem estava trabalhando no dia da prisão

A prisão aconteceu em dezembro de 2023. Leonardo estava em um cicle no Alcântara, onde trabalhava como mecânico de bicicletas, no momento em que os agentes da Delegacia Especializada em Armas, Munições e Explosivos (Desarme) chegaram para prendê-lo. Ele não resistiu e foi levado pela Polícia. Sua mãe conta que a família não foi avisada.

"O Leonardo tem um horário muito certo. Eu achei muito estranho quando deu a hora que ele costumava voltar e ele não chegou. Comecei a ligar e ele não atendia, não me respondia. E ele nunca foi disso. Então liguei para o patrão dele no cicle, que me contou", relembra Nádia.

Mesmo depois de ser informada sobre o caso, o contato com o filho não foi fácil. "Me negaram o contato com ele e não deixaram ele fazer nenhuma ligação, de início. Fiquei quase 20 dias sem contato nenhum com meu filho. Fora que, pessoalmente, só consegui contato de verdade agora, no final de janeiro, na primeira visita", explica a mulher.

"Eu tô fazendo tudo que eu posso, estou lutando", conta mãe do rapaz
"Eu tô fazendo tudo que eu posso, estou lutando", conta mãe do rapaz |  Foto: Divulgação

"Ele não tá legal, não está nada bem. A mente dele não está legal com tudo isso. Ele me falou na visita: 'mãe, aqui não é lugar pra mim, não era para eu estar aqui'. É difícil para uma mãe ouvir isso, ainda mais sabendo que ele não devia estar lá", conta Nádia. Enquanto o jovem enfrenta o sistema carcerário, a família segue tentando, do lado de fora, ajudar a avançar com o caso.

"Eu tô fazendo tudo que eu posso, estou lutando. Estou fazendo rifa, estamos organizando almoços na nossa igreja, tudo para pagar o advogado. Mas fica essa burocracia da Justiça e o meu filho segue lá, já há três meses preso. A vida dele parou totalmente, a minha vida parou. Ele está lá sofrendo, a gente aqui lutando, meu estresse e minha ansiedade estourando, a diabetes do pai dele cada vez pior. É angustiante", lamenta a mãe de Leonardo.

Audiência acontece em março

Leonardo participará de três audiências sobre os crimes no próximo mês de março, na 4ª Vara Criminal da Comarca de São Gonçalo. Para uma delas, a defesa de Leonardo já conseguiu a aprovação da liminar de soltura. Nas outras, porém, o pedido de habeas corpus foi negado. Familiares, amigos e pessoas próximas a Leonardo contam com as audiências para tentar provar a inocência do rapaz.

"Quebra o sigilo telefônico dele! Pode ver. O número de telefone dele é o mesmo desde que ele tinha 12 anos. Bandido conversa com bandido. Nas conversas do meu filho não vão encontrar nada disso. Pode ouvir tudo. Ou podem procurar todo mundo que conhece ele. Ir em todos os lugares onde ele ia; não vão encontrar nada, porque meu filho nunca se envolveu com nada disso. Tem fotos, registros dele trabalhando nos dias dos crimes!", desabafa a mãe.

Procurada, a Polícia Civil afirmou que o processo criminal "seguiu o trâmite previsto" pela legislação. "A instituição ressalta que não utiliza, de forma exclusiva, o reconhecimento indireto por fotografia como única prova em inquéritos policiais para pedir a prisão de suspeitos. O método, que é aceito por lei, é um instrumento importante para o início de uma investigação, mas deve ser corroborado por outras provas técnicas e testemunhais", disse a corporação, em nota.

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