Aplicativos espiões: uma arma de controle em relações abusivas
Tecnologia tem sido usada por criminosos para monitorar, vigiar e cometer crimes contra mulheres
O avanço tecnológico facilitou a vida de milhões de pessoas, mas para alguns a tecnologia se tornou um instrumento usado para a prática de crimes e o controle através de monitoramento de redes sociais e rastreamento. Aplicativos espiões têm sido usados por homens abusivos para vigiar mulheres em relações de dependência emocional e física, transformando os celulares em ferramentas de vigilância constante.
Além de uma ferramenta eficaz para monitorar os passos, as conversas e a vida da vítima, os aplicativos são usados para planejar crimes, como mostramos no caso da cuidadora de idosos Graciele, 38 anos, que foi esfaqueada 15 vezes pelo ex-namorado, enquanto estava anestesiada no consultório do dentista, em Alcântara. O criminoso sabia que a vítima estaria em situação de vulnerabilidade porque havia instalado um aplicativo espião no celular da mulher.
Graciele só soube disso quando estava internada, depois de se tornar vítima de tentativa de feminicídio.
Leia sobre o caso de tentativa de feminicídio sobre Graciele
Para dar dicas de como identificar se seu aparelho celular está infectado por um programa espião desse tipo, O SÃO GONÇALO ouviu um especialista na área de Tecnologia da Informação(TI) sobre o assunto. Davi Santos Messias, gerente de TI, explica que esses aplicativos são numerosos e estão disponíveis até mesmo em lojas oficiais de aplicativos. “Eles têm diversas funções, o que os torna atraentes e acessíveis. O problema começa quando eles são usados para fins maliciosos, como espionagem de parceiros”, diz.
Segundo Davi, é possível que esses aplicativos sejam instalados sem que a vítima saiba, especialmente em dispositivos Android. “Se o infrator tiver acesso a conta vinculada à loja de aplicativos, ele consegue fazer isso remotamente. Já no caso de iPhones, as restrições são maiores, especialmente se o aparelho não tiver sido desbloqueado por jailbreak”, explica.
Detectar um aplicativo espião nem sempre é simples. Muitos operam de forma oculta, dificultando a identificação direta no celular. No entanto, Davi destaca sinais que podem indicar a presença dessas ferramentas. “Se a bateria do celular estiver acabando mais rápido que o normal ou o aparelho esquentando sem motivo aparente, isso pode ser um sinal de que há algo rodando em segundo plano. Nesses casos, a recomendação mais segura é restaurar o aparelho para as configurações de fábrica”, ensina.
Para quem deseja investigar manualmente, Davi orienta os passos para identificar aplicativos suspeitos:
No Android: Vá até Configurações > Aplicativos e busque por nomes genéricos ou desconhecidos, como “System Update” ou “Device Manager”.
No iOS: Acesse Configurações > Geral > Armazenamento do iPhone e obtenha aplicativos não familiares. Além disso, aplicativos como “Cydia” ou “Sileo” podem indicar que o dispositivo passou por 'jailbreak'.
'Jailbreak' é um processo que permite desbloquear um dispositivo para obter acesso total ao sistema operacional e à conta do administrador. O termo é mais frequentemente usado para se referir a dispositivos Apple, como iPhones, iPads e iPod Touches.
O 'jailbreak' permite que o usuário remova ou modifique as restrições de software impostas pelo fabricante, como instalar aplicativos não aprovados pela Apple.
E se um aplicativo espião for encontrado? “Se ele estiver listado entre os aplicativos, basta desinstalar manualmente. Mas, para aplicativos ocultos, o reset completo é o mais indicado”, afirma o especialista.
Davi também alerta sobre os cuidados preventivos. “É fundamental proteger a conta da loja de aplicativos com uma senha forte e nunca compartilhar com ninguém. Além disso, desconfie de aplicativos que pedem permissões excessivas ou que instalam outros programas adicionais”, destaca.
Por fim, o uso de aplicativos antivírus ou ferramentas que monitoram as permissões de outros aplicativos pode ser uma barreira adicional contra a instalação desses espiões.
Compreender e combater o uso da tecnologia como ferramenta de abuso é essencial no enfrentamento à violência contra a mulher. Em caso de dúvida, procure um especialista na área ou busque ajuda em uma delegacia especializada.