Líder de esquema de anabolizantes ilegais é preso em casa com placas ameaçadoras em SG
Casa de luxo do 'Boss' precisou ser arrombada
Miguel Barbosa de Souza Costa Júnior, conhecido como "Boss", é apontado como líder de um esquema criminoso que movimentou pelo menos R$ 80 milhões em seis meses com a fabricação e comercialização de anabolizantes clandestinos e foi o principal alvo da Operação Kairos, da Polícia Civil do RJ e do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), contra a fabricação e a comercialização de anabolizantes clandestinos.
A prisão de Miguel aconteceu no início desta terça-feira (14). Ele foi encontrado em uma luxuosa casa, no Colubandê, em São Gonçalo, onde morava com sua esposa, também presa na operação. A residência que se destaca entre as demais da rua, precisou ser arrombada pelos policiais, já que o acusado não abriu as portas com a chagada da polícia. Além do casal, outras 12 pessoas também já foram presas.
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A quadrilha, considerada uma das maiores do país no ramo de anabolizantes ilegais, produzia substâncias tóxicas, contendo até repelentes de insetos em sua composição. Os produtos, comercializados sem registro na Anvisa, eram vendidos em plataformas on-line e redes sociais, atingindo consumidores em 26 estados brasileiros.
Miguel não economizava esforços para alavancar seu império. Sob sua liderança, a organização patrocina grandes eventos de fisiculturismo e apoia atletas profissionais, consolidando uma fachada de legitimidade para marcas como Next, Venon, Thunder Group, Pharma Bulls, Supreme e outras.
Além do investimento em publicidade esportiva, o grupo apostava no marketing digital, pagando influenciadores, até R$ 10 mil por campanha, para promover os produtos ilegais. Essa estratégia agressiva permitiu à quadrilha expandir seu alcance e conquistar um mercado amplamente consumidor.
Segundo Pedro Simão, promotor do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), a logística era meticulosamente planejada. "Eles montaram instalações em áreas dominadas pelo tráfico de drogas para dificultar possíveis investigações e assegurar o funcionamento do esquema", destacou.
Casa de luxo e mensagens de intimidação
O comportamento de Miguel refletia a confiança de quem acreditava estar intocável. Na casa onde foi preso, os muros traziam placas com mensagens ameaçadoras, como “Invasores serão alvejados; sobreviventes serão alvejados novamente” e “Agimos igual ao STF — acusamos, julgamos e executamos”.
Essa postura não era apenas simbólica. Durante as investigações, as autoridades constataram que Miguel adotava uma liderança rígida e centralizadora, coordenando pessoalmente os principais passos do esquema.
Os anabolizantes produzidos pela quadrilha eram vendidos a preços muito abaixo do mercado legal. Um miligrama de hormônio, que custa mais de R$ 50 em farmácias autorizadas, era oferecido por R$ 18, sem exigência de receita médica. Essa prática era potencialmente letal, já que os produtos continham substâncias de alto risco para a saúde.
As investigações começaram em junho de 2024, após o setor de fiscalização dos Correios identificar um fluxo anormal de pacotes contendo substâncias suspeitas. Ao longo da operação, mais de 2 mil produtos ilegais foram apreendidos, gerando um prejuízo estimado em R$ 500 mil para o grupo.
Investigação
A Operação Kairos resultou na prisão de 14 pessoas, além da emissão de 23 mandados de busca e apreensão e 8 medidas cautelares. Ao todo, 23 integrantes do grupo foram denunciados por associação criminosa, crimes contra a saúde pública e crimes contra as relações de consumo.
De acordo com o delegado Luiz Henrique Marques, responsável pelas investigações, essa é apenas a primeira fase da operação. "Estamos focados nos líderes e gestores do esquema, mas ainda investigaremos influenciadores, revendedores e até consumidores que contribuíram para a disseminação dos produtos", afirmou.