São Gonçalo tem 13 bairros cercados por barricadas de traficantes
Obstáculos são repostos após ações da polícia

No primeiro dia de funcionamento do “Tem Barricada Aí?”, moradores de treze bairros enviaram denúncias sobre ruas interditadas por traficantes, através do WhatsApp. Jardim Catarina, Galo Branco e Santa Luzia estão entre as localidades com mais denúncias da população.
O novo canal de comunicação de O SÃO GONÇALO está disponível pelo número 97220-6423. Com garantia de sigilo dos nomes de autores dos relatos, a plataforma pretende dar voz aos cidadãos que têm visto o deslocamento ficar cada dia mais difícil em áreas dominadas pela criminalidade. As informações serão divulgadas por meio das matérias e de um mapeamento online, com o intuito de auxiliar e cobrar os órgãos de segurança.
Das 25 denúncias recebidas até o fim da tarde de ontem, cinco se referem ao Jardim Catarina. O maior loteamento da América Latina tem sido alvo das principais ações da PM para liberação das vias, ao longo do ano, já que, segundo o próprio comandante do 7ºBPM(SG), tenente coronel Marcos Lima, os criminosos repõem os obstáculos pouco depois da ação da polícia.
De acordo com os moradores, o bairro está, de fato, sitiado. A Rua Doutor Mário Motta recebeu um caminhão de barro para impedir a circulação. Na Rua Otavio Feullet, a situação é semelhante.
“Antes havia um ferro que conseguíamos remover e recolocar. Recentemente descarregaram um caminhão de terra. Sobrou um espaço mínimo entre o barro e o poste. Se for um caminhão de mudanças ou de lixo, não passa”, contou um morador.
A Avenida Domício da Gama foi citada duas vezes. Em uma das denúncias, o participante informou que os traficantes comemoram quando recolocam a barricada, com tiros para o alto e gritos, afirmando que são eles quem mandam na comunidade. Ali, nenhum carro circula. Outros moradores contaram ainda que da Rua 10 à Rua 50, todas estão fechadas e acrescentam que na Rua Alberto Sampaio, conhecida como 49, agentes da PM, da PRF e das Forças Armadas estiveram no local, mas sem remover os objetos.
Galo Branco e Santa Luzia disputam, por enquanto, o segundo lugar do ranking, com quatro denúncias cada. No bairro do 1º distrito, moradores contam que as barricadas se tornaram realidade há mais de um ano, o que tem impedido o uso de serviços do Correio, Uber e táxi.
“Há mais de seis meses não vemos uma viatura policial passar por aqui. O IPTU está em dia, mas nos sentimos abandonados pelo poder público”, lamentou um morador.
Manilhas e entulho têm sido usadas para obstruir os seguintes endereços: Travessa Galo Branco e entorno; Rua Major Duque Estrada, Rua Jaime Wainer, Rua Alberto Fortes, Rua José Guedes, além das ruas Mário Sá Barreto e Mario Tinoco, já no Rocha. De acordo com os relatos recebidos, os traficantes Pinguim, Rodriguinho, RD Bebe Sangue, Guguzinho Maluco, Dentinho e Fozer são alguns dos que atuam na região dos morros Menino de Deus e Escadão.
Fiéis deixam de celebrar cultos por conta do tráfico
Em Santa Luzia, a criminalidade tem atrapalhado até mesmo o exercício da fé. Barricadas colocadas na Rua Monsenhor Barenco Coelho estão em frente a um templo batista, impedindo que os fiéis acessem o local.
Os moradores lamentam que o bairro residencial e pacato até poucos anos, esteja interditado. Entre as ruas afetadas estão a Afrânio Peixoto, Emílio Castelar, Lopo Gonçalves, Waldemar Marcelino, além da Avenida Julio Lima, uma das principais da região e as que integram a comunidade da Carobinha. Na Rua Guatemala, próximo à Avenida Carmélia Dutra, na divisa com o Jardim Catarina, uma geladeira e restos de móveis ocupam a pista. Armados com fuzis, os traficantes vendem drogas e usam rádios transmissores. Segundo moradores, o local é rota de fuga de criminosos em motos, possivelmente, roubadas.
Criminosos usam entulhos e troncos
No Porto Novo, a preocupação popular está focada na comunidade do Pombal, onde manilhas, pedregulhos, troncos de árvores e diversos quebra-molas consecutivos dificultam a circulação. "Há duas semanas, as ruas que dão acesso ao campo estão com barricadas. Moro aqui há 28 anos e nunca tinha visto algo assim", questiona um participante. As ruas Anildo Cunha e Laís Costa e a Travessa Ramos são as mais afetadas.
Em Guaxindiba, há barricadas nas ruas Quatro, Cinco, Seis, Oito, Nove, Dez, na Cardeal Amauri e na Rodrigues Coutinho. Moradores contam que as retroescavadeiras utilizadas em outras remoções abriram crateras nas ruas. Com as chuvas, a circulação fica ainda mais comprometida.
A criminalidade faz festa na Trindade nos acessos à comunidade Três Campos e na divisa com a Favela do Pica Pau. Há barricadas nas ruas Caçapava, Jaú, Tabajara, Parati, Cuiabá, Uruguaiana e Cabo Frio. As denúncias revelam que moradores foram expulsos de casa pelos bandidos e que o local, sobretudo às margens do Rio Alcântara, é utilizado como rota de fuga.
Em Vista Alegre, as barricadas na Rua Joaquim Nabuco impedem a circulação de veículos. Os moradores e os profissionais de transporte escolar precisam acessar a Estrada de Guaxindiba pela Rua 4. As transversais próximas também estão dominadas.
No Porto do Rosa, a dor de cabeça tem sido para quem frequenta as ruas Leandro de Carvalho, as transversais da Rua Ernesto Lavisse, a Marquês Guimarães e a Boa Esperança. No Bairro Almerinda há informações sobre obstáculos na João Maurício Campos com a Elvira das Dores.
Em Nova Cidade, a barricada está localizada na esquina da Rua Capitão Heitor Melo com a Waldemar Simões; e no Boassu, na Rua Ramalho Monteiro. No Recanto das Acácias, um morador comentou que soldados do Exército e policiais civis visitaram a região, mas não removeram as barricadas da Rua Cecília Ferreira de Carvalho.