Brasileira e recém-nascido são encontrados mortos na Holanda
Namorado é detido suspeito de aborto forçado
Os corpos da cearence Patricia Oliveira dos Santos, de 32 anos, e de seu bebê prematuro foram encontrados pela polícia há cerca de três semanas em um apartamento em Diemen, região metropolitana de Amsterdam, na Holanda. A mulher estava grávida de oito meses e havia chegado recentemente nos Países Baixos para passar algumas semanas com o namorado holandês, Dennis van E., de 48 anos.
Essa era a primeira vez que ela visitava o namorado. Segundo a família, ela tinha passagem agendada para voltar para o Brasil este mês de novembro, onde faria o parto em Fortaleza. Patrícia era vendedora, morava em Fortaleza com os pais, os dois filhos, uma irmã e mais dois sobrinhos. Vítima deixa órfãos meninos de oito e nove anos de idade.
Quando questionado se vestígios de violência foram encontrados no local, um porta-voz do Ministério Público Holandês não quis dizer. "Entendo que este caso levanta questionamentos, mas no interesse da investigação policial não podemos dizer nada por enquanto”, disse ele.
Policiais invadiram apartamento
Era uma sexta-feira quando a polícia foi acionada por vizinhos que suspeitaram de algo errado no condomínio. Um dia antes, uma vizinha que não quis ser identificada, disse que achou o comportamento do casal meio suspeito. “Pela manhã, eu estava a caminho do cabeleireiro quando eu vi o homem descendo as escadas com a mulher”, ela aponta para a galeria do apartamento e diz “ele ficou ali com a mulher e depois apontou para alguma coisa, nesse momento, parecia haver algo estranho entre eles”.
Vizinhos estavam apreensivos e preocupados. “De repente, quatro policiais estavam na minha sala de estar. Eles queriam tentar entrar no apartamento deles pela minha varanda” relata um deles.
“Ela acenou para mim com um oi” disse Greta Heseding, que viu o casal no hall de entrada do prédio, um dia antes do ocorrido. A idosa, que mora no condomínio há 26 anos, contou que achava atípico o comportamento do morador do apartamento. “As cortinas estavam sempre fechadas, não se via nada pelas janelas ou sacada, era como se ele quisesse esconder alguma coisa, eu não sei”.
Contato com familiares no Brasil
O Consulado-Geral do Brasil em Amsterdam acompanha o caso e está em contato com familiares desde que a vítima foi identificada. Foi assim que Fabiana Oliveira dos Santos, uma das irmãs da vítima, teve a certeza da tragédia, já pré anunciada pelo o cunhado holandês através de uma mensagem de celular.
Segundo Fabiana, o cunhado enviou uma mensagem para o celular dela na madrugada do dia 18 de outubro dizendo que, ao acordar, chamou Patrícia e a mesma não respondeu. “Foi quando ele disse que olhou e percebeu que ela estava toda ensanguentada, e que ela teria feito um aborto, ele disse ‘estou destruído, vou sair para chamar a polícia’ e eu fiquei sem entender o que estava acontecendo, continuei tentando falar com ele depois e ele não me respondeu mais”, relata.
Sem entender o que estava de fato acontecendo com a irmã, Fabiana já suspeitava que era algo sério. “Comecei a chorar sem saber o que fazer, eu queria ter certeza de que eu tinha entendido aquela mensagem, então não contei para ninguém da minha família, apenas chamei uma vizinha para ler novamente a mensagem pois eu pensei que eu tivesse interpretado algo errado, foi quando ela confirmou que eu havia lido direito” conta.
Sem saber por onde começar a pedir ajuda, Fabiana procurou o departamento de Polícia Militar, que a encaminhou para a Polícia Federal, lá pediram para que ela voltasse somente na segunda-feira. “Quando eu estava voltando para a PF, a Embaixada Brasileira na Holanda entrou em contato com o meu irmão e confirmou que a Patricia havia sido encontrada morta com o bebê”.
Crime anunciado
Fabiana acredita que o Van E. é responsável pelas mortes da irmã e sobrinho. Para a dona de casa, irmã deu sinais de que algo poderia acontecer.
“Dia 15 de outubro ela conversou comigo e estava muito nervosa e com medo, e avisou que se ela não entrasse mais em contato eu poderia denunciar ele para a polícia”.
Patrícia havia contado para a irmã que o namorado tinha viajado com o pai e ela estaria sozinha no apartamento, mas que Van E. chegaria naquele dia e que vinha agindo estranho com ela desde que soube que o filho do casal era um menino, além disso, ele havia transferido a viagem dela de volta ao Brasil para Dezembro.
“Ele disse que quando chegar hoje vai trazer um remédio para eu abortar e que se eu passar mal ele me levará ao hospital, mas eu não quero abortar, se quisesse eu teria feito no início da gravidez”, contou Patrícia com preocupação.
Segundo Fabiana, a irmã disse chorando que estava arrependida de ter ido para a Holanda. “Ele mentiu para mim, disse que gostava de mim e dos meninos e agora diz que nunca gostou dos meus filhos, isso doeu na minha alma, ele disse que se fosse uma menina eu poderia ter, mas um menino eu terei que abortar”, lamentou Patrícia.
Patrícia tinha medo de pedir ajuda. Ela não falava holandês ou inglês, o namorado aprendeu um pouco de português, e era assim que eles se comunicavam. Fabiana ainda sugeriu que a irmã saísse do apartamento antes do namorado chegar e fosse pedir ajuda, mas Patrícia teve medo.
O telefone celular que Patrícia usava era controlado pelo o namorado, que de acordo com amigos e familiares da vítima, era muito ciumento. Fabiana diz que a irmã se despediu e fez um último apelo. “Ela pediu para eu enviar uma mensagem para ele e dizer que se ele não a mandasse de volta para o Brasil em pouco tempo, eu iria denunciar ele para a polícia”, e lembrou dos filhos “pedindo para que eu abençoasse os meninos e eu não me preocupasse que tudo iria ficar bem”, lembra.
Infelizmente nada ficou bem, e após Fabiana enviar a mensagem para Van E. tentando convencê-lo de mandar sua irmã de volta para casa, o mesmo a bloqueou e só desbloqueou na madrugado do dia 18, quando anunciou a tragédia.
O suspeito Dennis Van E.
Considerado calmo e gentil pelos vizinhos, o homem que ostenta um corpo de ‘garoto de academia’, nunca se envolveu em qualquer problema ou polêmica no condomínio.
No seu perfil do LinkedIn, ele aparece como consultor de investimentos financeiros e inclusive já apareceu em um canal de TV como especialista em pensões.
"Dois anos e meio atrás, quando vim morar aqui, eu o conheci", diz um vizinho do suspeito. "Depois disso a gente sempre se cumprimentava, mas nunca tivemos intimidade, ele era um pouco fechado, apesar de gentil”, completa.
Van E. conheceu Patrícia em Fortaleza e desde então mantiveram um relacionamento à distância. Uma amiga da vítima conta que ele ia com frequência ao Brasil e ficava alguns meses. “Ele vinha sempre e eles passavam semanas ou meses juntos” conta a moça que preferiu não se identificar.
Na última temporada que passou no Brasil, Van E. comprou uma aliança de noivado para Patrícia, que parecia muito feliz com a novidade, segundo conta familiares e amigos.
“De fevereiro a março deste ano ele esteve no Brasil, foi quando a pediu em casamento, ele se mostrava uma boa pessoa, tratava a gente bem, e a gente acreditou que tudo daria certo” lembra com tristeza a irmã de Patrícia.
Solidariedade nas redes sociais
A notícia tem sensibilizado muitas pessoas nas redes sociais e a comunidade brasileira na Holanda.
Um grupo com cerca de 300 pessoas no Facebook tem se unido em prol da família. Uma “vaquinha” virtual foi aberta para que as pessoas interessadas em ajudar, possam contribuir com as futuras despesas que a família terá com o traslado dos corpos e desenrolar do caso.
Texto : Valéria Campelo Journalist Freelance Correspondent EU/Region