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PM ocupa Viradouro em Niterói e recebe palmas no asfalto e 'esculacha' no morro

Moradores denunciam invasões de casas por policiais atrás de 'espólios de guerra'

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 01 de setembro de 2020 - 23:16
Imagem ilustrativa da imagem PM ocupa Viradouro em Niterói e recebe palmas no asfalto e 'esculacha' no morro

Há 15 dias, desde 19 de agosto, os cerca de 30 mil moradores de Santa Rosa (27 mil habitantes) e do Complexo do Viradouro (3 mil habitantes), na Zona Sul de Niterói, convivem com a realidade de dois bairros, antes 'divididos' pelo domínio de traficantes, e agora 'repartidos' por uma ocupação da Polícia Militar. É que, como O SÃO GONÇALO revelou com exclusividade, a Prefeitura de Niterói 'chamou a Polícia', pedindo a intervenção da Secretaria Estadual de Segurança, depois de ser impedida de executar obras no Complexo do Viradouro, num investimento de R$ 60 milhões, caso não pagasse uma taxa mensal de R$ 20 mil aos traficantes.

Projeto de revitalização do local
Projeto de revitalização do local |  Foto: Divulgação
 

"Nós não somos bandidos, e estamos pagando o preço pela ação dos traficantes durante todos esses anos, mas que já fugiram daqui. Isso que os policiais estão fazendo, invadindo casas sem mandado judicial, é inadmissível. Meu vizinho teve o carro amassado por um caveirão", protesta um morador da comunidade, que teve a casa na subida do Morro da União, na localidade conhecida como Garganta, invadida por policiais militares há uma semana.

"Isso aqui nunca esteve tão tranquilo como agora. A gente vivia com medo de andar na rua depois de certa hora. Hoje, mesmo com o movimento menor de pessoas voltando para casa à noite, por conta da pandemia, os moradores estão se sentindo mais seguros. Que essa ocupação seja permanente", pediu um morador de um dos mais de 20 prédios localizados no asfalto, na Rua Doutor Mário Vianna, a principal via que corta os dois bairros.

'Asfalto' aplaude operação da PM
'Asfalto' aplaude operação da PM |  Foto: Reprodução
 

O vai e vem diário dos comboios da PM pela Rua Mário Vianna em direção ao Viradouro, com desfile de blindados, os famosos caveirões, além de uma tropa de soldados armados de fuzis abrigados em caçambas de caminhonetes pretas do Batalhão de Choque, por vezes têm despertado aplausos de moradores do asfalto. Mas, de acordo com relatos, de quem mora no morro, a integrantes da comissão de Direitos Humanos da Câmara de Vereadores de Niterói e da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), dentro da comunidade os policiais têm invadido residências e ameaçado moradores.

"Não entendemos o porquê disso com trabalhadores, que nada têm a ver com a criminalidade da região. Até agora, quem eles prenderam de relevante nessa ocupação? Ninguém! Todo mundo já fugiu, não tem mais ninguém no morro e eles continuam invadindo as casas de que saiu para trabalhar, quebram os móveis...Uma característica desses maus policiais é que adoram pegar energéticos nos comércios e não pagam. Qual é a necessidade disso? Eles recebem bem e podem comprar, ajudando o comércio local. O Viradouro pede paz, ninguém aguenta mais traficante, nem policial bandido", denuncia um comerciante local.

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De acordo com relatório da Secretaria de Segurança Pública, o pivô da ocupação policial no Complexo do Viradouro seria Marcos Patrick da Silva Aquino, o Tiquinho, 28 anos. Preso em novembro de 2015, ao jogar uma granada contra PMs, durante uma operação, e ter uma das mãos decepada pela explosão do artefato, Tiquinho foi liberado para uma visita à família em setembro de 2017, não retornou à prisão e assumiu a 'chefia' do tráfico. Teria sido ele quem exigiu o 'mensalão' de R$ 20 mil à Prefeitura.

Tiquinho: preso em novembro de 2015, ao jogar uma granada contra PMs
Tiquinho: preso em novembro de 2015, ao jogar uma granada contra PMs |  Foto: Divulgação
 

Moradores afirmam que, um dia antes da ocupação policial, Tiquinho e seus principais 'soldados' deixaram a comunidade para se abrigarem em favelas de Niterói e São Gonçalo controladas pela facção a qual pertencem, o Comando Vermelho (CV). O destino de Tiquinho, segundo investigações da Polícia Civil teria sido o Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo.

"Repórter, pode escrever aí. O PM me disse que não interessa se não tem mais bandido no morro. Ele disse pra mim que agora querem o 'espólio de guerra'. Disse que se os bandidos fugiram, deixaram armas, drogas e dinheiro para trás. E que 'tá' tudo escondido nas casas dos moradores. Por isso eles vão meter o pé na porta", denunciou um morador à reportagem de O SÃO GONÇALO.

As denúncias dos moradores do Complexo do Viradouro foram enviadas para o Conselho Nacional de Direitos Humanos, para Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), para a Defensoria Pública do Estado e o Ministério Público Estadual.

"Falei com moradores do Complexo do Viradouro (Niterói) sobre a ocupação da PM, e ouvi relatos de inaceitáveis violações cometidas pela Polícia. É preciso derrotar o crime que domina o local, mas sem esculachar as famílias", se pronunciou através de postagem em suas redes sociais o deputado estadual Waldeck Carneiro (PT).

Em nota, a Polícia Militar informou que iniciou uma ampla ação na localidade visando a segurança da população, assim como o acesso aos serviços prestados pelos demais órgãos da administração pública.

A PM reforçou que segue atuando na região das comunidades da Grota, Igrejinha e Viradouro desde o dia 19/08 e até o momento, houve apreensão de um fuzil calibre 7,62 mm, quatro pistolas, quatro granadas, uma granada artesanal, uma granada defensiva, dois simulacros de pistola, entrou outros itens.

Sobre denúncias de excessos de policiais, a corporação afirma que, como tem demonstrado ao longo de sua história, não compactua e pune com o máximo rigor, quando identificados, possíveis abusos de autoridade e desvios de conduta cometidos por seus membros.

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