Educação inclusiva: saiba como fazer a melhor escolha para o seu filho
Escolas precisam ter professores de apoio
Os passos de um filho geram expectativa nos pais. O desenvolvimento na escola, por exemplo, é sempre muito aguardado. Mas no caso de pais de crianças no espectro autista, o que era para ser prazeroso, geralmente traz muitos questionamentos e preocupações. Será que as escolas públicas e privadas estão preparadas para receberem crianças autistas mesmo quando se fala em Educação Inclusiva? É o que a neuropiscóloga Wanessa Berba, diretora do Espaço Crescer, referência no tratamento de crianças com espectro autismo, em Niterói avalia.
“Embora a vaga na escola, tanto pública como particular, seja um direito assegurado por lei, vejo que grande parte das unidades ainda precisam de preparo para receber estas crianças. Geralmente elas fazem um acompanhamento que é multidisciplinar com diversos especialistas, alguns não possuem pré habilidades atencionais de contato visual, sentar, esperar ou interesse social. Então como tentar fazer com que esta criança venha interagir, compartilhar e trocar com o outro? Esta foi uma pergunta trazida por uma escola e que me levou a perceber que o estrutural ainda precisa ser muito melhorado para receber este público”, constatou Berba, que também atua na psicologia e na análise comportamental de crianças com TEA.
Estruturar o modelo educacional compreende na capacitação de profissionais para ensinar de uma forma diferente da habitual, de preparar espaços físicos que atendam suas necessidades, integrar o trabalho de fonoaudiólogos, psicomotricistas, psicopedagogos e terapeutas, por exemplo.
“Conheço escolas da rede privada que se dizem inclusivas e chegam a ter mensalidades de até R$ 2 mil ao mês e ainda assim, pecam em muitos quesitos. Na rede pública é ainda pior. Me pergunto ‘inclusivo para quem’, se grande parte das famílias hoje não conseguiriam custear isso e ainda enfrentam os planos de saúde que não cobrem tais tratamentos específicos”, questiona Wanessa.
Direitos da Pessoa Autista
A lei existe, mas a prática nem sempre funciona. É o que explica o advogado Alberto Magalhães, especialista em Direitos Humanos. Segundo ele, a categoria está em busca de processos de inclusão, a questão estrutural das escolas ainda é um passo muito largo a ser dado.
“O autista está incluído no Estatuto da pessoa com deficiência, conforme a Lei 13.146/2015. Lei esta que diz que as escolas não podem se negar às matriculas de crianças no espectro e que as mesmas não podem cobrar valores adicionais pelo critério de ter mais profissionais envolvidos nos cuidados especiais com aquela criança. É preciso pensar em como acolher a criança de forma mais interativa e eficiente, atendendo às necessidades de cada uma delas”, pontuou Magalhães, que também é Mestrando em Direito Constitucional pela Universidade de Coimbra.
O advogado destaca que também é garantido um acompanhamento em sala de aula conforme o parágrafo único do artigo 3º da Lei 12.764 de 27/12/2012, que diz: “Em casos de comprovada necessidade, a pessoa com transtorno do espectro autista incluída nas classes comuns de ensino regular, nos termos do inciso IV do art. 2o, terá direito a acompanhante especializado.
Na Rede Municipal de Ensino, por exemplo, para cada três crianças autistas, um profissional auxiliar ao professor. Cinthia Motta, de 31 anos, que atua há 13 anos na Educação e há dois como professora de apoio numa escola de São Gonçalo explica que os profissionais montam uma apostila adaptada de acordo com a necessidade de cada aluno para que o conteúdo passado pelo professor possa ser absorvido da melhor forma.
“Não se tem muito recurso, mas os profissionais se adaptam com o que tem. Trabalhamos de forma remota, inclusive. Fazemos todo o possível para que o aluno seja inserido no processo educacional”, conta.
Especialista no tratamento e desenvolvimento de crianças autistas, Wanessa Berba diz que é preciso mais: “Investimento das escolas na formação de professores que possam trabalhar com alunos autistas, apoio governamental e mais prática e menos teorias no cumprimento da lei”, finalizou