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Furacão 2000: Como o funk carioca marcou São Gonçalo nos anos 90 e 2000

No último capítulo da série 'Uma História de Respeito', relembre o auge do funk carioca na cidade e a era de ouro do embate Furacão 2000 Vs. Castelo das Pedras

relogio min de leitura | Escrito por Renata Sena | 01 de setembro de 2024 - 15:00
Rômulo Costa e Priscila Nocetti relembram início da Furacão 2000 no Clube Mauá
Rômulo Costa e Priscila Nocetti relembram início da Furacão 2000 no Clube Mauá -

Equipe poderosa, furacão 2000, e quem não gostou… Se você completou essa frase, senta aí que esse texto é para você. Aposto que surgiu um sorriso de canto de boca e sua mente te levou lá para o último período dos anos 90 ou para a primeira década dos anos 2000, não foi?

Eram 22h e você estava devidamente trajado. Os meninos: bonés de marca, tênis na mola e uma camisa que parecia um outdoor com o nome de uma loja estampada. As meninas: calça baixa — muito baixa — com o máximo de elastano possível, blusa curta, que hoje chamam de cropped, e piercing no umbigo. Os saltos eram os mais altos possíveis e os olhos com o lápis mais preto que o bolso pudesse pagar. Mas, se você fosse playboy e patricinha, o look surfwear era certeiro.

Dinheirinho da Kombi lotada guardado em local estratégico e a turma saía rumo às casas noturnas da cidade. Caneco, Castelo, Tamoio ou Mauá, em algum momento todas as casas receberam o paredão de som da Furacão 2000. E era com os pelinhos arrepiados que o público assistia a ‘dança’ de luzes com a voz do Rômulo Costa anunciando a abertura do baile.

Rômulo e Priscila
Rômulo e Priscila |  Foto: Kiko Charret

Também foi nessa época — falar época já demonstra a idade desta nobre escritora que ficou arrepiada quando Rômulo Costa e Priscila Nocetti fizeram a tradicional abertura do baile ao vivo para a nossa equipe — que as histórias da Furacão 2000 e de São Gonçalo se fundiram.

Pega um suco, ou abre uma cerveja se não for trabalhar amanhã — você não tem mais 20 anos para aguentar beber e trabalhar — e relaxa, que nesse último capítulo da série “Uma História de Respeito” eu vou te contar como a história da maior equipe de som do Brasil se confunde com a história da nossa cidade, com lembranças que emocionaram até mesmo o ‘paizão’ do funk carioca.

Para contar parte dessa história, Rômulo e Priscila voltaram onde tudo começou do ‘lado de cá da poça’: no Clube Mauá. Do baile de corredor aos bailes dançantes. Dos festivais de galera aos bailes funks com mulheres estreando nos palcos. Foi no palco do Mauá que a dupla Claudinho e Buchecha foi lançada para o mundo.

Também foi no Clube Mauá que surgiu o Hino da Furacão. Lembra, né? Após a contagem regressiva anunciando o início do baile já iniciava o pancadão: “F de força, U de união, R de rainha…”. E o hit gonçalense fez tanto sucesso que atravessou barreiras e, apesar de ser a música oficial de uma equipe de som, passou a ser tocado em todos os bailes da cidade.

Imagem ilustrativa da imagem Furacão 2000: Como o funk carioca marcou São Gonçalo nos anos 90 e 2000

“A história da Furacão tem uma ligação muito grande com São Gonçalo. Foi aqui no Mauá que muita coisa começou. Quando a Furacão veio para cá, nós lançamos o Claudinho e Buchecha, ajudamos na construção da quadra do clube, nós mostramos que o funk poderia chegar a qualquer lugar. São Gonçalo faz parte da história da Furacão”, relembrou Rômulo.

A Furacão já abria portas para o funk e brilhava em São Gonçalo desde os anos 80. Mas, seguindo com nosso foco em explicar para a geração Z porque os integrantes das gerações X e Y viveram o melhor período de noitadas em São Gonçalo, vamos recordar aqui.

Imagem ilustrativa da imagem Furacão 2000: Como o funk carioca marcou São Gonçalo nos anos 90 e 2000

A Furacão elevou a qualidade do som dos bailes e promovia a rivalidade. Mas, não a que vocês da geração Z estão pensando. A Furacão desafiava seus rivais no paredão de som.

Era equipe Furacão contra a equipe Castelo das Pedras, por exemplo. Quem ganhava? O jovem que estava lá curtindo tudo e requebrando até o chão. Aliás, como rebolávamos (ops, os mais velhos, claro), né?

Duvida, jovem? É só buscar pelos programas da Furacão, que eram filmados durante os bailes e divulgados na TV aberta. Sim, os millennials almoçavam assistindo Furacão e se procurando nas imagens.

Mas, se o Rômulo enfrentou dificuldades para desmarginalizar o funk, a Priscila enfrentou o período onde foi necessário desobjetivar as mulheres do funk.

“Eu sou privilegiada, pois muitas portas já tinham sido abertas, mas como mulher, eu enfrentei as dificuldades, precisei conquistar meu espaço e hoje ver as pessoas falando sobre o funk como um movimento cultural, uma coisa reconhecida, é maravilhoso. Estou na Furacão há vinte anos e já revelamos muito talento, mas tem muito talento para ser descoberto ainda. Tem muita gente boa por aí! O funk ainda precisa subir muitos degraus e a Furacão subirá junto, pois ela nunca acabou! ”, afirmou a primeira dama do funk.

E enquanto as mulheres ocupavam espaços e eram reconhecidas, o funk, junto com a Furacão, com a Pippo's, com o DJ Malboro, DJ Cabide, Cidinho e Doca, Bonde do Tigrão, Mc Marcinho, MC Cacau, Mister Catra, MC Cátia e tantos outros, levaram o funk para lugares inimagináveis.

E em São Gonçalo não foi diferente. Se no início dos anos 90, os bailes eram com brigas e considerados locais perigosos, no final da década e ao longo dos anos 2000 o funk não tinha mais barreiras. Pobre e rico dançavam ao som do pancadão. Na TV, em horário nobre, Xuxa e Luciano Hulk levavam para seus palcos o ritmo carioca.

E foi aí que a Furacão chegou ao Caneco 90. Noitadinha menor, com cara de requintada para a época, e com paredão de som. Era quando a vinheta soltava “Noventa graus disco dance, a melhor danceteria de São Gonçalo”, que você jovem senhora que agora vigia preço do filé de frango, soltava um grito, levantava as mãos e esperava o som rolar, sem saber se viria uma lambaeróbica ou pancadão da Furacão ou um pseudo galã de Malhação. Ali abrigava todos os gostos num palco só.

Ok, Zs, Malhação era a melhor novela teen da época e os gatinhos e gatinhas, atores recém lançados, iam nas noitadas só para dar oi. Confesso que isso poderia ser cortado das nossas memórias, afinal era bem sem lógica, mas… todo mundo erra!

Não, não precisa ter vergonha se você, jovem senhor, subiu ao palco nas competições de quem conseguia dançar o Créu na velocidade cinco ou rebolar junto com Serginho e Lacraia. Mas, quando quiser rir dos seus filhos fazendo passos pro tiktok lembre-se que seu passado te condena, tá. O meu não, pois eu nunca frequentei esses lugares (RISOS).

E aí, depois de relembrar isso tudo vem o teste para saber se sua memória ainda tá boa ou se os combos de vodka duvidosa e energético já estão corroendo tudo, como os mais velhos diziam: É noite de sábado, grades vermelhas, cerveja mais barata no bar da esquina e pouco depois da meia noite o DJ anuncia: “ Prepare-se! Vai começar o melhor baile da cidade….” todos os caminhos te levaram para?

Ponto para quem completou em alto e bom tom: Castelo das Pedras.

Agora para de pensar nos cheiros do cigarro de baile, com chiclete de canela e perfume amadeirado que tomavam conta dos ambientes e vão conferir o encarte do jornal, porque tudo no mercado está caríssimo e agora a gente entende porque aproveitar promoção é fundamental.


Capítulos anteriores:

Festas icônicas nos anos 90 e 2000? Embarque nessa 'viagem no tempo' na nova série do OSG

Antes do instagram: como o Partiu.com marcou as noitadas de São Gonçalo nos anos 2000


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